O País – A verdade como notícia

Por: Zaiby Manasse

 

Acabei o livro com ansiedade porque queria partilhar com alguma urgência o que achei do livro. Temo que nesta coisa de correr mais do que minhas pernas possa deixar algum detalhe passar ou me entusiasmar com as minhas conclusões sobre o livro. É a primeira vez que a leio e confesso que foi com medo que iniciei, nós, novos escritores, às vezes nos perdemos em nossas próprias ilusões e escrevemos sem perceber muito bem o que estamos a escrever e nem para quem escrevemos.

Kaya M., neste livro, parece já ter nascido madura, saber o que faz e para onde vai. O livro é um retrato clássico de uma história de amor digna de um filme bem dirigido da Fox Life.

Iniciei a leitura e logo de cara conclui que o livro seria previsível, já sabia como ia terminar e não foi diferente. O incrível de tudo isso é que o livro terminou como achei que ia terminar, mas o caminho para chegar lá não parou de me surpreender. Algumas vezes tive de parar de ler o livro para respirar porque fui apanhado na contra mão. Ela, Kaya, parece que sabia onde mudar o rumo da coisa para nos levar ao mesmo sítio que pensamos ao ler uma passagem.

Kaya conseguiu me levar para cada cenário descrito, fez-me sentir cada paulada, cada beijo, cada abraço, cada momento, cada tiro, cada ilusão, cada olhar, foi uma viagem intensa de uma história que eu assumi como minha, como nossa, como do mundo, uma história que cada um devia viver. Fez-me amar os protagonistas e odiar os vilões, como mandam as regras. Fez-me rir, chorar, acreditar. Fez-me ter pena. Fez-me sentir a escrita e desenhar os meus cenários.

A forma como o livro é escrito está quase fadado a tornar-se chata, mas Kaya fez alguma coisa com essa forma de contar na primeira pessoa que deixou o livro leve. A vontade que dá é de nunca parar de ler. Corria para chegar e ficava triste quando abria uma página porque sabia que estava mais perto de terminar o livro e terminar um livro é sempre um parto difícil, principalmente quando o livro é bom.

Os últimos capítulos do livro são os mais intensos, como se ela, enquanto escrevia, tivesse arregaçado as mangas e dissesse – deixa-me mostrar-vos como se faz um coração parar de bater.

Tenho certeza que no final do ano este livro estará nos meus livros favoritos lidos em 2024. Anima-me saber que temos escritores da qualidade de Kaya, mas ao mesmo tempo fico desanimado porque sei que o facto da escrita dela ser leve, provavelmente os “donos” da literatura tirem todo mérito que ela merece.

Recomendo o livro. Principalmente para quem gosta de livros onde a magia do amor é levada a sério. Onde o amor é o combustível para tudo. Que o amor seja sempre tanto e que tanto amor seja sempre saudável.

O filho de Ema é o título do livro da autoria de Ema Pascoal que será lançado na próxima sexta-feira, a partir das 17 horas, no Centro de Línguas da Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo).

De acordo com uma nota de imprensa, O filho de Ema é uma história de resiliência na adaptação à doença crónica renal. Trata-se de um livro que conta experiências reais da vida da autora, a ser lançado no dia.

Em O filho de Ema, a autora retrata as suas vivências perante a condição crónica do seu filho, as mudanças, adaptações e privações a que esteve sujeita, tudo pela felicidade do seu filho.

A apresentação da obra estará a cargo da locutora Julieta Mussanhane.

Ema Lucília Pascoal, de 54 anos, nasceu em Março de 1969, na Cidade de Chimoio (então Vila Pery). Licenciada em Contabilidade e Auditoria pela Universidade A Politécnica de Moçambique, reformada desde 2022 de uma carreira bancária de 30 anos. Reside actualmente em Portugal (Coimbra), desde Janeiro de 2016, movida pela doença do Emson que dá origem e título à presente obra.

