A crise económica agravada pela tensão pós-eleitoral colocou muitas pequenas e médias empresas moçambicanas à beira do colapso. A incerteza, a queda no consumo e as dificuldades de acesso a crédito tornaram o ambiente de negócios ainda mais desafiador. No entanto, há uma esperança para os jovens empreendedores: os diversos fundos disponíveis para apoiar a recuperação das empresas. Mas a grande questão é – estarão todos preparados para aceder a esse financiamento?
Foi essa a reflexão que dominou a cerimónia de implantação da Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE) em Inhambane, um momento que reuniu empresários locais para discutir os desafios e oportunidades do sector. Lineu Candieiro, presidente da associação, foi categórico ao afirmar que, sem conformidade legal, muitas empresas continuarão de fora das oportunidades de financiamento.
“O acesso aos fundos não é automático. Os empresários precisam de estar regularizados, ter uma estrutura organizada, cumprir as normas fiscais e apresentar um plano de negócios sustentável. O Estado e as instituições financeiras querem garantir que o dinheiro investido realmente terá um impacto e não será apenas um alívio momentâneo”, frisou Candieiro, destacando a importância da formalização.
Para muitos empresários, a burocracia é um obstáculo. A falta de documentação, o desconhecimento sobre as exigências legais e as dificuldades para cumprir com as obrigações fiscais afastam muitos jovens da possibilidade de aceder a fundos de apoio. Candieiro defende que a formalização deve ser vista como um investimento e não como um fardo, pois além do financiamento, abre portas para novas oportunidades de crescimento, parcerias e participação em concursos públicos.
Por sua vez, a delegada da ANJE em Inhambane, Fatália Gulele, destacou que o apoio financeiro, por si só, não é suficiente. Segundo ela, muitos empreendedores conseguem captar fundos, mas acabam por fracassar por não saberem gerir o dinheiro. “O que temos visto são casos de empresários que recebem financiamento, mas que, por falta de conhecimento em gestão financeira, rapidamente entram em dificuldades e não conseguem honrar os compromissos”, explicou.
Com esse cenário em mente, Fatália anunciou que a ANJE vai promover iniciativas de treinamento e suporte técnico para capacitar os jovens empreendedores, garantindo que eles saibam gerir os recursos de forma eficiente e sustentável. “Queremos que os jovens empresários de Inhambane tenham conhecimento das ferramentas necessárias para gerir os seus negócios com responsabilidade, garantindo que o financiamento recebido gere crescimento real e duradouro”, destacou.
A delegada enfatizou ainda que a associação trabalhará para criar um ecossistema de negócios mais sólido, onde os empresários possam trocar experiências, criar redes de apoio e fortalecer o ambiente empreendedor da região. “A formalização e a capacitação são dois pilares fundamentais. Não basta apenas ter acesso ao dinheiro, é preciso saber usá-lo de forma estratégica para garantir que o negócio prospere”, afirmou.
A chegada da ANJE a Inhambane representa uma esperança para muitos jovens que tentam consolidar os seus negócios. A expectativa é que, com o apoio da associação, mais empresários consigam superar os desafios e aproveitar as oportunidades disponíveis, tornando-se parte ativa na recuperação económica da província. Com um mercado cada vez mais exigente e competitivo, a aposta na qualificação e na conformidade legal pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso dos pequenos negócios.
A cerimónia de implantação da associação foi marcada por um clima de otimismo, mas também de realismo. O caminho para a estabilidade financeira das pequenas empresas ainda é longo, mas com as ferramentas certas, muitos empreendedores poderão transformar os seus desafios em oportunidades.