À guisa de um introito
Maria Lamas escreveu o livro As Mulheres do meu país, nos anos 50, demonstrando que as mulheres portuguesas eram mais do que a caracterização de “domésticas” que lhes cabia. Revelou que eram pessoas de trabalho, contrariamente às ideias pejorativas que havia, a seu respeito, no seu contributo para a vida de famílias ou de um país. Foi no título do seu livro que me inspirei para celebrar as escritoras do meu país, em comemoração do “dia da mulher”.
A par de outras duas colegas de profissão, tenho andado a recensear a literatura de ficção da lavra de mulheres moçambicanas. Constato que têm sido empreendedoras, mais do que, preconceituosamente, se afirma e muito mais do que o silenciamento as relega.
No que à produção em livro diz respeito, em “Mulheres em trânsito”, no Congresso Alda Lara, em Lisboa, em 2019, Ana Mafalda Leite e eu, destacamos a existência de 35 mulheres. No mesmo ano, no seu livro intitulado Cartografias em construção: algumas escritoras moçambicanas, Ana Rita Santiago, pesquisadora brasileira, revelou existir esse mesmo número de escritoras. Numa pesquisa para apresentar uma palestra designada “Literatura Moçambicana: rastos e rostos da última década – 2010/2020”, na Associação de Escritores Moçambicanos, em 2020, consegui recencear 44 escritoras. E, numa outra recolha que realizei em 2023, a fim de apresentar uma comunicação no SINALLIP- 2023, um evento literário brasileiro, anotei 71 nomes de escritoras. Esse trabalho ainda está em actualização; até porque, me consta a edição de mais obras de lavra feminina. Devo referir que cada um desses levantamentos vai adicionando à lista existente, novas entradas.
É na sequência da ampliação dessa lista, reitero, ainda em actualização, que abordo, neste texto, o trabalho realizado na antologia Blasfêmeas: sangue e poesia (Blasfêmeas), organizada pela Gala-gala edições; que colige trabalhos de dezoito mulheres, das quais, três já têm livro publicado. Abordarei ainda a obra intitulada Recortes de mim desse tal de amor, publicada pela Chiado Books, ambas tiveram a sua apresentação pública no presente ano.
Levantam-se, andam e suplicam que não lhes tirem a arte
Blasfêmeas: sangue e poesia é a sexta antologia publicada pela Gala-gala Edições e organizada por Pedro Pereira Lopes; sendo a segunda exclusivamente dedicada a disseminar trabalhos de mulheres. A primeira obra, nesse sentido de exclusividade, foi editada em 2020 e leva o título de Carta para os filhos de Adão um e-book. Depois da independência, essa foi a primeira editora a publicar uma antologia de autoria apenas feminina. Destaco o género das mãos que escrevem os textos, porque, realizar um exclusivo desses revela-se importante e urgente, não só em Moçambique, como em muitos lugares do mundo.
A antologia acabada de referir foi editada em função de uma chamada para publicações para autoras sem livro publicado. Os trabalhos coligidos, nessa obra, foram aferidos do ponto de vista da sua qualidade e escolhidos, dentre outros que não estavam em condições para publicação, obviamente. Constam dela, mulheres que são publicadas pela primeira vez: Adelina Afonso, Camila Chilaúle, Cecília Mabjaia, Yanissa Khan ou Drofth Suhura, Ester Chiziane, Ivânia Paquete, Lasmim Caminho, Marlen dombo, N’wantsukunyani Khanyisani, Nívia Massango, Regina Nhamuchua, Samira Longamane, Saquina Pancrácio, Tatiana Muianga, Tulipa Negra e Hera de Jesus, vastamente antologiada noutros contextos. Nesse mesmo livro há textos de Merciana Uamba e Kaya M, autoras com livro publicado.
Segundo Pedro Lopes, na sua nota de apresentação deste livro afirma tratar-se de “um manifesto poético, um convite à celebração da mulher que, por meio da poesia, desafia regras, rompe silêncios e revela a sua presença num mundo dominado pelo patriarcado”. O título é sugestivo, porque, sendo um trocadilho, marca e grito de mulheres, essas “blasfemas”, que ousam desafiar um mundo real e de escrita literária dominado por homens. Além disso, trata-se de um título revelador da obra dessas mulheres – as fêmeas.