O Instituto das Indústrias Culturais e Criativas (INICC) vai, esta semana, debater sobre questões ligadas ao livro e aos direitos autorais em Moçambique. Em duas mesas redondas, o INICC vai juntar diferentes personalidades que actuam no mercado livreiro.

Ambas as mesas redondas estão marcadas para o Centro Cultural Moçambique-China, na Cidade de Maputo. A primeira mesa o debate será sobre a “Indústria do livro e acessibilidade”, partindo-se de que o acesso ao livro em Moçambique ainda é um privilégio, isto porque nem todos têm condições para a sua aquisição e acessibilidade.

“A cadeia de valor da indústria do livro em Moçambique, ainda não está devidamente composta no país, sendo esta é uma das causas do fraco acesso ao livro. É nesta senda que o painel irá discutir todos estes desafios, com enfoque igualmente para o acesso por parte de pessoas com deficiência visual, pois Moçambique é signatário do tratado de Marraquexe. E este estabelece, entre outras matérias, a disponibilidade das obras bibliográficas para pessoas com deficiência visual”, lê-se na nota de imprensa referente à sessão que vai acontecer esta terça-feira, às 10h 30min.

A segunda sessão referente ao Dia Mundial do Livro será subordinada ao tema “Gestão dos Direitos de Autor”. O tema Direitos de Autor é pertinente, defende a organização, devido à crescente importância dos direitos de autor nas áreas sócio cultural e económica. “É nestes termos que este painel tem como propósito discutir a situação actual da gestão dos Direitos de Autor, que tipo de gestão se torna eficaz para o nosso sistema, vantagens e desvantagens dos sistemas de gestão dos direitos de autor”

A segunda mesa vai acontecer às 12h30 desta terça-feira, sempre no Centro Cultural Moçambique –China.

Entre os oradores convidados para as duas mesas redondas constam a editora Sandra Tamele, os músicos José Manuel (Jomalu) e Isáu Meneses, o escritor Carlos Paradona

 

Antes de mais nada, gostaria de expressar minha profunda gratidão a todos que estão aqui connosco hoje, assim como àqueles que, mesmo ausentes, partilham este momento connosco em espírito. Quero agradecer à Alcance Editores por mais uma vez apostar em meus escritos e por publicar meu livro. Um agradecimento especial à minha família por sua paciência, aos amigos que têm ouvido minhas divagações incessantes, aos apresentadores desta obra, cuja sabedoria e ilustre presença engrandecem este evento, e ao Nedbank por nos ceder este espaço acolhedor. Gostaria de aproveitar este momento para incentivar o Nedbank a continuar apoiando as artes, lembrando que há um vazio a ser preenchido desde que um concorrente patrocinava o maior prémio literário anual de nossa literatura, um prémio que infelizmente já não existe. Acredito firmemente que o Nedbank tem o potencial de ocupar esse espaço de maneira exemplar e louvável.

Quero dedicar um momento para honrar a memória do grande poeta Eduardo White, que nos deixou há dez anos, mas cujo legado continua a inspirar não apenas a mim, mas a toda uma geração de escritores moçambicanos. Sua influência e mentoria foram fundamentais para que muitos de nós estivéssemos aqui hoje. Uma salva de palmas para ele, por sua contribuição inestimável à literatura moçambicana.

Não posso deixar de expressar minha gratidão pelo generoso prefácio de Nelson Saúte, uma figura proeminente da nossa literatura, cujo incansável altruísmo e dedicação à preservação da memória das artes moçambicanas são admiráveis. Meu abraço também vai para Marcelo Panguana, um amigo e escritor cuja simplicidade e autenticidade são inspiradoras, e para António Cabrita, que constantemente me apresenta novos e variados autores, enriquecendo a minha compreensão da poesia mundial. Estendo meus agradecimentos a Matteo, Mário Secca. Ao Manuel Jesus, amigo incondicional de todas as horas, ao Moya pelos motivos para sorrir, ao Eric que me tornou pai e àJéssica por permitir ter alguém com que durma no escuro. Aos meus pais e também aos colegas, por seu apoio constante ao longo desta jornada. Um agradecimento especial também aoFélix Mula por ceder a imagem que adorna a capa do livro e aoMauro Pinto, cuja fotografia serve de inspiração para mim.

