A medida foi tomada, recentemente, pela Associação das Escolas de Condução, que aponta a subida do preço do combustível e dos custos de manutenção das viaturas como uma das razões para o agravamento. O aumento das taxas é na ordem de 1200 Meticais nas classes de pesados, ligeiros e motos. Assim, uma carta de condução da classe de pesados sobe dos anteriores 10.300 para 11.500 Meticais.
Se ter um carro para um pacato cidadão já é difícil, a partir de amanhã, só para ter uma carta de condução será complicado. É que a associação decidiu aumentar as taxas cobradas para o ingresso dos candidatos e a justificação está na ponta da língua.
“Não aumentamos as taxas cobradas aos candidatos há mais de quatro anos. O custo de vida foi subindo nos últimos anos, de tal ordem que é incomportável manter os preços que vinham vigorando”, introduziu Cassamo Lalá, mandatário da associação, que depois avançou que os motivos não param por aí. “Só para dar um exemplo, um pneu de um carro ligeiro, há quatro anos, custava 2. 500 e agora custa 6. 000. Mesmo assim, tivemos o cuidado de não atingir os 12%, o aumento é de 7%, porque sabemos que é um serviço que vai ajudar o público a ter acesso à fonte de rendimento”, precisou.
HÁ ESCOLAS QUE DEVEM SALÁRIOS AOS TRABALHADORES
A nossa reportagem entrevistou Jaime Satar, proprietário de quatro escolas de condução, que avançou que a COVID-19 causou e continua a causar prejuízos. “Lamentavelmente, tenho uma dívida de quase dois milhões de Meticais. No ano antepassado, ficamos praticamente seis meses sem trabalhar. No ano passado, ficaram por aí três meses sem trabalhar. Nesse período, pagamos salários até onde pudemos, mas, depois, ficamos impossibilitados, porque nessa actividade só entra dinheiro quando as portas estão abertas”, destacou para reiterar que os efeitos da pandemia ainda continuam presentes no seu negócio. “Temos alunos de 2019 que, devido à pandemia, tiveram que ficar por cá por mais tempo e isso significa muitos prejuízos para a escola. Outro prejuízo é que, com a reabertura das actividades, tivemos que reduzir o número de estudantes por turmas”.
É face a essa realidade, que a associação entrou em consenso com os seus membros e decidiu agravar os preços. Sendo assim, o custo da formação para a classe C1 (Pesados), passa dos anteriores 10. 300 Meticais para 11.500; na classe B (Ligeiros) passa a custar 9.500, contra os anteriores 8.300. Já a classe A (Motos) passa dos actuais 5.500 para 6.700, um incremento de 1200 Meticais nas três classes.
Os averbamentos também foram mexidos. Para ter o averbamento de ligeiros (B) para pesados (C1) o candidato passará a pagar 7 200 Meticais contra os anteriores 5 500, um aumento de 1700 Meticais. A carta profissional passará a custar 6.500, contra os anteriores 5. 500, um incremento de 1000 Meticais. Para ter uma carta que possibilite prestar serviços públicos, o candidato passa a pagar 6500 Meticais, contra os anteriores 5.500. O incremento é, igualmente, de 1000 Meticais.
AGRAVAMENTO AINDA NÃO SATISFAZ AS ESCOLAS
Mesmo assim, as escolas de condução não estão satisfeitas. “Porque temos grandes encargos com o combustível, temos a questão da manutenção de veículos, as despesas com salários do pessoal que presta serviços. Para quem ouve 11.500, acha que é muito, mas, para os custos operacionais que temos, ainda não compensa”, disse Joaquim Chirinda, proprietário de uma escola de condução, ao que depois afirmou que o ideal é que as escolas cobrassem 14 mil Meticais pela classe de ligeiros e 16 mil para pesados.
QUESTIONADA QUALIDADE DAS ESCOLAS “NÃO ASSOCIADAS”
Entretanto, os problemas não terminam por aí. No rol das preocupações entram em cena as escolas de condução que não estão filiadas à Associação que são acusadas de concorrência desleal por praticarem preços muito baixos.
“Tudo que é barato tem custos. É impossível formar devidamente um candidato a pagar-me cinco mil Meticais para a carta pesada, pois só de combustível pago o equivalente a isso por semana, a questão que colocamos é: onde essas pessoas encontram o dinheiro para garantir a manutenção das suas viaturas?, questionou Mateus Libele.
Essa visão é complementada por Joaquim Chirinda que acredita haver irregularidades nesse processo. “Por semana, temos uma despesa com combustível na ordem de 30 mil Meticais. É nesse sentido que suspeitamos que os candidatos dessas escolas não cumpram todas as aulas práticas, porque, com esses preços, seria um negócio insustentável”, defendeu.
Para os filiados à Associação, essas escolas são apadrinhadas pelo INATRO que não questiona a sua qualidade.
Ademais, as escolas acusam o INATRO de morosidade na tramitação de expedientes. Os candidatos chegam a esperar três meses para realizar o exame teórico, o que aumenta os encargos das escolas de condução.
Sobre as escolas que praticam preços arbitrários, o “O País” interpelou o ministro dos Transportes e Comunicações, Janfar Abdulai, que se limitou a dizer que “os prevaricadores serão responsabilizados”.
O Governo, através do Conselho de Ministros, disse que não foi informado sobre o agravamento das taxas.
A nossa reportagem falou com o porta-voz do INATRO, Jorge Miambo, que nos aconselhou a enviar um e-mail com os tópicos da entrevista. Sucede que, até ao fecho desta edição, Miambo dizia que ainda não tinha autorização da sua chefia para falar sobre o assunto.