Durante 50 minutos, oradores convidados à terceira edição do MOZEFO Young Leaders debateram sobre o tema “Voluntariado e activismo juvenil”. A contar para o segundo painel deste primeiro dia da iniciativa da Fundação SOICO, a sessão contou com a presença em estúdio de Osvaldo Mauaie, do Conselho Nacional do Voluntariado, e Benilde Mourana, activista social. Além dos dois intervenientes, igualmente, fez parte da discussão Carla Frey, activista social com experiência adquirida em Moçambique e na América Latina.
Durante as suas intervenções, em geral, os três oradores do segundo painel desta edição do MOZEFO Young Leaders mostraram-se de acordo em relação a várias questões. Por exemplo, no que se refere à necessidade de valorização do voluntário. O primeiro a intervir no painel foi Osvaldo Mauaie, quem entende que, para se exercer tal função, é fundamental haver no interessado uma combinação de paixão e amor pelo próximo. Só assim, para Mauaie, é possível o voluntario ter impacto na sociedade.
De acordo com o representante do Conselho Nacional do Voluntariado, no país existe um desafio de se compreender a importância da função de voluntário. “Muitos pensam que ser voluntário é ser desempregado, para preencher espaços. Nós podemos ser voluntários a título individual, no nosso bairro, com acções simples, mas também a nível das organizações”.
Moçambique possui cerca de 150 organizações registadas no Conselho Nacional do Voluntariado. O problema não está no interesse ou envolvimento dos jovens. Para Mauaie, o que deve acontecer é a materialização urgente do que a Lei do voluntariado prevê. Por exemplo, que toda entidade deve garantir que voluntários não usem valores do próprio bolso para exercer a actividade. “Muitas vezes, apela-se aos voluntários a participarem com os seus recursos. Temos de ver como desenvolver apoio para os voluntários. Como país, podemos fazer muito mais nesta área, de modo que se invistam nas boas acções que muitos jovens possuem sem recursos de implementar”.
Se se conseguir fazer o que a lei do voluntário prevê, adianta Mauaie, o país vai conseguir atrair mais voluntários. “Temos várias pessoas que querem se envolver e contribuir, mas a falta do básico, por exemplo, para transporte, é um entrave. Por isso, estamos a discutir com a Secretaria da Juventude e Emprego para transformar a tarefa do voluntariado em experiência profissional, pois temos muita gente competente nesta área que não é levada a sério. Aliado a isso, há um conjunto de questões de logísticas que algumas entidades ainda não percebem no que toca à comunicação, transporte, alimentação e mobilização dos jovens activistas. É preciso investir mais nos voluntariados”.
Ora, segundo defendeu Benilde Mourana, o país ainda não percebe o que é activismo social. “Para mim, o activismo é o meu trabalho. Vai além de um emprego que exerço, esperando por remuneração”. Para a activista, “Voluntariado” é um tema esquecido no país, e essa tarefa implica olhar para o próximo com empatia, altruísmo e solidariedade.
Na sua intervenção, Benilde Mourana criticou as acções egocêntricas partilhadas nas redes sociais por aqueles que se consideram voluntários ou activistas sociais. A seguir, explicou: “nós trabalhamos pelas mudanças construtivas para o país. Enquanto activista, posso ser voluntária. O activista precisa de voluntários, até porque nós não temos capacidade financeira, daí que vamos atrás de quem pode fazer um trabalho gratuitamente”.
Benilde Mourana disse que o país consegue mais voluntários estrangeiros do que moçambicanos. Geralmente, são estudantes de final de curso que vêm com alguma recomendação. “Temos de ter mais atractivos para os voluntariados. Por exemplo, os que vêm de fora têm ajuda dos seus países. Tudo o que eles vêm fazer cá, é aproveitado lá fora e tem relevância. Se calhar, nós não sabemos como valorizar o voluntariado. Por exemplo, o dia do Idai, 14 de Março, podemos o transformar em dia do voluntariado, para ensinar as crianças e a sociedade o seu valor. Nesse dia, podíamos ir à rua, sem necessidade de importarmos datas desse tipo. Nunca teremos datas como Idai no que diz respeito ao amor ao próximo, com uma onda de solidariedade notável. Se não capitalizarmos isso, vamos continuar a receber pessoas voluntárias que vêm buscar experiência que contribuem para o desenvolvimento dos seus países”.
A activista reiterou a necessidade de as escolas terem um dia de voluntariado, para mostrar as crianças a importância da actividade. O mesmo nos bairros. Depois, rematou: “As acções do voluntariado devem contar para o CV, e devemos pensar no voluntariado além do factor religioso e político. Temos de olhar para acção e não para as cores do partido ou para fé”.
A terceira e última interveniente do painel foi Carla Frey, activista social com experiência em Moçambique e na América Latina. À imagem do que afirmou Benilde Mourana, Carla Frey realçou que no país se trabalha mais com voluntários estrangeiros, que vêm com segurança e com condições de trabalho na causa social, como na área da saúde ou da agricultura. “Os que vêm estão protegidos pelo governo que lhes traz”, afirmou.
Embora reconheça que muitos vêm de boa-fé, a activista social chamou atenção para uma minoria que entra no país com outras intenções. Por isso, alertou para o perigo aí existente.
Convergindo com os seus colegas de painel, Carla Frey sublinhou que a partir do estímulo da sociedade, o voluntario, que investe tempo e capacidade intelectual, terá um impacto em Moçambique. “Penso que não se fala muito em voluntariado, em Moçambique, pois há ainda um receio por parte dos interessados. Voluntariado é um compromisso e, assim sendo, precisamos de dar mais atenção a este termo. Outra coisa, existe voluntários moçambicanos que actuam no estrangeiro, mas, quando regressam, não são considerados com experiência profissional nessa área”. Diante de tal constrangimento, os três oradores defenderam a necessidade de investir mais no voluntariado, com acções que lhes possa atrair. Assim, acreditam, as suas obras terão o já referido impacto na vida social nacional