O vice-presidente da CNE, Fernando Mazanga, afirma ter suspendido o processo criminal sobre a ameaça de morte feita pelo vogal da instituição, Daud Ibramogy.
Mazanga diz-se, entretanto, preocupado porque a CNE terá enviado editais ao Conselho Constitucional sem o conhecimento e deliberação de todos os membros do órgão e pede que os documentos não sejam considerados.
A ameaça de morte contra o vice-presidente da Comissão Nacional de Eleições foi feita no decurso de uma plenária extraordinária, uma reunião que visava a aprovação dos presidentes das comissões distritais de eleições, no dia 09 de Novembro.
Naquela sessão, Daud Ibramogy terá acusado Mazanga de prejudicá-lo, com suas intervenções perante a media e ameaçou matar o vice-presidente da CNE.
“Ele exaltou-se, disse o senhor prejudica com as suas afirmações. Eu estou prejudicado, se tivesse uma pistola, dava-lhe um tiro, pena que eu não seja assassino. Mas vais morrer, eu conheço a sua casa, hei-ir lá”, contou Fernando Mazanga.
No mesmo dia, Daud Ibramogy ter-se-ia arrependido, mas, em vez de ligar a Mazanga, para pedir desculpas, contactou o bispo Dom Carlos Matsinhe, presidente da CNE, para o fazer em seu nome. Matsinhe sugeriu um encontro entre Mazanga e Daud, sob mediação de Carlos Matsinhe, onde Daud iria pedir desculpas. O encontro ficou agendado para segunda, 13 de Novembro, mas Daud Ibramogy não compareceu.
Confrontado com a situação, Fernando Mazanga decidiu comunicar o facto à família e ao seu partido, a Renamo, bem como participar a ocorrência à segunda esquadra da Cidade de Maputo e depois oficializar a queixa na Procuradoria-Geral da República, o que não aconteceu, porque o presidente da CNE ligou a Mazanga para informar que Ibramogy já estava disponível.
“Tivemos uma sessão plenária e ele pediu um ponto prévio. Apresentou a questão e pediu desculpas. Segundo ele, não sabe o que o terá motivado a dizer aquelas palavras”, esclareceu Mazanga.
O jornal O País contactou o vogal da CNE, Daud Ibramogy, para, entre outras questões, confirmar se terá sido expulso da mesquita que dirigia, no bairro do Aeroporto, por ter votado a favor dos resultados das eleições. Mesmo sem aceitar gravar entrevista, Ibramogy desmentiu o seu afastamento da congregação.
Fernando Mazanga denuncia envio secreto de actas e editais à CC
Na mesma entrevista, Mazanga denunciou que a CNE tem estado a enviar editais ao Conselho Constitucional, sem o conhecimento e deliberação de todos os membros do órgão.
“Do próprio distrito, de onde saem as actas, os membros indicados pela Renamo não têm conhecimento. Quero dizer que é só uma parte que faz o envio dos editais. Mais recentemente, descobrimos que há editais que foram enviados ao Conselho Constitucional sem nem mesmo o meu conhecimento, eu que sou vice-presidente. Aproveitaram-se da ausência do presidente da Comissão Nacional de Eleições, que tinha ido em missão de serviço ao Benim, para enviar secretamente este expediente”, revelou.
Lembre-se que o Conselho Constitucional solicitou editais e actas de onze municípios à Comissão Nacional de Eleições, na sequência das reclamações da Renamo, sobre alegada fraude eleitoral nas autárquicas de 11 de Outubro.
No entanto, a CNE pediu alargamento de prazo, de 24 horas para 48 horas, para entregar os documentos, uma vez que não os tem em posse. Em entrevista ao jornal O País, o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica, disse que os editais ficam sempre nos municípios.
O Conselho Constitucional aceitou o pedido da CNE para mais tempo, e concedeu mais 72 horas.
Mas também exigiu as actas das assembleias de voto e os editais de mais três distritos da Cidade de Maputo (Kamubukwana, KaTembe e KaNyaka), e mais oito municípios, nomeadamente Namaacha (Província de Maputo), Chókwè (Gaza), Homoíne (Inhambane), todos no sul; Morrumbala e Milange (Zambézia), e Moatize (Tete), no Centro; Mandimba e Insaca (Niassa), no Norte de Moçambique.
Os membros da CNE nomeados pelos partidos da oposição (Renamo e MDM) suspeitam que o tempo extra poderá ser utilizado para forjar novos editais.