Poema alusivo ao centenário
de José Craveirinha.
Há quem, um dia, acreditou que partiste
e festejou-te a morte, satanhoco!
e hoje, assim como todos dias, renasces em mim,
e já lá se vão cem anos dentro dessa renovação
a celebrar-te a vida após a vida,
porque tens uma vida onde os dias possam habitar,
a correr atrás das horas que não chegam a parar o tempo,
e tu estás cheio de tempo
e o tempo é que a vida,
em ti habita toda a habilidade de continuar vivo,
um poeta é uma palavra que se repete
e a repetir-se invoca os sentimentos do poeta que é,
os mortos não têm sentimentos
nem gritos, e tu gritas, ó soba!
pelo preço do pão e do “my love”,
pelas portagens portadoras de ódio,
aos asnos de balalaicas a casacos azul-marinho,
ao amargo preço do açúcar,
pelas doces tangerinas de Inhambane,
transformadas em limão em cabo delgado,
pelas tâmaras azedas de Beirute servidas na Ucrânia
em xaria dentro do uniforme da ilusão
e por toda esta passividade animal,
amordaçada dentro do silêncio diário
e nisso estás vivo, siavuma!
oficializado dentro dos que se ressente da vida,
enraizadas nos jacarandás dessas ruas
que sentem saudades da cidade,
a cidade escondida na lembrança de todos,
regada à jato ao ralhar da urina,
será essa a nossa sina?
confesso-te, azampunguanas tomaram o poder,
e são vários, metidos à gente, conspurcados,
nos excrementos exibidos em horário nobre,
diz-me tu, herói nacional,
que excelência tem um batedor de carteiras?
imagine os batedores da esperança de um povo?
mas é assim mesmo o futuro melhor?
que força, qual mudança?
e quando é que tudo isso vai dar certo?
Quantos mandatos são precisos para atingir o cume da indigência?
Dentro dos braços cruzados do olhar impávido dos vermes
e vejo-os no rodízio do medo
onde os homens do xtike falam mais alto,
mas, alto aí…
eternamente não, patrão!