O Presidente da Guiné-Bissau deposto no golpe militar de quarta-feira, Umaro Sissoco Embaló, viajou para o Congo, depois de ter procurado inicialmente refúgio no Senegal, noticia a imprensa internacional.
Vários órgãos de comunicação social estão a noticiar que o presidente deposto na Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, já se encontra no Congo, tendo chegado à capital do país, Brazzaville, na noite de sexta-feira.
Umaro Sissoco Embaló rumou ao Congo, a bordo de um avião fretado pela presidência congolesa, segundo escreveu sábado a Jeune Afrique. A publicação recorda que Sissoco Embaló havia inicialmente buscado refúgio em Dakar, no Senegal, depois de os militares terem tomado o poder em Bissau, na quarta-feira.
A Jeune Afrique divulgou neste domingo um artigo em que o próprio Umaro Sissoco Embaló confirmava à publicação que tinha sido deposto e detido pelos militares. Neste sábado, a mesma publicação dá conta de que apurou “junto a uma fonte confiável próxima do Presidente deposto” que Embaló “deixou Dakar, Senegal, rumo ao Congo”.
A mesma informação está a ser veiculada pela SeneNews, uma publicação senegalesa, que cita o Confidentiel Afrique, um jornal digital pan-africano. O jornal escreve que “após orquestrar um golpe de Estado e negociar com alguns oficiais militares próximos, incluindo o General Horta Inta-A, o novo homem em Bissau, pouco antes do tão aguardado anúncio dos resultados das eleições gerais de 23 de Novembro, o Presidente deposto buscou refúgio na capital senegalesa na última quinta-feira”.
Entretanto, segundo o artigo, Embaló já foi para o Congo, a pedido do próprio, que terá insistido “deixar Dakar após uma noite turbulenta”. O jornal escreve que “as declarações contundentes do Primeiro-Ministro, Ousmane Sonko, perante o Parlamento senegalês, na sexta-feira, a respeito da situação política na Guiné-Bissau, que ele descreveu como ‘esquemas clandestinos’, apenas agravaram o cenário”.
Lê-se ainda que Embaló terá pedido ao Presidente congolês para o retirar do Senegal, onde estaria a enfrentar “forte pressão de todos os lados”, e informado o Presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, da decisão de sair do Senegal.
Governo de Transição
O Governo de transição da Guiné-Bissau nomeado este sábado integra seis militares titulares das pastas relacionadas com a Defesa, Ordem Pública e Saúde, segundo o decreto presidencial, a que a Lusa teve acesso.
Por decisão do Presidente da República de Transição, o general Horta Inta-A, entram para o Governo Mamasaliu Embalo, como ministro do Interior e Ordem Interna, Steve Lassana Mansaly, ministro da Defesa Nacional, Quinhin Nantote, ministro da Saúde, Salvador Soares, secretário de Estado da Ordem Pública e Carlos Mandungal, secretário de Estado dos Combatentes.
O novo ministro do Interior, Mamasaliu Embalo, era até aqui comandante do batalhão dos Comandos, Lassana Mansaly inspector-geral do Ministério da Defesa, Quinhin Nantote, director da Medicina Militar.
Líder da oposição continua detido e incontactável
O líder do maior partido da Guiné-Bissau, PAIGC, Domingos Simões Pereira, continua detido pelos militares que tomaram o poder, na quarta-feira, 26.
Temendo o pior, familiares, amigos e colegas do partido continuam sem informações sobre o paradeiro e o estado de saúde de Domingos Simões Pereira e outros membros da direcção do PAIGC. A família fez um apelo público à intervenção da comunidade internacional.
As eleições decorreram sem incidentes, mas realizaram-se sem o principal partido da oposição, o PAIGC, e sem o seu candidato, Domingos Simões Pereira, excluídos da corrida e que tinham declarado apoio ao candidato opositor Fernando Dias da Costa, líder de uma das alas do PRS, o Partido de Renovação Social, que se tinha dividido em dois blocos, um que continua fiel a Dias e outro que apoia o Presidente cessante, Umaro Sissoco Embaló.
Simões Pereira foi detido, entretanto, a oposição denuncia a tomada de poder pelos militares como uma manobra para impedir a divulgação dos resultados eleitorais. Fernando Dias reclamou vitória na primeira volta sobre Embaló, um dia depois das eleições.
A divulgação oficial dos resultados estava marcada para quinta-feira, 27 de Novembro, e um dia antes os militares tomaram o poder e anunciaram que o Presidente tinha sido deposto e detido.
Sábado, o PAIGC denunciou que um grupo de homens armados e encapuçados invadiu a sua sede em Bissau, agredindo dirigentes e colaboradores. Segundo relatos, a situação representa uma “séria ameaça” à integridade física dos seus membros e constitui “um atentado à estabilidade, à democracia e ao Estado de Direito”.
A delegação da CEDEAO, cuja chegada a Bissau estava prevista para este sábado, adiou a deslocação para hoje, segunda-feira. O país aguarda a chegada da missão de alto nível ao país, composta pelos Presidentes do Senegal, Cabo Verde e Serra Leoa e Togo, para encontrarem uma solução para a crise política que se vive no país.