O que nos une hoje é este exemplar encadernado que chamamos de livro, intitulado “Criação do Fogo”. Por que “Criação do Fogo”? Este título encapsula o ideal de criação presente no texto inaugural “Placenta”. Nele, abordo não apenas a criação do outro, do ser humano que se reflecte em nós, mas também a criação literária, o acto de escrever e transmitir uma mensagem. Além disso, o título evoca a dualidade do fogo, o seu poder tanto criador quanto destruidor. Reflecte sobre a guerra, especialmente a vivida em Cabo Delgado e em outras partes do mundo, assim como as batalhas diárias que enfrentamos em busca de dignidade, segurança e justiça social.

Após a publicação dos meus dois primeiros livros e a conquista do prémio literário em 2019, senti a necessidade de explorar uma poesia que fosse além dos estilos anteriores. Percebia nessa altura que a poesia moçambicana estava estagnada em um ciclo repetitivo e pouco criativo, e decidi buscar para mim novos caminhos que me afastassem do que já havia criado até então. Para além disso havia-me degastado física e psicologicamentecom a escrita dos primeiros livros, pois foram livros construídos muito à custa da minha própria felicidade. Calhou por bem uma conversa curta, mas memorável que tive com o poeta Armando Artur, que me disse que era possível escrever livros feliz, confesso que até então, apenas a tristeza me servia de musa. Isso desencadeou uma jornada de autoconhecimento e renovação criativa, levando-me a explorar novas temáticas e técnicas criativas.

Durante esse período, casei-me, tornei-me pai novamente, explorei novos horizontes e vivi experiências enriquecedoras. Busquei inspiração em diversas fontes, desde a música de Bob Marley, Chico Buarque, Chico António, Djavan, Pedro Langa e Zeca Alage, Zena Bacar, Fany Mpfumo, Nas, Racionais Mcs, Baco, Djonga, Rincon, Milton Nacimento e o Clube de Esquina, MF Doom, Arthur Verocai, Fausto, Teresa Salgueiro, Toni Django, as flautas terapêuticas da Arménia, a lira de SoniaDjobarté, a música congolesa dos anos 70, o jazz sul-africano, a persistência de Adam Zagaiewsky, Wislawa Szimborka, Al Berto, Rui Belo. Minhas viagens a Lisboa, Porto, Algarve e Braga abriram portas para oportunidades de internacionalização e colaborações artísticas. Fui traduzido oficialmente pela primeira vez e o meu tradutor ganhou o prémio principal do Stephen Spender de Tradução, com um texto traduzido do meu livro Animais do ocaso. Todo esse processo de crescimento e aprendizado se reflecte em “Criação do Fogo”.

Este livro é uma expressão das minhas paixões e convicções, uma fusão de experiências pessoais, observações sociais e reflexões sobre o mundo ao nosso redor. Portanto, o amor, a morte, a fome, a doença, o abandono, a guerra, a corrupção, o medo, a noite, o emprego precário, o viver com pouco, o sentir-se frágil, o não desistir estão dentro desta criação do fogo como estão dentro de nós. A minha paixão pelo experimentalismo, pelo surreal, pela imagem, pela imersão na pintura, na fotografia, no desenho, no teatro, na música e no quotidiano das relações humanas é a minha grande motivação e ao mesmo tempo a minha técnica.

Embora este seja meu quinto livro sinto-o como se fosse o primeiro, uma porta de entrada, uma possibilidade de crescimento e a esperança de que pelo menos mais um seguirá. Acredito na importância da poesia como uma ferramenta de transformação e resistência, e pretendo continuar a contribuirpara o enriquecimento da literatura moçambicana e para o diálogo cultural global. Espero que “Criação do Fogo” não apenas inspire, mas também provoque reflexões e questionamentos em quem o ler.

