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Lúpus: doença rara e mortal que coloca desafios ao país

Celebra-se, amanhã, o dia mundial do Lupús, uma doença que afecta pouco mais de cinco milhões de mulheres no mundo. Em Moçambique, só este ano, pelo menos cinco mulheres perderam a vida, vítimas dessa doença, no Hospital Central de Maputo.

A doença é pouco conhecida, mas é grave e uma das principais causas de morte do serviço de Reumatologia do Hospital Central de Maputo (HCM). É uma doença crónica, auto-imune, de causa desconhecida e que pode afectar qualquer órgão do corpo, desde o sistema nervoso, os olhos, o sistema gastrointestinal, o coração, os pulmões, os rins, o sistema reprodutivo, os ossos, a pele e até o sangue.

Segundo a médica Internista e Reumatologista do HCM, Elisa Palalane, “doença auto-imune” significa que é o sistema de defesa do organismo que devia protegê-lo, mas ataca o próprio corpo.

“A causa do Lúpus é desconhecida, o que faz a doença inicial é desconhecida, o que se sabe é que os pacientes com lúpus nascem com uma pré-disposição genética e, durante a sua vida, estão expostos a diversos factores de risco, que vão estimular e fazer a doença iniciar”, explicou.

Conforme avançou a médica, o país enfrenta dificuldades para confirmar o diagnóstico da doença no sector público, por isso a falta de dados concretos sobre o número de pacientes com lúpus.

Entretanto, sem valores absolutos, os dados avançados indicam que, no HCM, 28% dos doentes da Consulta de Reumatologia têm lúpus e, em 2020, 50% dos doentes internados com patologia reumatológica no HCM padeciam da doença, sendo que 70% dos doentes de Reumatologia, que faleceram no ano passado, na maior unidade sanitária do país, tinham lúpus.

Constância Macuacua, uma paciente no HCM, em conversa com “O País”, contou que foi em 2010 em que iniciaram os primeiros sintomas da doença; feitos testes, descobriram que estava grávida, mas, por causa da doença, o seu período menstrual não se havia interrompido. A gravidez correu bem, todavia, durante a amamentação, surgiram novos problemas, como a anemia aguda, tendo-se, no entanto, recuperado rapidamente.

“Quando pensava que já estava a recuperar-me, os problemas voltaram em 2015, sentia muito cansaço, o cabelo caia, tinha anemia, artrite, manchas no corpo e tinha dores em todo o corpo. Quando fui ao hospital, disseram que tinha tuberculose, iniciei o tratamento, mas não melhorei. Só em 2020, depois de tantos outros exames, é que descobriram que tinha lúpus”.

A história da Constância é igual a de Yumara Khan que começou com os sintomas em 2017, porém, por conta da dificuldade do país para diagnosticar a doença, teve de ir à África do Sul, depois de ter feito o tratamento para anemia e tuberculose.

Outro problema, enfrentado pelos doentes com lúpus, é a falta de medicamentos necessários para o tratamento no sector público, o que faz com que Yumara e outros doentes procurem pelos fármacos nas clínicas privadas do país ou mesmo na África do Sul.

“No sector público, não há medicação, tem havido no sector privado, mas são muito caros e são comprimidos que temos que tomar todos os dias. Por exemplo, a atropina tenho que tomar dois por dia e apanho nas clínicas privadas, tenho que gastar cinco mil meticais para adquirir 60 comprimidos, então prefiro comprar na África do Sul por mês para todos os medicamentos e gasto pelo menos 25 mil meticais”, lamentou.

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