O sociólogo Elísio Macamo questionou, hoje, o sistema de funcionamento da navegação marítima no país e defendeu que deve haver responsabilização pelas falhas que ditaram a tragédia.
Em reacção ao naufrágio que provocou a morte de mais de 90 pessoas na Ilha de Moçambique, o sociólogo Elísio Macamo diz ser importante a identificação das falhas que terão contribuído para a tragédia, para posterior responsabilização.
“O que faz uma comunidade política é a responsabilização de quem tem a obrigação de criar condições para que certas coisas sejam feitas. Por exemplo, a navegação não ocorre num vazio jurídico, não acontece também num vazio político. Ela acontece dentro de certas regras e, obviamente, aqui, houve uma violência de regras sobre a lotação. Se houve essa violação, é, de facto, porque alguém que tinha essa responsabilidade de garantir não a cumpriu. E também podemos partir do princípio de que essa pessoa não cumpriu porque a instituição que devia garantir esse cumprimento, provavelmente, esteve ausente ou não dispõe de mecanismos bons para o efeito. Então, a questão da responsabilização coloca-se a este nível de que governar é assumir a responsabilidade. É com que tudo o que acontece no país é visto numa perspectiva política e não técnica”, defendeu Macamo.
O sociólogo falou ainda do silêncio do Governo, ao mais alto nível, face à tragédia que matou 98 pessoas. Para Elísio Macamo, o Governo, ao mais alto nível, já devia ter-se pronunciado sobre o caso.
“Não me surpreende, realmente, esse silêncio do nosso chefe de Estado, assim como do Governo, sobre este incidente. Já tivemos várias situações em que o Presidente da República e o Governo estiveram ausentes, num momento tão doloroso e grave. Para mim, governar é, essencialmente, assumir responsabilidade. Há que se mudar de paradigma – deixar-se de procurar culpado por parte de quem exerce o poder político”, acrescentou o sociólogo.
Em representação do Governo, o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, está em Nampula desde cerca das 16h para se inteirar da tragédia.