Em suma, este livro é o resultado de uma jornada pessoal e criativa, uma expressão autêntica de minhas experiências e visões de mundo. Agradeço a todos que tornaram possível a sua realização e espero que ele encontre eco nos corações e mentes dos leitores. Obrigado.

 

Para comemorar o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, a Livraria Fundza vai realizar, de 23 a 26, na Cidade da Beira, uma feira do livro. O evento inclui diversas actividades, com destaque para lançamentos e exposições de livros, conversas com escritores e sessões de autógrafos.

A nota de imprensa da Fundza avança que as comemorações arrancam às 9h do 23, na Escola Secundária Mateus Sansão Mutemba, com o lançamento do projecto Livro em Movimento, no qual todos os leitores poderão fazer troca de livros.

No mesmo dia, às 10h, os alunos da Escola Privada Luz do Futuro terão a oportunidade de fazer uma visita à Livraria Fundza. A partir das 18 horas, no mesmo local, vai decorrer uma conversa subordinada ao tema “Promoção do livro em Moçambique: limites e possibilidades”. Fernando Chicumule, Belmiro Adamugy e Pedro Fote são os convidados para debater o tema.

No segundo dia, 24 de Abril, às 9h, os escritores Diogo Vaz e Whaskety Fernando estarão à conversa com alunos da Escola Secundária da Ponta-Gêa.

No dia seguinte, no Centro Cultural Português da Beira, a partir das 18 horas, o advogado Augusto Macedo Pinto vai lançar o livro “Beira, a origem do fim”, no qual o autor defende a tese de que a Revolução de 25 de Abril de 1974, que marca o início da vida democrática em Portugal, pondo termo ao regime autoritário do Estado Novo abrindo caminho para a resolução do problema da guerra colonial, terá começado na Cidade da Beira.

Às 9h do dia 26 de Abril, os alunos da Escola Primária Completa de Macurungo vão receber os escritores David Melar e Pe. Alberto Luís Matimbire para uma conversa sobre livros e leituras.

É abril, Roberto Chichorro celebra 60 anos de carreira e aos olhos de Naguib, este renomado artista plástico que levou Moçambique além fronteiras, não é devidamente valorizado no seu próprio país.

Contrariamente ao pensamento que paira entre os artistas de que “arte não tem explicação”, passam-se 60 anos desde que através do seu píncel, Chichoro descobriu que aliar cor à beleza e à suavidade explica na plenitude as suas emoções.

Para comemorar, de Portugal, Chichoro decidiu enviar a sua terra natal, uma coletânea de quadros que resumem seu percurso artistico e a beleza do país, uma vez que as suas principais mensagens reflectem o carisma da mulher moçambicana.

O gesto foi elogiado por muitos, incluindo apreciadores d’arte, críticos, artistas e colegas. Aliás, nestes últimos em que cabe o artista Naguib, seu amigo pessoal, primeiro, o enalteceu e o comparou aos por si considerados embondeiros, os também renomados artistas plásticos: Malangatana Valente Nguenha e  Bertina Lopes, uma italiana que nasceu em Moçambique.

Na mesma energia, o também artista Jorge Dias não poupou elogios e referiu as qualidades que diferenciam as obras do Chichoro dos demais “Chichoro não tem interesse nenhum em pintar costelas à mostra de uma criança ou esta criança com um prato de comida vazio, ele tem interesse em pintar uma criança que transmite alguma alegria, então ele é um pintor que se destaca ao fazer exactamente o oposto do que os outros fazem”, disse.

Fora os elogios, Naguib também lamentou e críticou a pouca valorização de Chichoro, ao que questionou, “por quê Chichoro manda uma dúzia de quadros para sua terra mãe e a Autoridade Tributária pega estes mesmos quadros e triplica o seu valor de vendas?, estes quadros são património nacional, nem deviam sair daqui”, questionou.

