Saída da multinacional Olam do negócio da castanha de caju em Moçambique e os ataques terroristas na província de Cabo Delgado, uma das produtoras, podem retirar o país da lista dos dez maiores produtores da castanha de caju e o quarto maior processador a nível mundial.
O alerta é do economista Constantino Marrengula. Contactado pelo jornal “O País” para falar do impacto da decisão da firma, o também docente universitário lembrou que a castanha de caju é uma cultura estratégica para a economia por ocupar mais de um milhão de famílias rurais.
Tal população está concentrada nas regiões norte e centro do país, onde há maior incidência da pobreza. Na balança de pagamento, sublinha Marrengula, a castanha de caju é o 11º produto de exportação. “O anúncio constitui um retrocesso para os rendimentos das famílias”, conclui.
É também um recuo para o nível de emprego, finanças públicas, exportações e capacidades industriais, acrescenta o economista para depois explicar que o anúncio da Olam reforça a tendência de longo prazo de perda de capacidade produtiva de uma área vital para a economia.
“Este posicionamento coloca o sector entre as poucas áreas da economia que posicionam Moçambique como importante actor num dos mercados com perspectivas de longo prazo promissoras, com aumentos previstos de consumo em países como a China”, disse Marrengula.
Na lista dos elementos de risco, o economista destaca ainda os eventos climáticos severos como por exemplo, para o ciclone Dineo, Idai e Kenneth que assolaram as principais regiões de produção da castanha de caju, nomeadamente, províncias de Nampula, Zambézia, Inhambane.
De acordo com o relatório sobre competitividade da indústria de caju elaborado pela Incaju em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento de Junho de 2020, citado por Marrengula, das 26 empresas existentes, apenas 11 encontravam-se em operação, cerca de 40%.
“Dados da Associação dos Industriais de Caju indicam que pelo menos uma empresa fechou em 2020 como consequência da quebra da logística de exportações devido à pandemia da COVID-19, o encarecimento do preço da castanha de caju bruta e queda do preço da amêndoa”, disse.
Entre 2017-2020, a taxa de crescimento da produção da castanha variou entre 0.7% e 2.3%, revela o economista e docente universitário. No seu entender, é difícil prever o que vai ser do sector no futuro.
“Tomando como referência o anúncio da Olam e a actual realidade do sector, pode-se admitir que o país não vai tirar vantagem deste cenário. Pelo contrário, corre o risco de perder a sua posição no ranking dos maiores produtores e processadores da castanha de caju”, defendeu.
Marrengula fez saber ainda que nos últimos três anos, os preços da castanha bruta e da processada caíram em conjunto, mas com tendência a aproximarem-se, reduzindo a margem para os processadores.
No entender do economista, com o cenário que acabou de descrever, “ganham os intermediários com possibilidade de comercializar a castanha bruta em mercados que pagam mais como a Índia e a Tanzânia. Passa a compensar exportar a pouca castanha disponível em bruto”.
“A Índia, principal concorrente de Moçambique, agravou as suas medidas protecionistas e de apoio à sua indústria, o que veio a favorecer as exportações da castanha bruta de Moçambique”, evidencia o economista e docente universitário.
No entanto, o economista considera que, “sem ser o fazedor do preço, Moçambique poderá manter a relevância estratégica do sector, intervindo do lado dos custos, para minimiza-los, ao mesmo tempo que reformula sua estratégia de marketing e procura de mercados alternativos, conforme sugeriu o próprio INCAJU na ocasião do lançamento do relatório da competividade”.