A Obra e suas temáticas
Essas mulheres são inspiradas pela obra de Noémia de Sousa, a mãe de todos os poetas moçambicanos, mulher, também irreverente na sua escrita e no alerta para que o mundo seja um bom lugar para se viver. É, também, claramente, esse o posicionamento de Maria Lamas, acima mencionada. É possível verificar-se sugestões disso nos textos das nossas antologiadas que, não tendo realizado um trabalho com uma mesma temática, têm o denominador comum de sugerir um grito contra as amarras da exclusão ou da dominação do mundo pelo género masculino ou masculinizado.
Digo masculinizado, porque, do que se sabe ou pode aprender sobre as lutas pelos feminismos é que há algumas pessoas que incentivam o afloramento da feminilidade, num mundo em que as mulheres sejam isso mesmo que a biologia lhes permitiu ser, mas que tenham direitos tão humanos quanto os homens. Explico esta aproximação remetendo o leitor à leitura do poema “estamos entregues” de Regina Nhamuchua, no livro Blasfêmeas: sangue e poesia que afirma:
Não sou Barbie das tuas expectativas/Sou a mulher das minhas realidades/ E
chama-me Shaka Zulu/pois quebrei todas as correntes/e vou construir o meu
próprio império de padrões/porque no meu corpo, sou o meu próprio padrão! … E
conduzo o meu Mercedes Benz/ Ao lado de quem conduz um Freightliner de
mente! Blasfêmeas, p. 75. [o sublinhado é meu].
O sujeito poético no excerto acabado de mencionar quer a sua afirmação enquanto pessoa e ser respeitado por tal. O mesmo o faz o sujeito no poema “caminhos” de Saquina Pancrácio que afirma “suplico em silencio que me abram/para sair e voltar a voar/… Não sei andar com os pequeninos pezinhos que tenho/mas posso voar com as grandes asas que, só as criei/ para poder voar quando não mais pudesse andar” […]. Blasfêmeas, p. 87. [o sublinhado é meu].
Existem, entretanto, outras mulheres que não usam esse direito. Aceitam a subjugação, mesmo sabendo que podem ter um destino melhor ou por outra, actuam de modo masculinizado ou o comumente chamado de dominação patriarcal.
As antologiadas de que tenho vindo a falar agem, tal como o sugeriu Noémia de Sousa: “levantaram-se e andaram”, sujeitaram-se à uma chamada de textos, para poderem publicar. E colocam o mesmo tipo de pensamento nos sujeitos ou sujeitas de enunciação dos seus textos, ie, sujeitos/as contestatários/as.
Passo, nessa sequência, a revelar, em linhas muito breves, o que suplicam. A ordem de enunciação dos textos foi feita por agrupamentos de significação. Esses grupos não fazem paredes estanques uns com os outros, dialogam no sentido de similaridade de temáticas.
Do trabalho de Ivânia Paquete, cuja poesia é rente ao labor da poetisa que inspira a antologia, num dos seus poemas intitulado “procura-me”, a autora, como que a desejar dizer: “Se me quiseres conhecer”, tal como Noémia de Sousa, afirma: “Procura-me”, sugerindo, se te aproximares, irás conhecer-me na minha perfeição e na minha imperfeição. Sou humana. Blasfêmeas, p.37.
Segue-se, após esse aviso um grupo de autoras que trabalharam a temática do grito, para que se dê voz e lugar à mulher e, passo a mencionar:
Adelina Afonso, em “Costa do sol” sugere o pedido de liberdade para seguir a vida. Junta -se esta autora Hera de Jesus, quando no seu poema intitulado “queremos, apenas, ser mulheres” revela: “Era uma vez…/mulheres/ que apenas/queriam ser mulheres/num mundo/cruel para mulheres. Blasfêmeas, p.43.
Por outro lado, e porque, provavelmente, a educação da rapariga devesse ter componentes mais complexas, Lasmim Caminho adverte, através do seu poema com o título “meu período, meu corpo, meu futuro”, que ao iniciar o seu período, é dito à rapariga que ela “cresceu”, nada mais sobre outras questões inerentes ao seu futuro de mulher. Daí ela alertar: “pois, eu sentia-me exposta, presa sem portas/ num mundo de padrões […]. Blasfêmeas, p.51.