Em adição, Naguib denunciou aplicacação de taxas “injustas” pela Autorirade Tributária, “taxam-lhe imposto disto e imposto daquilo, de forma que é inviável vender estes quadros, ninguém vai comprar estas obras, até ao momento apenas uma foi comprada. A AT amputou-lhe as pernas com esses impostos”, criticou.

Exposição: Sonhos alados em azul com pássaros

A Fundação Fernando Leite Couto na cidade de Maputo, local que recebeu as 12 obras para a exposição alusiva aos 60 anos de carreira de Roberto Chichoro, através da curadora Maria Elisa, teceu agradecimentos e ao mesmo tempo, por se comemorar o mês da mulher apelou continuidade do legado de Chichoro.

O vice-ministro da Cultura e Turismo, Fredson Bacar, concordou que é inquestionável o contributo de Chichorro na cultura e na sociedade Moçambicana, também, reiterou o apelo a garantia da continuidade da “marca e identidade cultural” que Chichoro transmite.

Com 83 anos de idade, Chichorro continua sua jornada em Portugal, de onde  enviou as obras que estão em exposição até 3 de Maio próximo.

A terceira edição do Festival de Teatro Cenas Curtas vai realiza-se nos dias 26, 27 e 28 deste mês de Abril. Logo no dia inaugural, o evento vai decorrer na Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo, a partir das 18 horas, numa conversa com o gestor de projectos culturais Pablo Ribeiro e com os actores Yuck Miranda, Maria Clotilde e Rita Couto.

Subordinada ao tema “Criação e produção nas artes performativas: desafios das limitações vs. recursos”, a sessão estará aberta aos actores, encenadores e apreciadores das artes em geral, no que se supõe ser uma tentativa de busca de respostas para as questões essenciais que afectam o sector teatral e artístico em Moçambique.

No segundo dia, 27 de Abril, às 18h30, a terceira edição do Festival de Teatro Cenas vai ao Centro Cultural Sabura, igualmente na Cidade de Maputo, apresentar o que a organização designa como uma maratona de performances, com um poema de Fernando Leite Couto, uma caneta e um par de botas como adereços.

A terceira edição do Festival de Teatro Cenas vai terminar no dia 28, com curtas de improviso a realizarem na Fundação Fernando Leite Couto, a partir das 17 horas, e com dinamização da actriz e encenadora Maria Atália.

O autor Amílcar Armando Rajá vai lançar o livro de narrativas “A intimidade das sementes”, que é uma colectânea de prosa que compreende 10 microcontos e sete contos.

Na nota da gala-gala, que edita o livro, trata-se de narrativas em que Rajá aborda diferentes temáticas e passeia por diversos cenários, transportando os leitores para mundos imaginários, mas de personagens comuns. Para Daniel Mabjaia, que prefacia o livro, “as características desta obra são, de per si, multifacetadas”, e completa, “aqui, dramas de vidas e vivências são descritos com o intuito de encantar. São estórias que se confundem com histórias”.

O lançamento oficial está marcado para o dia 26 de Abril, na Mediateca do BCI, na Cidade de Nampula. A apresentação do livro estará a cargo de AC Guimarães.

O livro de 90 páginas inaugura a colecção “Out of the box” da Gala-Gala Edições. O evento é aberto ao público. Haverá ainda uma sessão de venda de livros e autógrafos, proporcionando aos leitores a oportunidade de interagir directamente com o autor.

Armindo Armando Rajá nasceu em 1997, na província de Nampula. O seu primeiro contacto com as letras ocorreu na disciplina de Português, no 12º ano, na Escola Secundária de Nampula. Teve uma menção honrosa no Concurso Literário Um Hino ao Império Brasileiro, com o texto “A poderosa voz do escravo”. A sua inspiração para escrever provém da beleza da natureza e pelo facto de saber que “a existência humana é a essência de toda beleza”.

