A Universidade Eduardo Mondlane (UEM) regista fraca afluência de estudantes e não dá aulas no primeiro dia do regresso ao ensino presencial. A mais antiga universidade do país alega que grande parte dos estudantes está, apenas, a fazer o trabalho do fim do curso. Já nas privadas, mesmo com poucos estudantes, houve aulas.
Uma imagem que contrariou tudo que se esperava no primeiro dia de regresso às aulas em instituições do ensino superior e técnico-profissional em meio à pandemia do novo coronavírus.
Com os bancos vazios, corredores sem nenhum estudante, a famosa “sombra dos estudos” da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) com pouco estudantes, um clima estranho e anormal, caractertizou o primeiro dia de aulas.
Poucos ou quase que ninguém quis se arriscar a regressar às aulas no primeiro dia de um reinício tímido e cauteloso em meio à COVID-19.
Os que se arriscaram a sair de casa para espreitar o campus da UEM não gostaram do que viram. “Muita coisa vai mudar e enfrentaremos muitas dificuldades”, disse Alzilvido Felisberto, um dos estudantes da UEM, num tom carregado de suspiro.
E não tem como ser a mesma coisa. Os grupos de trabalho são limitados e isso pode, segundo os estudantes, afectar o desempenho académico.
“Nos trabalhos em grupo haverá limitações devido à pandemia. Qualquer interacção com colegas pode significar exposição à COVID-19. Reduzindo a troca de ideias entre colegas, o desempenho académico, também, será beliscado”, constatou Sebastião Jone, estudante da UEM.
Mais do que reduzir o nível de interactividade entre os estudantes, o novo coronavírus complica, igualmente, o calendário escolar, sobretudo de quem contava concluir o curso em tempo recorde.
“No quarto ano, estava a fazer primeiro semestre, agora dizem que o semestre vai terminar em Março. Isso significa que o meu segundo semestre vai comer em Julho por aí. Assim, terei que terminar a licenciatura no meio do ano”, tentou explicar, Alzildo, estudante da UEM, com receio de fazer confusão nas contas.
Ao distanciamento entre os estudantes, adicionam-se outras medidas de prevenção que a Universidade Eduardo Mondlane adoptou. Há pontos para lavagem e desinfecção das mãos em vários pontos, é proibido tocar nas paredes e no corrimão, nas casas de banho, só entram dois estudantes de cada vez. Nas salas de aula, o distanciamento está garantido.
No recinto universitário, os estudantes podem até estar protegidos da COVID-19, mas a preocupação maior é mesmo com o transporte público.
“Olhando para as condições do nosso país, acho que não seria possível garantir um transporte seguro para todos. Muito mais aqui na capital do país. A única solução é não se voltar à faculdade”, apontou Felisberto, estudante da UEM, acrescentando que o Governo deve, primeiro, reunir condições para que no próximo ano “cada estudante recomece no ano em que interrompeu”.
Só na faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM, a previsão é que voltem às aulas pouco mais 200 estudantes do laboral e pós-laboral de cada curso e o director da faculdade diz que o baixo fluxo de estudantes nesta fase deve-se ao facto de grande parte destes estar a fazer apenas o trabalho do fim do curso.
“Era justamente isso que se pretendia. Era nós termos este retorno controlado do fluxo dos estudantes, de modo que fôssemos melhorando, constantemente, a nossa capacidade de resposta e de controlo da pandemia a nível da faculdade de Letras e Ciências Sociais e da Universidade Eduardo Mondlane”, esclareceu Cláudio Mungoi, director da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM.
Enquanto isso, a conta-gotas os estudantes dirigem-se às suas faculdades, não para estudar, mas talvez verificar o que se tem dito sobre as medidas criadas para a prevenção do novo coronavírus.
Na Universidade Apolitécnica, numa sala concebida para albergar no novo normal, 16 estudantes, mas apenas seis cá estiveram. Aliás, apenas 44 estudantes, dos pouco mais dois mil, colocaram os pés naquela instituição do ensino.
O mesmo cenário verifica-se na Universidade Técnica de Moçambique, salas quase vazias. Aliás, ate houve superação das expectativas. “Foi um dia calmo, o primeiro dia de aulas. Tivemos as respectivas bem no horário”, contou, uma das estudantes da Apolitécnica.
Contra a corrente de que tudo está perdido, há quem defende que o que importa não é correr, mas correr bem e com qualidade. “Quanto ao tempo recorde, não é o nosso objectivo, como estudantes. Não é terminar em tempo real, mas é o fazer com qualidade”, rematou, uma das estudantes.
Sobre o tempo perdido, os representantes da UDM e Apolitécnica garantem que trabalho será feito de modo a cumprir com o planificado.