Com a eclosão do coronavírus no continente asiático, em Dezembro de 2019, as bolsas de valores e de mercadorias dos países mais industrializados do mundo, começaram a registar quedas nunca mais vistas anteriormente devido ao susto causado aos investidores pela Covid-19 provocando “havoc” nos mercados financeiros na própria Ásia, Estados Unidos da América, Inglaterra, Alemanha, França, etc. É uma situação que tem vindo a desvalorizar as acções colocadas nas bolsas pelos investidores e criando perdas consideráveis.
Não obstante, o coronavírus está a ser responsável pela queda do preço do petróleo por barril dos cerca de USD 60 até dezembro de 2019 para USD 30 até Março passado nos principais países produtores deste recurso, nomeadamente a Rússia e a Arábia Saudita devido à fraca procura por parte dos principais compradores na Índia, China, na Europa Ocidental, incluindo África. Estes factores todos associados poderão contribuir para a queda do crescimento da economia mundial dos 2% projetados anteriormente para 1,5% este ano.
O Coronavírus está indubitavelmente a impactar negativamente na economia moçambicana, atendendo e considerando que o nosso país não é uma ilha, ele é parte integrante do comércio internacional o que torna difícil a mobilidade de mercadorias e pessoas dum país para o outro fazendo com que o comércio internacional não flua a níveis desejados.
Por um lado, com as restrições que se registam na arena internacional, o nosso país já começou a ter limitações para exportar a sua produção, especialmente para países como a China e a Índia que são os maiores compradores dos recursos minerais produzidos no nosso país com maior destaque para o carvão mineral produzido na bacia carbonífera de Moatize, província de Tete, o que tem contribuído de sobremaneira para a queda do preço deste minério no mercado mundial. Além do carvão, o nosso país enfrenta grandes barreiras para exportar produtos agrícolas como o açúcar, tabaco, nozes, castanha de caju, legumes bem como bens pesqueiros para países da Europa nomeadamente o Reino Unido, França, Itália, entre outros.
Por outro lado, devido as restrições que se verificam no mercado internacional, Moçambique naturalmente que está a enfrentar dificuldades para importar diversos tipos de bens e serviços uma vez que a maior parte dos maiores parceiros económicos do nosso estão em “lockdown” mas também porque já existem casos confirmados de coronavírus no país o que inibe a saída de moçambicanos para o exterior por exemplo para a compra de alho na China.
Estes factores estão a concorrer para o agravamento do défice na conta corrente da balança de pagamentos de Moçambique impactando negativamente na entrada de divisas em moeda externa com particular destaque para o dólar norte-americano (a principal moeda usada para o comércio internacional), tendo em consideração que o comércio internacional é a força motriz para o desenvolvimento de qualquer economia. Nenhum país é auto-suficiente na produção de topos tipos de bens e serviços e, por mais que existisse, sem exportar essa mesma produção não pode haver crescimento económico.
Possíveis implicações
O agravamento do desequilíbrio na balança de pagamentos do país devido ao coronavírus se a situação prevalecer por mais 3 meses trará consigo consequências muito devastadoras como a subida galopante dos preços de produtos básicos para o consumo devido à fraca produção no país e alta dependência em relação as importações principalmente da vizinha África do Sul que também debate-se com os problemas de coronavírus o que por um lado encarece o custo de aquisição desses bens de consumo uma vez que regista-se uma ligeira queda do nível de produção e produtividade naquele país vizinho o que faz com que o preço ao consumidor a nível doméstico seja muito elevado corroendo deste modo o poder de compra da maior parte da população moçambicana cujo salário mínimo está abaixo dos 100 dólares norte-americanos provocando uma queda no nível de consumo das famílias. Esta alta dependência em relação às importações é prejudicial para o nosso país uma vez que a mesma concorre para a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar dos Estados Unidos dos cerca de 62 Meticais em Janeiro para 67.69 Meticais em Abril.
Por outro lado o coronavírus já está a afectar negativamente o sector privado nacional com particular destaque para as pequenas e médias empresas que serão obrigadas a terem que optar pelos despedimentos involuntários de alguns colaboradores seus provando um aumento da taxa de desemprego no nosso país e aumentando desta forma a pobreza e quiçá contribuindo para a queda da produção e produtividade das empresas o que poderá provocar a falência das mesmas provocando um caos na economia atendendo e considerando que o sector privado é o vector do desenvolvimento económico de qualquer país, o Estado aparece como regulador da economia.
As actividades como turismo, restauração e hotelaria é que serão os maiores perdedores por causa do coronavírus pois muitas delas vão ter que encerrar as portas devido ao cancelamento de vistos por parte dos turistas estrangeiros e fraca afluência por parte dos consumidores e utentes dos restaurantes e hotéis, respectivamente.
Isto vai resultar no agravamento do défice fiscal por parte do Estado moçambicano uma vez que o imposto é a principal fonte de receita do governo, evidentemente que há sectores da nossa economia que irão registar uma queda acentuada no que ao investimento governamental diz respeito, falo precisamente da saúde, educação, agricultura e infra-estruturas.
Estes todos factores que foram arrolados nos parágrafos anteriores vão agudizar a queda do crescimento da economia moçambicana dos 5,5% previstos para este ano pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em finais de 2019 para 2%. O país estava prestes a mostrar sinais de recuperação após os ciclones IDAI e Kenneth que fustigaram as zonas centro e norte de Moçambique destruindo infra-estruturas e campos de produção agrícola.
Os efeitos do Coronavírus serão mais devastadores que os das dívidas ocultas e dos ciclones IDAI e Kenneth.
Medidas do Banco Central
Recentemente, na última reunião do Comitê de Política Monetária, o Banco Central decidiu libertar 500 milhões de dólares americanos para o sistema financeiro nacional como forma de permitir que os bancos comerciais tenham maior liquidez em moeda estrangeira para fazer face às importações de bens, e serviços e portanto para fazer face à depreciação do metical em relação ao dólar devido à queda do volume e do valor de exportações do nosso país exacerbada pela eclosão do coronavírus no mercado internacional no geral e em Moçambique em particular.
Só podemos esperar para vermos qual vai ser o impacto desta injecção no mercado financeiro a médio e curto prazos, mas naturalmente que se a situação prevalecer a moeda nacional vai continuar a depreciar uma vez que os factores que concorrem para a tal depreciação são vários devido à complexidade da própria estrutura da economia moçambicana. Se o défice de produção no país avolumar-se e as fronteiras continuarem fechadas do lado sul-africano veremos cenários piores ainda, e o dólar poderá disparar para 80 meticais nos próximos dois meses encarecendo cada vez mais as importações.
A medida é bem-vinda mas coloca de lado as pequenas e médias empresas que são as maiores vítimas desta situação uma vez que terão por fim ao cabo que declarar “lockouts” ou seja despedimentos uma vez que sofrerão quedas na produção uma quebra no que diz respeito a oferta dos serviços e bens no mercado e, terão que honrar com os compromissos salariais.
Não tendo alternativa a melhor opção será o fecho das portas e despedir os trabalhadores. Penso que o Governo pese embora esteja a passar por tempos difíceis devido ao défice orçamental agudizado pelas famosas dívidas ocultas e pelos efeitos devastadores dos ciclones que sacudiram o nosso país no ano transacto, deveria encontrar mecanismos para apoiar as pequenas e médias empresas para continuarem a operar e para honrarem com os seus compromissos salarias. As instituições financeiras internacionais e nacionais deveriam também apoiar o sector privado uma vez que este é que garante o bom funcionamento da economia.
Por Elcidio Bachita
Economista e docente universitário