Pelo terceiro ano consecutivo, o Centro Cultural M-Bassline, na Matola-Rio, acolhe o festival de jazz. Marcado para o dia 30 de Abril, data que se celebra o ritmo jazz em todo o mundo, o evento, junta os moçambicanos Neco Novellas, Deodato Siquir e Mingas, como a “madrinha” do espetáculo.

Trata-se de uma noite singular, com um teor intimista, por isso o evento terá lugar no auditório do M-Bassline, contrariando os outros dois eventos que aconteceram no átrio. Para além deste pormenor, a celebração do jazz em Boane destaca artistas moçambicanos na diáspora: um na Holanda, Neco Novellas e outro na Suécia e Dinamarca, Deodato Siquir, para além da Mingas, como madrinha do evento.

O conceito “padrinho” sempre esteve presente nas edições anteriores. No primeiro ano, 2022, foi a banda Ghorwane e ano passado, 2023, coube a Wazimbo ocupar este papel. Estes artistas, com estatuto de padrinho, são os que encerram a festa, trazendo outras sonoridades e suscitando outras abordagens aos eventos.

Não será apenas uma noite de celebração do jazz moçambicano feito na diáspora, mas, acima de tudo, a celebração de dois projectos ousados, que rompem paradigmas das performances musicais.

Ora, Neco Novellas, que não actua em Moçambique há cerca de 10 anos e a sua passagem por sua terra-natal coincide com a comemoração dos seus 50 anos, traz um conceito fora do comum, com uma actuação a solo, um exercício do seu último álbum – ‘Chasing traces’ – que viaja às suas origens moçambicanas, combinando o afro-jazz e a marrabenta.

Deodato Siquir, por sua vez, propõe uma actuação que cruza os seus três álbuns, embora com principal incidência para o ‘Together’, sua última proposta discográfica, com sonoridades acústicas, mas arrojada, que leva ao palco um quarteto e três vozes.

Mingas deverá encerrar a noite com uma homenagem ao falecido músico Chico António, sua dupla de vários anos com ‘Baila Maria’, música vencedora do prémio Rádio France Internacional (RFI) em 1990, para além de estar a homenagear a mulher moçambicana no encerramento do seu mês.

Para acompanhar o festival de Jazz, uma feira do livro e do disco e artigos de artesanato.

O M-Bassline é a única instituição com cariz de centro cultural na província de Maputo, localizado na rua da Escola Primária de Djuba, na Matola-Rio. Inaugurado em 2022, o espaço fragmenta-se em quatro – um “jazz club”, um auditório, um lounge (ainda em projecção) e um átrio que acolheu as duas edições anteriores do Festival do Jazz M-Bassline.

 

NECO NOVELLAS, DEODATO SIQUIR E MINGAS: TRÊS VOZES QUE VÃO (EN)CANTAR NO DIA INTERNACIONAL DO JAZZ

Neco Novellas nasceu e cresceu em Moçambique, na tribo Chopi, famosa pela sua música timbila. Desde muito jovem esteve imerso na música, descobrir sons diferentes fez parte do seu crescimento: em casa, na escola, na igreja e na natureza. 

A sua fama e reconhecimento em Moçambique levou-o a Portugal para estudar guitarra clássica e canto e, para Holanda, onde estudou música clássica ópera no Conservatório de Música Codarts Rotterdam.

Seu estilo musical desenvolveu-se pela curiosidade pelos sons. Ele foi influenciado pela música tradicional africana local, música clássica, folk e jazz, criando, assim, o seu próprio som universal único, expressando-se através das suas línguas tribais.

Novellas produziu sete CD’s, deu concertos por toda a Europa, África e América Latina e, como se não bastasse, coopera constantemente com numerosos artistas nacionais e internacionais.

