A Associação dos futebolistas moçambicanos assinou com o Instituto de Segurança Social, um Memorando de Entendimento que aponta para a resolução de um dos maiores câncros do nosso desporto, com enfoque particular no futebolista: a incerteza no pós-actividade.
Poderá ser uma emenda pior que o soneto, caso não se cuide de algumas questões centrais, de onde ressalta o facto de se tratar de uma actividade exigente e de curta duração. Há portanto que atender às especificidades e exigências, pois a carreira do jogador, em regra dura pouco mais de 10/15 anos, descontados os períodos de formação e afirmação.
Para os outros profissionais inscritos no INSS, a reforma só começa a ser considerada a partir dos 35/40 anos.
FIM DO PROFISSIONALISMO ENCAPOTADO?
A divulgação/publicitação do rendimento dos nossos futebolistas, passará a ser uma exigência? Ou isso representará o destapar de um tabu?
Na alta competição de hoje, se qualquer cidadão pretender aceder aos rendimentos de um jogador do Manchester United, Benfica ou Sporting, fá-lo com a maior das facilidades. São figuras públicas, pagam impostos e têm salários acima do cidadão comum. Os clubes vivem basicamente da compra e venda dos atletas, “merchandising” e quotas dos sócios. Por esta ordem.
As receitas e despesas correntes, salários dos futebolistas e funcionários – nalguns casos do próprio Presidente do clube – têm contas auditadas, sendo objecto de discussão pública.
Mas entre nós, não vai ser tranquilo. Porquê?
Maioritariamente, a origem dos rendimentos dos nossos clubes, vem das empresas públicas, logo do Estado e, consequentemente dos impostos dos cidadãos. Só uma ínfima parte delas provém dos sócios e simpatizantes.
E todos sabemos que as verbas envolvidas na contratação de um jogador acima da média – nalguns casos estrangeiros – não têm nada a ver com a de um trabalhador médio. E como este reagirá, ao saber que do seu suor, uma parte foi canalizada para a contratação de um craque, que actua num clube, que muitas vezes nem é o da sua preferência?
Contratação de estrangeiros, técnicos bem pagos, deslocações cómodas e atempadas, estágios com boa alimentação, departamentos clínicos à altura, têm custos, nem sempre brandos.
As empresas públicas, terão que gerar e gerir contas paralelas. O espaço entre o ser e o parecer, vai ser alargado. Declarar uma ínfima parte dos rendimentos e depois alocar o resto “por baixo da mesa”, poderá acontecer no imediato.
Mas as soluções definitivas, apontam para um “apanhar do comboio” da modernidade. Nós, porque lhe perdemos o passo, teremos que saltar para as últimas carruagens. A alta competição tem que passar a ser um negócio, em que o craque é o activo principal. Porém, para ele aparecer e impôr-se, no panorama nacional e internacional, o investimento tem que ser DE FACTO na formação, com planos efectivos e não subalternizados, de médio e longo prazos.