Filipe Nyusi veio ontem separar as águas perante as reclamações da Renamo sobre a demora na integração de seus homens no Comando-Geral da Polícia. Três listas de antigos guerrilheiros passaram pelas mãos do Governo. A primeira foi retirada pela própria Renamo. A segunda não estava clara e dela constavam nomes dos proponentes, por isso acabou por ser retirada. A última está agora nas mãos do Governo, mas a integração de pessoas na Polícia é também um processo, que inclui formação, daí a demorada.
Na recepção oficial que Filipe Nyusi concedeu aos titulares dos órgãos de soberania e dirigentes por ocasião do término do ano 2022, Filipe Nyusi reservou parte da sua intervenção para deixar esclarecimentos sobre o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos homens da Renamo, cuja desactivação da última base estava prevista para este mês. Explica que o enquadramento destes homens na Polícia e o pagamento de pensões, que não estão no acordo escrito, não são os factores que impedem a conclusão do processo.
Além do não pagamento de subsídio de pensões aos antigos guerrilheiros da Renamo (o que não consta do acordo), uma das principais reclamações deste partido é a demora de enquadramento dos primeiros 10 homens desarmados no Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).
“Quando há quem tem que se aproveitar para poder desinformar os moçambicanos, o mundo, tenho a obrigação de trazer o que é, o que está na mesa”, justificava, Nyusi, o seu pronunciamento, para depois detalhar que “recebemos a primeira lista. Esta lista foi retirada, não por nós. Recebemos a segunda lista, não estava clara, porque vinham nomes de proponentes, que são pessoas adultas, que fazem parte de chefias. Foi retirada. Foi-nos entregue outra lista, está connosco. O treino de polícias começa em Janeiro e inicia-se com inspecções nas províncias. É bom deixarmos a Polícia trabalhar, do que desinformarmos as pessoas para criar isso como um cavado de batalha para algumas acções que não seguimos”.
Sobre o não pagamento de pensões, Nyusi explica que o processo ainda está em análise, porque os desmobilizados não fizeram nenhum desconto salarial a partir do qual se poderá tirar o subsídio e pagar aos antigos guerrilheiros, por isso “tem que se encontrar uma fórmula, que explique, que argumente, que fundamente” o pagamento do subsídio de pensão.
Nyusi fala também do terrorismo e volta a apelar aos envolvidos para abandonarem as fileiras terroristas.
Em relação à greve dos médicos, Nyusi pede que retomem as actividades. Diz que o Executivo não pretende fechar o lugar deixado pelos grevistas contratando médicos estrangeiros e apela para que não se propale este argumento, até porque pode fomentar xenofobia.
“Não vamos desinformar o povo. Estes não vêm substituir os moçambicanos. Não. Se existe moçambicano, um só especialista que está fora, pode trazer-nos o nome para imediatamente empregarmos, caso não haja outra razão que lhe coloque fora. Aos meus irmãos médicos em greve, o nosso conselho é de voltarem aos postos de trabalho”, apela.
Sobre as medidas contra a COVID-19, cuja boa parte delas deixou de ser obrigatória, Filipe Nyusi anunciou mais um relaxamento.
“O Conselho de Ministros decidiu aliviar mais uma medida, sobre a obrigatoriedade do uso de máscara a bordo de aeronaves”, anunciou, alertando para a continuidade do respeito das medidas de higiene.
O Presidente da República falou também da exploração do Gás Natural na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, lembrando que não deve impedir o investimento em outras áreas, como agricultura, pesca e turismo, para o bem da economia. Apelou também aos moçambicanos para evitarem acidentes e mortes nas estradas.
SOBRE AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO GERAL DA NAÇÃO: “CADA MOÇAMBICANO SABE COMO FOI 2022”
A terminar o seu discurso, ontem, na recepção oficial havida no palácio da Ponta Vermelha por conta do término do ano, o Presidente da República deixou um comentário sobre a situação geral da Nação, para quem esperava que Filipe Nyusi fizesse a classificação.
“Muitos compatriotas ficaram até ao último momento à espera que eu dissesse numa só frase qual seria a situação da Nação. A resposta sobre a situação da Nação, de facto, a verdadeira resposta ou frase está no coração de cada um de nós e à sua maneira. Cada um viveu o ano e sabe o que aconteceu”, argumenta, explicando que disse a verdade sobre a situação geral da Nação.