O Presidente da República efectua uma visita de Estado à República do Gana e vai participar da 57ª reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento, em que os países africanos querem, igualmente, discutir os mecanismos de financiamento para uma transição energética sustentável para as suas economias. O encontro acontece num contexto em que o Ocidente está a impor o banimento de carvão mineral e gás natural até 2050, posição que Moçambique não olha, de todo, com bons olhos.
Encostado na Costa do Oceano Pacífico, lá na África Ocidental, Gana não precisa de reclamar o seu lugar na história da África contemporânea, porque o seu filho, Kwami Nkrumah, fez questão de lançar a semente que viria a brotar. “Esta década é a década da independência africana para que todos na dependência [passem] para independência, agora. [E] amanhã, os Estados Unidos de África”, vaticinava Nkrumah, na década de 50, depois de liderar, com sucesso, o movimento pela independência do Gana, tendo-se tornando no primeiro país de África a alcançar a independência no sul do deserto de Sahara em Março de 1957.
O pan-africanismo até deu os seus frutos. Mas a independência dos países africanos é posta em causa pela nova forma de dominação económica imposta pela política ditada pelas nações mais poderosas do mundo. Não que os líderes africanos não saibam disso, mas a nova arquitectura da geopolítica dá pouco campo de manobra para uma oposição.
No ano que se celebra 50 anos da morte de Kwami Nkrumah, os africanos juntam-se em Acra, capital do Gana, para discutir a situação política, económica e social. Até porque 25 de Maio é o dia da União Africana.
Filipe Nyusi tem a sua imagem, por estes dias, colocada à entrada do Parlamento do Gana em Acra e, ao lado, está a fotografia do anfitrião, Nana Akufo-Addo, num gesto de elevada consideração que aquele “Ouro do Pacífico” presta à “pérola do Índico” por ocasião da visita de Estado de três dias.
“Assinando acordos de cooperação que vão ser instrumentos fundamentais para viabilizar [as relações]. Há muita coisa que se explora lá como agricultura, exploração mineira e mesmo no campo da governação, porque é um dos países tidos como [uma boa] experiência”, disse em Nacala, Filipe Nyusi, quando deixava Moçambique com destino a Gana, neste domingo.
Nada de meras coincidências. Outros propósitos transformam Acra esta semana no centro das atenções: Paul Kagame, do Ruanda, Macky Sall, do Senegal, Uhuru Keyatta, do Quénia, Muhammadu Buhari, da Nigéria, Samia Suluhu Hanna, da Tanzânia, Alassane Ouattara, da Costa do Marfim, Sahle-Work Zewde, da Etiópia e Mohamed Ould Cheikh El Ghazouani, da Mauritânia, estarão na 57ª edição da reunião anual de grupo do Banco Africano de Desenvolvimento, BAD, que se realiza de 23 a 27 de Maio também na capital ganesa.
Para este evento em particular, os africanos querem consertar o pensamento para imporem um meio-termo na abordagem do Ocidente sobre o uso de energias limpas. Isso acontece numa altura em que a transição energética entrou na agenda global, com os países mais industrializados do mundo e os mais poluentes a colocaram o carvão mineral e o gás natural na lista de energias poluentes, cujo uso deve ser eliminado até 2050. Moçambique tem defendido que o gás natural deve ser usado como energia de transição até que o país encontre energia limpa, sendo que o BAD pode ajudar a levantar a voz dos africanos para se fazerem ouvir no mundo.
O primeiro painel presidencial de que Filipe Nyusi participará vai falar do “Desenvolvimento de África: desafios e oportunidades”, mas há outro que vai discutir a respeito de como “alcançar a resiliência climática e uma transição energética justa para África”, num claro sinal do alinhamento que os líderes africanos querem fazer para levarem para a cimeira do clima que as Nações Unidas projectam para Novembro próximo no Egipto.