Deodato Siquir, por sua vez, nasceu em 1975, em Maputo, no seio de uma família musical. Crescendo em Maputo, aprendeu a tocar numa bateria por si construída, composta por latas, arames e plásticos, juntando-se à primeira banda Escolinha Vamos Brincar, em 1988, na Organização Continuadores da Revolução Moçambicana.

Aos 15 anos já se apresentava com orquestras profissionais e músicos internacionais visitando Moçambique.

De 1990 a 2000, em Moçambique, Siquir trabalhou como acompanhante de vários artistas, como Eloy Vasco, Stewart Sukuma, Leman Pinto e Dua Maciel. Em 1997 forma a sua primeira banda, Mozafro. Em 2001 emigrou para a Escandinávia (Suécia e Dinamarca), estabelecendo uma grande rede de colaboradores ao longo dos anos e, rapidamente, tornou-se num dos acompanhantes mais solicitados no cenário do jazz e worldmusic.

A sua carreira foi marcada pelo seu álbum de estreia, ‘Balanço’. Em 2007. Em 2011 lança o seu segundo álbum, “Mutema”. Actualmente com um novo álbum, ‘Together’, o terceiro de originais, concorrendo já para o World Music Charts Europe.

Siquir foi vencedor do Prémio Descoberta Ngoma Moçambique, em 2008, e, ao longo dos anos, na Escandinávia, colaborou com muitos artistas nacionais e internacionais e orquestras.

Elisa Domingas Salatiel Jamisse ou simplesmente Mingas teve uma educação religiosa, daí que a sua iniciação musical tenha decorrido na Igreja Metodista Unida, onde integrou os corais infantil e juvenil. Um dos exemplos disso é a criação de um trio com Safrão Navesse e Silva Zunguze, também da Igreja Metodista Unida, que interpretava canções religiosas. 

Aos 17 anos, Mingas acompanha uma amiga aos escritórios dos produtores do espectáculo “Foguetão”, dirigido por Alex Barbosa, e fica a saber que estavam à procura de uma voz. Na audição interpreta a canção “I dont know how to love him”, da trilha sonora do filme “Jesus Christ Superstar”. Tendo sido aceite, os produtores propuseram que cantasse “I Need You”, dos O’jays, no Cine Estúdio 222.

Mingas é compositora, cantora, vencedora de vários prémios e também activista na defesa dos direitos humanos. A sua integração no Grupo RM e na Orquestra Marrabenta Star de Moçambique ajudou-a a estabelecer o seu nome na arena musical do país.

Mingas realiza digressões nacionais com o grupo Hokolokwé, entre 1982 e 1983, e em 1987 faz as primeiras digressões internacionais Orquestra Marrabenta Star. No Zimbabwe, Mingas, que além de cantar era dançarina da Orquestra Marrabenta, teve a oportunidade de partilhar o palco com Miriam Makeba, Paul Simon, Harry Belafonte, Manu Dibango, Hugh Masekela, entre outros. Em 1988, no Concerto Child Survival and Development Symposium, organizado pela organização internacional Save the Children. Foi também neste país que o grupo gravou os discos ‘Independance’ e ‘Piquenique’, ambos publicados pela editora alemã Piranha, em 1989 e 1996, respectivamente.

Em 1989, Mingas passa a integrar o Grupo RM, do qual mais tarde se tornou líder. O passo foi um marco indelével na sua vida musical, passando a ganhar mais notoriedade e espaço. Com garantido sucesso no mercado interno, Mingas procurava nesta fase conquistar outras praças. O ponto de entrada foi dado pelo registo da canção “Baila Maria”, um dueto com Chico António, que, em 1990, conquistou o ‘Grand Prix Decouvertes 90’ (Grande Prémio do Concurso Descobertas), organizado pela Rádio France Internationale (RFI). O prémio foi entregue, no mesmo ano, na Guiné Conakry.

O Dia Internacional do Jazz celebra-se, este ano, com o lema “Jazz como instrumento educativo e uma força de paz, unidade, diálogo e cooperação reforçada entre as pessoas”.

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