Houve mais um rapto, hoje, segunda-feira, no centro da Cidade de Maputo. A vítima é um empresário de 24 anos de idade, que foi raptado à porta da sua casa, na avenida Francisco Orlando Magumbwe.
A acção que já está a virar moda e faz com que, todos os dias, os empresários de origem asiática durmam na incerteza de quem será o próximo a ser raptado ocorreu às 8h40, quando os raptores puxaram para a fora a vítima que acabara de entrar na sua viatura, para ir ao seu local de trabalho.
Os criminosos faziam-se transportar numa viatura preta da marca Hyundai e com matrícula visível, entretanto testemunhas não conseguiram tirar os dados. O carro, conforme apurámos, já rondava o local desde cedo.
“Eram quatro homens, três desceram do carro e um era motorista. Então, no momento em que tentaram raptar, o jovem tentou escapar, entrou num táxi e, mesmo assim, foram atrás, tiraram à força e meteram-no no carro deles à força”, contou uma testemunha.
Quem lá esteve até tentou socorrer, mas sem sucesso, pois os criminosos estavam armados e ameaçaram os testemunhas. Contaram, ainda, que pediram ajuda da polícia que fazia patrulha no local.
“São homens, pelo visto, bem treinados, pela forma como agiram. Todos nós aqui gritámos. Havia agentes da polícia que se aproximaram, um deles disse que não podia fazer nada e que ia chamar reforços, e só vieram depois que tudo aconteceu”, relatou um dos seguranças locais.
O porta-voz da PRM na Cidade de Maputo, Leonel Muchina, confirma que havia agentes que faziam patrulha próximo ao local e “que de tudo fizeram” para evitar o rapto, mas porque os raptores se faziam transportar numa viatura e os policiais a pé, foi impossível neutralizá-los.
Muchina diz, entretanto, que já decorrem trabalhos com o SERNIC para localizar a vítima e identificar os criminosos.
A acção não foi rápida, devido à resistência da vítima. Fala-se de cerca de dois minutos. A vítima é filho do proprietário da United Center.
Registados 11 raptos desde Janeiro
Com este último, já são 11 os raptos reportados este ano. Dez na Cidade de Maputo e um na Beira. Em Março passado, o ministro do Interior falava de um total de 185 raptos ocorridos no país, desde 2012, ou seja, uma média de 15 por ano.
Contudo, também trouxe mais dados, que, na verdade, já nem eram novidade.
“Os mandantes destes crimes são os autores morais, que continuam escondidos, algures, mas esforços decorrem conducentes à sua localização”, disse Ronda, a 19 de Março deste ano.
Ou seja, há 12 anos que este tipo de crime assola o país, mas nenhum é publicamente conhecido e muito menos há pessoas julgadas, apesar de constantemente o Serviço Nacional de Investigação Criminal reportar desmantelamento de cativeiros e algumas pessoas supostamente envolvidas.
O primeiro rapto deste ano aconteceu a 16 de Janeiro, na Avenida Filipe Samuel Magaia. Não se consumou, mas o empresário foi baleado.
Quatro dias depois, 20 de Janeiro, o proprietário dos armazéns Atlântico foi raptado quando saia de casa para o trabalho, cerca das 7 horas.
Em Fevereiro, no dia 11, o proprietário de uma loja de venda de bebidas foi sequestrado na Zona Militar, a menos de 50 metros de um quartel.
Março iniciou-se e, logo no dia 7, um cidadão de 22 anos foi raptado em frente à sua casa, na Cidade de Maputo.
A 10 de Março, um cidadão paquistanés foi raptado na Beira, no bairro dos Pioneiros, quando saía de um armazém.
Em Abril, não houve registos do crime, mas, em Maio, no dia 11, mais um cidadão, proprietário de uma farmácia foi raptado e os criminosos efectuaram alguns disparos.
Depois de quase um mês de trégua, a 26 de Junho, um empresário indiano, proprietário de uma papelaria, também foi raptado. Na acção, um dos guardas foi baleado.
Três dias depois, um proprietário de umas bombas de combustível escapou da tentativa de rapto. O suposto raptor foi morto e um agente da PRM foi ferido.
Em Julho, em menos de três dias, dois raptos ocorreram: um na Avenida Eduardo Mondlane, numa tarde de sábado, onde a vítima, proprietário da loja Luxo Brindes, foi arrastado do interior da loja para o carro dos sequestradores. 72 horas depois, o proprietário de uma botle store foi raptado por cinco indivíduos, no interior da sua loja.
Nestes crimes, algo chama atenção: grande parte deles acontecem durante o dia e em ruas movimentadas. Nalguns momentos, os criminosos usam AKM. Os cativeiros encontram-se, sempre, no município da Matola e as vítimas são, todas elas, de origem asiática, na sua maioria paquistaneses e indianos.
Pelo sim ou pelo não, o certo é que reina incerteza e desagrado no seio dos empresários asiáticos, que, na semana passada, acusaram o Governo de pouco estar a fazer para travar o crime.
Mas, afinal, a quem interessa este crime, cujas pesquisas indicam que o dinheiro tem sido usado também para financiar o terrorismo? E porque razão até hoje as autoridades mostram dificuldade para identificar os autores?