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Ministro da Saúde continua a dirigir cirurgias

O ministro da Saúde foi protagonista de uma história que reforça o juramento dos médicos de salvar vidas. Ussene Isse entrou no bloco operatório no Hospital Central de Nampula e dirigiu uma operação de remoção de um tumor. O governante diz que muitos pacientes não foram operados por falta de vontade e decisão, mas não disse de quem.

A equipa prepara-se para mais uma cirurgia no bloco operatório do Hospital Central de Nampula. A paciente é uma mulher de 32 anos que, desde 2019, convive com um tumor benigno no pescoço, conhecido por bócio.

Antes de lhe ser aplicada a anestesia geral, momentos antes do início da cirurgia, Deolinda Carlos dá uma curta entrevista. “Quando iniciou era uma coisa pequena e foi crescendo até esta fase”.

A cirurgia foi realizada, na sexta-feira, 28 de Março, dia do médico moçambicano e o caso inspirava alguns cuidados. “Temos uma paciente com uma patologia complexa  que é um tumor no pescoço que nós, no termo médico, chamamos de bócio”, introduz Hermenegildo Mulenga, um dos cirurgiões parte da equipa.

No âmbito da visita presidencial, o ministro da Saúde fazia parte da comitiva, só que naquele dia, Ussene Isse deixou o Presidente para fazer o que mais sabe fazer: dirigir a cirurgia.

Ussene Isse é médico cirurgião há 28 anos e é professor de Cirurgia. Alguns dos que estiveram na operação de 28 de Março, aprenderam com ele, por isso, durante o procedimento, era tratado por professor. 

Mais do que um acto simbólico, a sua presença era necessária dada a complexidade da área onde se localizava o tumor. “Este tumor estava a comprimir a traqueia e o esófago, que é o tubo que permite a passagem da comida da boca para o estômago. Então, há riscos, porque ao manipular o tumor a nível do pescoço há riscos de lesionar a traqueia, que é o órgão que permite a passagem do ar para os pulmões, pelo que o doente pode ter um problema respiratório. Dois, passa um nervo muito importante naquela zona, que é o nervo que dá a voz, então, uma das complicações desta operação é seccionarmos o nervo e se seccionarmos o nervo há duas coisas que podem acontecer: uma é a pessoa perder a voz por completo e ter que levar um tubo no pescoço, para poder respirar, porque perde a respiração, não consegue respirar, pois este nervo fecha e abre as cordas vocais”, esclarece Ussene Isse.     

Mas com o olhar atento de toda equipa, a cirurgia correu bem, tendo sido removido o tumor com cerca de meio quilo. A paciente evolui bem no pós-operatória, só que mais do que celebrar o sucesso de uma cirurgia, procuramos saber os motivos por que os doentes em Moçambique esperam anos por uma cirurgia. 

“Sentei com os meus colegas e coloquei o assunto na mesa e perguntei qual era a dificuldade que tínhamos no país para fazermos estas cirurgias e os colegas disseram ‘senhor ministro, não falta nada. É só vontade e decisão’. E nos mobilizamos a todos os níveis, em todo o país e quero mais uma vez agradecer os meus colegas, os meus herois porque tínhamos colocado uma meta de 500 cirurgias nos 100 dias mas já estamos quase a atingir 1000”.

Mais do que vitórias dos primeiros 100 dias de governação, como é que o sector da Saúde se estrutura para evitar a continuação de longos anos de espera por uma cirurgia? A resposta foi categórica: esta actividade veio para ficar. 

E enquanto puder, assegura, o ministro cirurgião, vai dirigir algumas dessas operações. “Sabe que é minha paixão ser cirurgião. Gosto de operar. Apesar de estar a ocupar este cargo político continuarei a dar o meu apoio, sempre que for possível, onde estiver. Já fiz em Cabo Delgado; fiz no Niassa e agora aqui em Nampula. Parece que o assunto de entrar no hospital me persegue”.

E lhe persegue também o fantasma das greves dos profissionais. Sobre o assunto, o ministro assegurou que há diálogo para evitar essas greves que como resumiu, são fatais, na Saúde.

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