Muçulmanos defendem que nenhum crente mata, rouba ou destrói bens alheios em nome da religião. Para eles, é preciso reforçar os apelos à paz e o não ao derramamento do sangue humano. As declarações foram feitas, hoje, durante a celebração do Eid-ul-Adha.
Centenas de crentes muçulmanos reuniram-se esta quarta-feira para celebrar o Eid-ul-Adha. Na Cidade de Maputo, as orações estiveram viradas ao respeito pela vida e coube ao Sheikh Umar Ayuba orientar a cerimónia.
Segundo o líder religioso, os crentes devem inspirar-se na história do Profeta Ibrahim que, sem questionar, entregou o seu único filho para sacrifício, mas Allah (Deus) preferiu, em alternativa, sangue animal.
Falou-se também sobre o valor dado aos bens materiais, em detrimento da vida humana.
“Tais bens materiais e tais valores materiais devem ser usados para salvar vidas humanas. Se é isso que o alcorão nos ensina, alguém aqui acredita que o sangue derramado em Cabo Delgado seja resultado de algum ensinamento islâmico? O Islão ensina a salvar vidas, ensina a proteger o sangue humano, porque o sangue humano é valioso”, disse Sheikh Umar Ayuba.
Amade Camal, que esteve atento à oração, diz que os conflitos não são de origem religiosa, independentemente da localização.
“É muito fácil acusar a religião, seja em Moçambique, seja noutras regiões, como Médio Oriente e Irlanda, como um factor de culpabilidade. As religiões, de uma forma geral, ensinam a convivência em paz”, disse Amade Camal.
Uma convivência que precisa de ser aperfeiçoada, tanto no seio dos muçulmanos, bem como de outras religiões.
Mohamed Yassin, deputado da Renamo, reitera que o Islão é feito de paz e é esse o ensinamento partilhado com os seus praticantes, mas é normal que haja desvios.
“O muçulmano é uma pessoa como qualquer outra, que peca, que falha. Pode estar a cometer erros como muçulmano, mas devemos separar o Islão do muçulmano. No caso de Cabo Delgado, por exemplo, as pessoas têm as suas acções particulares, independentemente de serem muçulmanas ou não. Não está provado que os que se envolvem no terrorismo em Cabo Delgado são apenas muçulmanos, o que significa que o problema não está ligado à religião, mas sim a uma manifestação local, que tem a ver com qualquer situação desagradável”, disse.
Segundo os crentes, os próximos três dias devem ser de reflexão profunda sobre a vida humana.
Salimo Abdula e Celso Correia dizem que este é um momento de reflexão sobre a necessidade de as pessoas partilharem a paz e o amor ao próximo.
A celebração do Eid-ul-Adha é em comemoração à devoção do profeta Ibrahim a Allah e à sua disposição para sacrificar o seu filho, Ismail, como prova da sua fé.
CONSELHO ISLÂMICO CONTRA PERSEGUIÇÃO DE BENEFICIÁRIOS DE DDR
O Conselho Islâmico de Moçambique em Manica apela à não perseguição dos membros da Renamo que recentemente se beneficiaram do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração.
O apelo foi feito à margem da celebração do Eid-ul-Adha. O evento serviu igualmente para os membros da agremiação apelarem à sociedade para receber os homens da Renamo que acabam de ser integrados na vida civil.