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“Não podemos fazer joguinhos com o poder”

O veterano da luta de libertação do Congresso Nacional Africano (ANC) na África do Sul diz que a Frelimo deve ver os erros do partido libertador sul-africano, para não perder força também. Matheus Phosa, que falou, hoje, numa palestra na Universidade Wutivi, alerta ainda para as novas formas de pilhagem dos recursos africanos.

O veterano de luta de libertação sul-africano pelo ANC e membro da equipa que negociou com o regime do Apartheid, Matheus Phosa, deu, esta quinta-feira, uma aula de sapiência sobre a democracia e o neocolonialismo na Universidade Wutivi.

É alguém que conheceu os líderes africanos que deram liberdade e independência aos países. Na palestra que proferiu esta quinta-feira, começou por alertar os jovens para que “abram os olhos e os ouvidos” para ver e ouvir os novos modos de colonialismo de que o continente está a sofrer.

Se há mais de quinhentos anos, os colonizadores vieram à África dispostos a ocupar os territórios usando força bélica, hoje, segundo Phosa, “o neocolonialismo não carrega armas” os mais novos colonizadores “têm novos nomes e novos rostos, mas a agenda é a mesma; é colonizar África outra vez, explorar os recursos da nossa terra para o benefício próprio… querem roubar-nos outra vez!”

Esse é deve ser tomado como o problema. Entretanto, Phosa não quer ser entendido como quem diz que os países africanos não devem aceitar parcerias com outros, muito pelo contrário.

Os que devem fazer é “escolher os seus parceiros económicos internacionais e reginais de uma maneira que se traduzam em benefícios de longo prazo, parcerias benéficas, substanciais e sustentáveis para o povo”.

Antes disso, Phosa defende que se deve fazer um reforço da cooperação entre os países como Moçambique e África do Sul, para resolver problemas pontuais, como, por exemplo, o crime. “Há sul-africanos que roubam carros na África do Sul e vendem-nos no mundo inteiro, temos de os parar! Aqueles carros pertencem a pessoas inocentes na África do Sul”.

Há mais, Matheus Phosa debruçou-se sobre o estágio da democracia em Moçambique e na África do Sul. Aqui surgiu mais um aviso: “Vejam que, na nossa democracia, o ANC já foi forte, mas não mais. Cuidado, Frelimo!”

Na opinião do também advogado, a experiência do ANC, na África do Sul, deve servir para a Frelimo em Moçambique. Porque, segundo ele, neste momento, “Estamos num período difícil, onde as pessoas perderam confiança no meu partido e todos reconhecemos isso no ANC; as pessoas estão a perder confiança. Se verificarmos, é o crime, corrução e a própria prestação do serviço. As pessoas criticam-nos nesses assuntos em que somos muito fracos”.

A crítica é também assumida por ele mesmo quando diz: “nas campanhas, abraçamos e beijamos crianças, mas quando ganhamos esquecemo-nos das pessoas, das massas. Agora, nós estamos desconectados das massas”, por isso lança um apelo ao partido libertador em Moçambique e que ainda lidera o país. “A Frelimo não deve seguir essa via, deve continuar conectada às massas, deve responder às necessidades das massas, porque se não respondes às massas que te colocam no poder, vão virar-se contra ti, por isso, digo, cuidado! Cuidado, ANC, cuidado, Frelimo, cuidem das massas”.

E cuidar das massas só tem um significado: “deves prestar os serviços que prometeste às pessoas, e há coisas básicas: emprego, educação, habitação, estradas e partilha de riqueza com as pessoas, não algumas, as massas! As massas devem ser ricas. Assegura-te de que elas são ricas na mineração, na agricultura… e estes dois países, incluindo Zimbabwe, são ricos. Mas, e as pessoas, são ricas? Devíamos colocar essas perguntas”.

“Lamento que eu esteja a tornar isto difícil, mas estes são meus partidos. Amo a Frelimo e o ANC e temos de nos colocar perguntas difíceis: estamos a agir bem? Por que é que as pessoas estão a perder fé em nós e como podemos restaurar a fé das massas nos dois partidos? Não devemos fazer joguinhos com o poder, perdê-lo-emos”, alertou.

 

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