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Registados 50 mil casos de burlas e fraudes nas telecomunicações nos últimos quatro meses

O Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) reconhece que é impossível garantir 100 por cento de segurança aos utilizadores das telecomunicações. Só nos últimos quatro meses, mais de 50 mil casos de fraudes e burlas foram detectados e ou denunciados no sector das comunicações, revelou hoje a entidade. Deste número 20 mil são casos de burlas, 613 ameaças a pessoas, 44 ataques cibernéticos, e outros crimes.

O recente ataque a sites de entidades do Estado provocou uma série de dúvidas sobre a real capacidade do país e das instituições de proteger a si e a população em geral. O Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique reconhece a gravidade do assunto e diz que na área das telecomunicações cabe a si regulamentar e fiscalizar, sendo responsabilidade das operadoras proteger os dados dos clientes.

“Diria que estamos seguros a 99.9%, o restante deve ser garantido por mecanismos dentro das operadoras que devem monitorar essas situações e imediatamente responder a eventuais ataques cibernéticos. A nossa atribuição, como INCM é de garantir que exista um conjunto de dispositivos normativos, que são traduzidos em licenças aos operadores, o que os obriga a garantir todos os preceitos de segurança, protecção das suas infra-estruturas e, por via disso, das comunicações dos utilizadores”, introduziu Adilson Gomes, Chefe da Unidade de Controlo de Tráfego e Telecomunicações no INCM para, em seguida, responsabilizar os operadores pela protecção dos seus utentes. “A responsabilidade primária de garantir que as transacções efectuadas pelos utentes são seguras é do provedor de serviços, que, neste caso específico, são as operadoras das telecomunicações e dos diferentes provedores de serviços de distribuição de internet, etc”.

A entidade diz que o perigo de ataques cibernéticos está presente todos os dias e só não acontece o pior porque há fiscalização.

“No sector das telecomunicações, o interesse dos hackers é grande. Como se pode perceber, quando o pirata informático consegue entrar numa rede de telecomunicações passa a ter acesso às contas bancárias porque todas as transações rodam nessas redes. Nenhum operador começa a trabalhar sem garantia de segurança para si e para os seus clientes”

“NÃO É POSSÍVEL GARANTIR SEGURANÇA A 100%”

Só nos últimos 4 meses foram 44 ataques cibernéticos nas telecomunicações, sem grande impacto, mas o perigo é permanente. “Não é possível garantir segurança a 100 por cento. Se acharmos que estamos seguros ficaríamos relaxados, mas sempre temos que achar que ainda temos situações de indivíduos que queiram nos atacar e, por via disso, estamos sempre em alerta. O que procuramos fazer é assegurar, que, de forma rápida e tempestiva, consigamos repor os serviços. Assegurar que, de forma alguma, os dados dos cidadãos fiquem expostos. Há mecanismos que são implementados a nível das operadoras que permitem segregar a informação dos utentes e colocar em lugares seguros. São mecanismos de difícil acesso e mesmo em caso de ataques, são de difícil localização”, garantiu.

REGISTADOS 20 MIL CASOS DE BURLAS EM 4 MESES

Neste momento, o INCM tem 30 milhões de cartões SIM registados, dos quais 14 milhões encontram-se activos. Entretanto, os crimes cibernéticos não são a única preocupação no sector das telecomunicações. “Nos últimos quatro meses, estamos a falar de mais de 50 mil situações denunciadas ou detectadas de burlas e fraudes na área das telecomunicações. Deste número 20 mil foram de burlas. Crimes cibernéticos foram reportados 44 e tivemos também 613 casos de ameaças a pessoas, entre outros tipos de crimes”, revelou preocupado.

As autoridades reconhecem que os ataques informáticos nem sempre vêm de fora. Funcionários expulsos, ou mal-intencionados podem desencadear ataques. “Temos consciência disso. Qualquer instituição pública ou privada em funcionamento pleno tem noção que quando há um funcionário que se desvincula da empresa tem que retirar ou substituir os acessos para que não haja espaço para ataques cibernéticos”, explicou Renis Machavana, Administrador de Sistemas no INCM.

Quanto às burlas financeiras, através de telemóveis que são comuns no dia-a-dia dos moçambicanos, o INCM, em parceria com a PGR, operadoras de telefonia móvel e bancos, irão lançar, esta quinta-feira (hoje), uma plataforma online, onde os lesados poderão fazer denúncias e todos os intervenientes terão acesso às mesmas em tempo real para investigar, localizar e responsabilizar os prevaricadores.

SEVERINO NGOENHA RECONHECE “SITUAÇÃO É SÉRIA E PREOCUPANTE”

O último ataque de piratas informáticos contra páginas de entidades estatais continua um assunto na ordem do dia. Para Severino Ngoenha, reitor da Universidade Técnica de Moçambique (UDM) o assunto é sério e merece toda a atenção das autoridades para que o país não resvale para situações mais graves. “O pior cenário é que os piratas entrem no Ministério da Defesa, estamos em guerra. O sector da Defesa demonstra várias fragilidades, por isso, tivemos que recorrer a ajuda de outros países. O país se debate com a questão dos sequestros e se os raptores começam a ter acesso às contas bancárias das pessoas através desses ataques estamos a dizer que teremos mais pessoas raptadas. Se o nosso sistema bancário financeiro for atacado o nosso Metical, que já é periclitante, pode se encontrar em situação mais difícil. A situação é séria e deve ser encarada com toda a seriedade e gravidade que merece”, defendeu o académico

O também filósofo defendeu a intervenção da academia para capacitar as instituições que actuam na área de investigação de crimes cibernéticos e criminalidade organizada no geral.

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