Marlen Dombo dá voz aos excluídos: mudos, sonâmbulos, os que choram e às mulheres, convidando-os “a serem fortes o bastante, para gritar num ambiente no qual ninguém os ouve num lugar para deitar a gravata” […]. Blasfêmeas, p. 57. Quem também grita, com recurso ao seu sujeito poético e rejeita o lugar do silêncio da mulher é Merciana Uamba, que em “memórias de um não parto” coloca um sujeito poético que suplica por um colo para falar sobre os seus desejos, não se anulando. O que sugere, esta autora é que as mulheres não têm que viver como se fossem de aço. Têm sentimentos, tal como qualquer humano. Blasfêmeas, p. 63.
Outras mulheres, neste livro, se preocupam com um país que é sugestão de Moçambique:
Adelina Afonso, diz em “síndrome de Pemba”: “[…] “Onde pés tenebrosos perscrutam o Wimbe/Em busca de um novo porto/ “Sou persuadida todos os dias/a cá permanecer por mais um dia/ ou quando em “sono dos deuses chora a partida para a morte”. Blasfêmeas, p. 15. Esta temática constitui preocupação, também para Yanissa Khan, nos poemas “verão africano e “wayemba”. O primeiro que nos revela o choro derivado de uma guerra e o segundo que é um convite por uma luta pela vida.
Essa guerra em Cabo Delgado é também reclamada por Lasmim no seu poema “vim confessar-nos”, no qual o sujeito poético reza por dias melhores nesse espaço geográfico. A poesia de Tulipa Negra também se cinge a esse lugar de dor. Há uma descrição sobre o desperdício de vidas humanas e das riquezas ambientais de Cabo Delgado, que a autora descreve no seu poema com o título “diário do refugiado”.
Hera de Jesus demonstra-se atenta a diferentes problemas de Moçambique e aí temos a certeza de se tratar desse país, porque parte do seu Hino Nacional vem mencionado no poema intitulado “convulsão”, através do qual a autora reivindica o lugar de subalternidade relegada à mulher e ao país malcuidado. E desgovernado, recorda-nos Regina Nhamuchua que, através do seu poema “estamos entregues”, sugere que cada moçambicano deve 7 milhões à China.
Em “desencanto”, Dombo descreve Moçambique, o lugar onde os karinganas sobre os velhos tempos deixaram de ter lugar, entretanto, segundo ela, convém manter-se a esperança em dias melhores.
Há alusão à esperança e ao amor, nesta obra. A esperança em novos futuros, derivados da procriação, enaltecida por Kaya M. e esperança, em sermos nós “se a soberania o permitir”, diz-nos a autora, em “últimos delírios”. Já o amor é cantado em Camila Chilaúle que o liga à paixão, nos seus poemas “infinito é o vermelho poema e “frangipani”. Ester Chiziane faz-nos um convite ao cuidado pelo outro, em “meu amor” e “dançaremos, certamente”.
Nesta mesma tónica de amor e de cuidado, enaltecendo a arte, Samira Longamane refere: “neste papel passo a escrever acerca da minha família,/ dos momentos mágicos/enredos de afecto, ternura e convívio/… Descobri que escrever neste papel é mais seguro/porque ninguém falsificará a minha história”. […]. Blasfêmeas, p.p. 82-83.
A Violência doméstica é aflorada por Cecília Mabjaia nos poemas “a (in)felizarda e “ela é forte. Neles, a autora nos recorda que a mulher africana é ensinada a pacientar a vida e a dor que daí advenha. A par disso, Cecília Mabjaia vai longe, recorda-nos sobre os perigos do HIV, derivada da violência social na profissão da prostituição.
