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Quando foi?

Por José Paulo Pinto Lobo

 

Desembarco na cidade velha de mais de um século

Tal como uma respeitável idosa senhora

Que apesar dos traços caídos

Ainda conserva resquícios de uma beleza antiga

Sinto-me um alienígena sem passado

Passageiro num comboio de destino desconhecido

 

Circulo pelas ruas a quem furtaram os passeios

Pejados de montinhos barracas e quejandos

Há informais vendedores fugindo de ratoneiros polícias

Alunos fardados cães vadios pedintes e lixeiras

E crianças brincando nas águas estagnadas

Txopelas txovas e chapas se atropelando em alucinadas gincanas

 

No alagável subúrbio barracas de madeira e zinco ou de blocos de cimento sem reboco

As pessoas naufragam em babalazes de cerveja e tontonto

Xilonguine cidade de prédios decrépitos elevadores desconjuntados e escadas malcheirosas

Gradeadas gaiolas para pássaros de olhares vazios que perderam as asas

Ruas esburacadas onde caracolam latas velhas lamborghinis 4×4 e poderosos Mercedes C-180

E luzentes novas vivendas e condomínios belos escritórios e restaurantes finos

Com guardas sonolentos equilibrados em assentos improvisados

À sombra das acácias que ainda resistem teimosamente exibindo suas rubras flores

 

Por entre os destroços de uma guerra invisível

Na irreversibilidade do desconcerto

Uma insistente pergunta martela minha mente

Quando foi como foi

Que nos transformamos nisto?

 

I got to move canta Regina dos Gran’Mah

Afasto a melancolia do passado e aceito o desafio

Danço ao som do seu jovem reggae fusion

Socorro-me dos inconformados escritores

Numa mão Museu da Revolução do João Paulo Borges

Noutra a Literatas do Eduardo Quive

E assim sigo lendo e dançando

I got to move on

 

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