Lúpus é uma doença auto-imune, que pode afectar órgãos de diferentes sistemas. Pode apresentar ou não sintomas e o seu diagnóstico é complicado. Acompanhe, a seguir, a história de quem vive com esta doença que, segundo a medicina, ainda não tem cura
Tudo começou em 2013, com sintomas que pareciam ser de uma simples malária. “Comecei a sentir dor de cabeça, dor nas articulações e nos músculos, falta de apetite, vómitos e náuseas“, lembra a jovem, que prefere não ser identificada.
Quando foi ao hospital, submeteram-na a exames de malária, gripe, hemograma, HIV/Sida e todos deram negativo. Recebeu medicação para atenuar as dores, mas seis meses depois os sintomas voltaram e fizeram com que passasse a precisar de ajuda para desenvolver actividades simples, como segurar uma chávena.
Só em 2014 é que descobriu que, por detrás dos sintomas comuns a outras doenças, escondia-se algo mais grave: lúpus. “Fui a uma consulta no dermatologista, porque comecei a sair manchas, borbulhas na pele e suspeitava ser uma alergia. Mas a médica disse que as manchas tinham a forma de asas de borboleta, um sinal comum em pessoas com lúpus. E daí fiz os exames, que deram positivo para a doença auto-imune lúpus”, explicou.
“O lúpus é uma doença auto-imune inflamatória crónica, que faz com que o sistema imunológico do paciente ataque e destrua tecidos saudáveis do organismo. Há mais de 100 tipos de doenças auto-imunes e o Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é um dos tipos mais comuns, podendo afectar o cérebro, as articulações, os rins e principalmente a pele”, explicou a médica internista do Hospital Central de Maputo, Elisa Palalane.
Em Moçambique, ainda não foi desenvolvido nenhum estudo para saber a prevalência do lúpus, mas há cada vez mais pessoas a dar entrada na maior unidade sanitária do país com a doença. “O diagnóstico do lúpus só é feito com base na desconfiança. Há muitas pessoas que têm a doença, mas estão a receber tratamento inadequado, porque não se sabe que elas têm lúpus. O diagnóstico é difícil e não há um exame que detecte com 100 por cento de certeza a doença. O paciente pode ser encaminhado a exames de urina, sangue e um exame denominado FAN (factor ou anticorpo antinuclear), a fim de procurar indícios da doença, e este último ainda não existe aqui no país“, revelou Palalane.
As causas do lúpus ainda não são conhecidas. Os medicamentos devem ser tomados ao longo da vida do paciente, pois a doença não tem cura. Entretanto, os medicamentos não estão disponíveis no Sistema Nacional de Saúde e são caros.
“Comecei por tomar sete a oito comprimidos e hoje tomo só um, porque tenho a doença controlada. Mas era importante que se criassem condições para a disponibilidade das análises e dos medicamentos no nosso país. A falta disso torna tudo mais difícil. Eu sinto cansaço intenso só de subir e descer escadas, e não posso apanhar sol”, conta a jovem, que tem a doença há quatro anos. O repouso é recomendado na maioria dos casos, pois a fadiga é um sintoma comum.
Apesar de todas as dificuldades, a jovem garante: é possível viver bem com lúpus.