A temática da violência doméstica é, ainda, aflorada por Nívia Massango que pergunta quem é o homem, como que a questionar os direitos que se atribui para encher a mulher de pancada, silenciando a sua voz que, entretanto, grita. Tatiana Muianga é outra mulher que coloca o seu sujeito poético a reivindicar contra o silencio quanto à violência doméstica. Diz o seu poema “mulher de aço”: […] ”O canto do galo já é audível e o sono não chegou/ A angústia e a raiva consomem o meu corpo/ mas não posso denunciar/ As pancadas que recebo nas madrugadas”. […]. Blasfêmeas, p. 91. Esta poeta, no seu texto “despertei” alude um grande mal social, as violações sexuais a mulheres. Blasfêmeas, p. 92.
Há poesia erótica, neste livro. Ela é trazida pelo sujeito líricocriado por N’wantsukunyani Khanyisani, autora que se apresenta na obra, na qualidade de quem escreve “arte pela arte”, arte para deleite e fruição. E é em nome da revitalização da arte que termino convidando à leitura de Ivânea Paquete, no poema, de título “quando me for”. Nele, esta escritora enaltece o amor por esse fenómeno. Ainda na mesma senda, com o título “artes” Saquina Pancrácio, celebra este acontecimento, questionando: “E o que seria arte sem o amor/ Um corpo sem vida, talvez/ou uma fonte sem água/. […]. Blasfêmeas, p. 89.
Como se pôde constatar, esta é uma obra que, para além do grito de mulheres por um lugar diferente do subalterno é um grito e uma exaltação da arte, à semelhança do que se diz no excerto do poema “Súplica”, que é epigrafe do Blasfêmeas: sangue e poesia, no qual se diz, citando Noémia de Sousa: “ – Por isso pedimos,/de joelhos pedimos:/ tirem-nos tudo../mas não nos tirem a vida,/não nos tirem a música”.
Prometera, mais acima, abordar a antologia Blasfêmeas: sangue e poesia, para depois me ater à obra Recortes de mim desse tal de amor, título do primeiro livro de Sheila Miquidade. Reitero a importância de se celebrar trabalhos da lavra de mulheres.
Recortes de mim desse tal de amor
Trata-se de um livro composto por 78 páginas, incluindo os para-textos. Tem 47 poemas (graficamente, não se trata, pois de um poema para cada página). Há poemas curtos e outros longos, que se caracterizam em versos ou em prosa poética. Mas todos sabemos que o diálogo literário se estabelece através do conteúdo e não da quantidade de versos ou de palavras que uma obra contenha. Mais do que os textos, vale recordar que caracterizam a obra delicadas ilustrações em colagens de Inês Flor.
O título da obra remete a uma biografia. Entretanto, a forma estética a partir da qual o texto está escrito, os versos, fez-me acreditar que não se trate de uma obra desse género pois, do pondo de vista estético, o mais comum é a biografia ser escrita em prosa. Mesmo considerando a prosa poética, no livro, também, constata-se que o livro não é uma biografia. Em ambos casos, a julgar pela idade da autora do livro, mais o seu percurso, deduzível através dos dados biográficos que se encontram na contra-capa do livro, seria necessário mais espaço para narrar a sua trajectória de vida ou seja; lendo a obra não ficamos a conhecer a Sheila Miquidade, mas a sua escrita. Quero afirmar com isso que, um livro biográfico relata o curso de vida do seu autor.
Este livro pertence ao género a que se designa autoficção; escrita na qual a ficção e partes da identidade do autor convivem. Um exemplo do que acabei de afirmar pode ser encontrado no primeiro poema do livro, intitulado “Quem inventou o amor”. Este poema sugere o questionamento da nossa existência e da existência do amor. Há nele uma reflexão sobre a matéria e a origem do amor, que aludem a biografia da autora.
A autoficção subdivide-se escrita confeccional, que é o caso do livro de Sheila Miquidade e em ficção autobiográfica, quando se trate de narrativa que integre a identidade do seu autor. Recordo, entretanto, que para aferir os traços biográficos de um autor que escreva nessas vertentes é importante conhecê-lo pessoalmente ou entrevistá-lo, para não se incorrer em assupções sobre a sua identidade e as identidades ficcionadas.
As aferições que fiz sobre a identidade da autora são baseadas no que é mencionado nas orelhas do livro, na qual se refere que “Sheila capturou momentos íntimos, transformando as suas experiências em versos que reflectem a sua jornada pessoal e a sua observação sobre o mundo”. Isto explica, claramente, a utilização de partes da biografia, mas não será a partir delas que se pode reconstituir o curso e o percurso de vida da autora empírica.
