A província do Niassa quer virar a página. Depois de meses marcados por ataques terroristas que abalaram a Reserva Especial do Niassa e afastaram visitantes, o maior território de conservação do país procura agora recuperar a confiança dos turistas e investidores. Na Feira Internacional de Turismo (FIKANI 2025), em Vilankulo, a província apresenta-se com uma nova imagem, determinada a mostrar que é muito mais do que o seu passado recente.
Entre maquetes de lodges, fotografias de paisagens selvagens e danças tradicionais, Niassa surge como o gigante adormecido do turismo moçambicano. A governadora Judite Massengele lidera a comitiva com um discurso firme e otimista: a província, garante, está segura e pronta para recomeçar.
“A situação está normalizada, a população circula, as instâncias turísticas estão a funcionar e há confiança no regresso à normalidade”, disse Massengele, sublinhando que o governo e as forças de segurança reforçaram o controlo nas áreas antes afetadas pelos ataques.
Niassa, que durante anos foi vista essencialmente como um celeiro agrícola, quer agora explorar a outra metade do seu potencial: o turismo. Com 42 mil quilómetros quadrados de reservas e parques naturais, é o lar de espécies emblemáticas como elefantes, leões, leopardos, búfalos e hipopótamos — os chamados Big Five. “Temos uma das maiores áreas de conservação do país e queremos atrair investidores que apostem tanto na observação de fauna bravia como no turismo de contemplação”, explica a governadora.
O plano é simples, mas ambicioso: transformar a biodiversidade e as águas do Lago Niassa em motores de crescimento. São mais de 600 quilómetros de costa, ladeados por aldeias pesqueiras e praias serenas, que podem ser convertidos em polos de ecoturismo. Massengele acredita que o segredo está na ligação entre a terra e a água. “Tendo um investidor que aposte no turismo de contemplação e outro na área costeira, podemos criar um pacote integrado. O turista que visita Mecula pode seguir de avião ou por estrada até ao lago. As duas áreas não devem ser isoladas, devem complementar-se”, defende.
Este conceito de turismo integrado é visto como uma aposta de futuro. A ideia é criar rotas que combinem safaris na Reserva do Niassa com mergulhos nas águas azuis do lago, transformando a província num destino de contrastes — onde o selvagem e o sereno se encontram.
A presença de Niassa na FIKANI 2025 é também um gesto simbólico. Representa a resistência e a esperança de uma província que se recusa a ser definida pelos seus desafios. O pavilhão de Niassa, decorado com esculturas de madeira, capulanas e imagens aéreas da reserva, tem sido um dos mais visitados. Investidores nacionais e estrangeiros passam, perguntam, mostram interesse.
Além do turismo de natureza, o governo provincial quer apostar em infraestruturas de apoio, formação de guias, segurança nas rotas e inclusão das comunidades locais nas cadeias de valor do turismo. “O turismo só será sustentável se beneficiar o povo de Niassa”, defende Massengele.
Com um mosaico cultural único — resultado da convivência de mais de 15 grupos etnolinguísticos —, a província quer também valorizar o turismo cultural, promovendo festivais, gastronomia e tradições locais como parte da experiência do visitante.
Apesar de não ter saída para o mar, Niassa oferece horizontes que o olhar não alcança. O seu desafio é transformar o isolamento geográfico numa vantagem competitiva, explorando o encanto da autenticidade e a promessa de aventura.
O renascimento turístico de Niassa acontece num momento em que Moçambique procura consolidar o turismo como um dos pilares da diversificação económica. E, para a governadora, este é o momento certo: “O país está a crescer, os investidores estão a olhar para o norte e Niassa quer ser parte dessa nova narrativa.”
Enquanto as luzes da feira brilham sobre os stands, fica a sensação de que o turismo moçambicano está a reescrever-se — e Niassa quer estar no centro dessa nova história, onde o medo cede lugar à esperança, e a natureza volta a ser sinónimo de vida, e não de ameaça.

