A selecção nacional de futebol, os Mambas, já se encontra em Maputo desde a manhã desta quinta-feira, numa viagem carregada de muita tensão entre os jogadores e a direcção da Federação Moçambicana de Futebol. Em causa está a questão da premiação que continua a ser o ponto de divergência.
A delegação moçambicana que esteve no CHAN da Argélia chegou por volta das 10 horas à capital do país, vindo de Argel, onde disputou a prova continental reservada a jogadores que actuam nos respectivos países.
O semblante carregado dos jogadores e o silêncio caracterizaram a chegada, revelando claramente o ambiente turvo que se vive no seio do combinado nacional, ainda em rota de colisão com a direcção da Federação Moçambicana de Futebol em torno da premiação.
Aliás, os jogadores ouvidos pelos jornalistas no Aeroporto Internacional de Mavalane limitaram-se apenas a agradecer o apoio dos moçambicanos, sem comentar outro assunto do seu interesse e de interesse público.
Telinho e Lau King foram os únicos jogadores que aceitaram parar para falar à comunicação social e fizeram um balanço positivo da prestação dos Mambas em campo, rejeitando qualquer comentário em torno da questão da premiação que divide os Mambas e a Casa do Futebol.
SAÍRAM NOS “QUARTOS” DO CHAN MAS NÃO QUERIA SAIR DOS QUARTOS DO HOTEL
A viagem de regresso dos Mambas ficou, por instantes, comprometida em Argel, em virtude da recusa dos jogadores em deixar os quartos do hotel, em reivindicação ao prémio pela qualificação para os quartos-de-final do CHAN 2022.
De acordo com a imprensa moçambicana que esteve na comitiva dos Mambas, o voo estava marcado para as 15h30 locais (16h30 de Maputo) desta quarta-feira, mas só uma hora antes do embarque é que os jogadores aceitaram deixar o hotel situado a cerca de 30 Km do centro de Argel.
Teve que haver uma forte intervenção do pessoal do corpo diplomático moçambicano acreditado na Argélia e autoridades argelinas para que o voo atrasasse por cerca de uma hora e meia enquanto a delegação era levada ao aeroporto sob forte escolta policial para flexibilizar o caótico trânsito de Argel.
É que, à hora inicialmente marcada para a saída do hotel para o aeroporto, os jogadores se haviam trancado nos quartos, ameaçando não sair enquanto a situação da premiação não se resolvesse.
Facto mesmo é que os Mambas querem 240 mil dólares dos 400 mil que a Federação Moçambicana de Futebol vai receber pela qualificação para os “quartos” do CHAN, um valor que só vai entrar nos cofres da Casa do Futebol entre três e seis meses, período em que a CAF promete canalizar os valores.
A saída dos jogadores do hotel, segundo a imprensa moçambicana presente em Argel, só foi possível após o organismo que gere o futebol moçambicano ter cedido às exigências dos atletas, comprometendo-se, por escrito, a pagar a verba de cerca de 240 mil dólares, que deverá ser distribuída pelos membros da delegação dos Mambas, nomeadamente jogadores, equipa técnica e pessoal de apoio.
“HOUVE QUEBRA DE CONFIANÇA NOS MAMBAS”, DIZ SIDÓNIO CHAVISSE
À sua chegada a Maputo, o chefe da delegação dos Mambas a Argélia, Sidónio Chavisse, inspector-geral do Desporto, disse a jornalistas que houve quebra de confiança nos Mambas, uma vez que acabaram por reivindicar fora de portas o que devia ser discutido em casa.
Para o inspector-geral do Desporto, as negociações feitas entre os jogadores e a Federação Moçambicana de Futebol não tiveram uma conclusão agradável para a comitiva, o que acabou por gerar uma onda de desconfiança e descontentamento por parte dos jogadores, que fizeram de tudo para ver os seus pedidos atendidos.
Sidónio Chavisse apelou para que as negociações entre os atletas e as federações nacionais das diversas modalidades sejam feitas de forma clara, para que não criem situações que firam o bom ambiente interno.
Já o vice-presidente da Federação Moçambicana de Futebol para Área Financeira, Jorge Bambo, falou de bom senso que acabou por reinar no seio dos Mambas para que a viagem se efectivasse. Bambo não desmentiu a situação que aconteceu nas vésperas da partida de regresso e disse que só uma negociação com os jogadores permitiu o desbloqueio do imbróglio.
Jorge Bambo esclareceu ainda que a última palavra que vincou foi que as negociações continuariam em Maputo, uma vez que fora de portas descredibilizava a Federação Moçambicana de Futebol e o futebol moçambicano.
Assim a delegação dos Mambas está em Maputo, carregando o histórico apuramento para os quartos-de-final do CHAN, entretanto ofuscado pelo braço-de-ferro criado entre os jogadores e a direcção da Federação Moçambicana de Futebol por causa dos prémios de jogos.
Aliás, a chegada dos briosos e heroicos Mambas acabou por não ser com pompa e circunstância que se esperava, e foi carregada de ambiente turvo e silêncio por parte dos jogadores.