Em Teoria Literária, chama-se poesia lírica, a que fala sobre o amor (aquela através da qual se pode manifestar a subjectividade: o que se sente e o que pensa sobre o mundo ou sobre a vida). Na Bíblia Sagrada, mais precisamente no “Cânticos dos cânticos” ou “cânticos de Salomão encontramos as definições ou caracterizações sublimes e filosóficas sobre o amor; nomeadamente: amor fraternal (entre irmão, família e amigos); amor romântico (amor idealizado, desejo); amor de amizade ou philia (afeição); amor incondicional, ágape (cuidado com o bem-estar da pessoa) e, por fim, o amor sexual (desejo de prazer que um amado e uma amada sentem um pelo outro).
A propósito de escrever sobre o amor, devo, entretanto, recordar que, em Moçambique, até antes de 1984 a poesia sobre essa temática era proibida. A poesia lírica foi se construindo, ao longo do tempo. Somos um país jovem que, nos anos 60 escrevia apenas poesia de combate, através da qual se desejava que cada palavra em cada poema tivesse o efeito didáctico de luta contra o jugo colonial e “nada de poemas de amor”, dizia-se. (cfr. Brochura sobre o 1º Seminário Cultural [da Frelimo], decorrido entre 30 de Dezembro de 1971 e 21 de Janeiro de 1972, na rubrica resoluções sobre literatura).
Esse desiderato foi, timidamente, desconstruído por Luís Carlos Patraquim, através do seu livro Monção (1980), bem como a obra Raiz do Orvalho (1983) de Mia Couto. Foi mais tarde, em 1984, com a poesia de Eduardo White que ficou marcada a rutura total ao publicar a obra Amar sobre o Índico. Depois disso, escrever sobre o amor, em Moçambique, tornou-se corriqueiro. E hoje temos muitos autores que se dedicam a essa estética. Recortes de mim desse tal de amor da autoria de Sheila Miquidade é um desses exemplos.
Essa obra é classificável na estética de si, preconizada por Foucault, que fala, no âmbito dessa escrita, sobre (cuidados de si e cuidados do outro). Lendo Recortes de mim desse tal de amor, aliando ao que se diz na orelha do livro, pode se perceber que o livro resulta de um processo de ressignificação da vida do seu autor ou dito de outra forma: tratou-se de um processo no qual a arte cura a vida, como é o caso do poema, “Ai mãe, brotei”. Pg. 36.
Há ainda, no livro, repetições de expressões que nos remetem a reflexões sobre a condição e existência humana. Dou dois exemplos: Poema “Nós” – nós no vazio e na imensidão; “Do salto de bico alto” – o vazio da tua existência. Supostamente, as pessoas são o resultado de um acto de amor (um acto físico que se deseja prazeroso, mais do que romântico) e, por isso, deduzir-se que amar seja bom e que o amor faça bem (no sentido de plenitude), entretanto, o que a vida prova ou o que o livro ilustra é que as convenções sobre o amor são falhas. Há vazios na nossa existência. Há respostas no poema já aludido e no poema intitulado “Um café por favor”, no qual se fala de presença que é ausência, pg. 34. E tem mais, o último poema do livro brinda-nos com outras definições sobre o amor, o tal conceito difuso.
Termino como comecei. Vou recordar a importância de se não silenciar a escrita da lavra de mulheres, disseminando a sua obra, estimulando-as a escreverem, a publicarem ou mesmo analisando os seus trabalhos.
Recordo ainda que este texto ainda se encontra em construção, daí deixar o meu endereço electrónico, para quem deseje colaborar no recenseamento ora iniciado. Ainda há trabalhos de mulheres por registar, prova-o, por exemplo o facto de que, ainda a fechar este texto, para o enviar ao jornal, sou agradavelmente surpreendida pela notícia de que acaba de ser editada a obra No Dorso da Sombra, de Hera de Jesus, mencionada no grupo de mulheres antologiadas no livro Blasfêmeas: sangue e poesia.
Março de 2025
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