Terminou hoje em Sóchi a primeira cimeira Rússia-África que contou com a participação de 43 Chefes de Estado e de Governo africanos, incluindo o de Moçambique, Filipe Nyusi. Ao longo dos dois dias, o Presidente moçambicano reuniu-se à margem da cimeira com empresas russas interessadas em investir em Moçambique e com os outros líderes africanos e o anfitrião, Vladimir Putin.
Na hora do balanço da sua viagem a Rússia, Filipe Nyusi anunciou que do encontro que manteve com o Presidente do Conselho de Administração da empresa Kamaz que se dedica ao fabrico de viaturas e equipamentos ligeiros e pesados de uso civil e militar, ficou manifestado o interesse daquela entidade instalar uma unidade de montagem dessas viaturas em Moçambique de olho no mercado da SADC. Ainda antes do ano terminar uma equipa daquela empresa deverá deslocar-se a Maputo para inteirar-se das condições e facilidades que o Governo de Moçambique oferece para que a mesma possa materializar o seu projecto.
Outra empresa gigante russa que pretende se instalar em Moçambique é a líder mundial em mineração, processamento e comercialização de diamantes. Para já deverá fazer pesquisas para apurar a ocorrência daquele minério no país, mas depois quer instalar uma fábrica para o seu processamento, tendo como objectivo alinhar-se com a perspectiva do Governo de acrescentar valor aos recursos naturais moçambicanos.
Filipe Nyusi falou ainda do encontro que manteve com a direcção de uma fábrica de fertilizantes, mas também do banco russo VTB que deverá enviar uma missão a Moçambique ainda este ano para negociar com o Governo áreas para as quais deverá canalizar financiamentos, mas também aquela instituição financeira predispôs-se a analisar a proposta feita pelo executivo em relação a reestruturação da dívida contraída no âmbito do escândalo das chamadas “dívidas ocultas. No entanto, Filipe Nyusi esclareceu que a proposta apresentada tem em vista o acórdão do Conselho Constitucional que considerou nulas as garantias soberanas emitidas para a emissão da referida dívida e todo o processo inconstitucional.
Ainda em Sóchi, Filipe Nyusi reuniu-se com o seu homólogo Vladimir Putin. Na mesa das conversações esteve o processo eleitoral mas também os esforços conjuntos entre Moçambique e Rússia no combate aos insurgentes em Cabo Delgado. Mas também houve garantias de que Putin pessoalmente ajudaria Moçambique a captar mais investimento de empresas russas.
Nyusi reuniu-se ainda com Cyril Ramaphosa com que falaram sobre as eleições e a segurança no país e transfronteiriça. O Presidente Sul-africano, segundo o Chefe de Estado moçambicano, deu garantias de que as autoridades do seu país estão a envidar esforços para prover segurança aos moçambicanos residentes naquele país para que não voltem a ser alvos de ataques xenófobos. E em breve, Ramaphosa deverá ir a Maputo com sua equipa para dar mais detalhes à sua contraparte sobre os esforços em curso para assegurar tranquilidade à diáspora moçambicana no seu país.
Outro encontro mantido por Filipe Nyusi foi com o Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, cujo assunto foi o recente assassinato de um cidadão ruandês na Matola. Os dois presidentes concordaram em aguardar pelos resultados da investigação em curso para explicar o crime. Ainda em Sóchi, Filipe Nyusi manteve encontros bilaterais com os seus homólogos do Quénia, Malawi, Namíbia e do Zimbabwe. Em relação a este ultimo, a conversa incidiu sobre a crescente necessidade do país vizinho incrementar o uso dos portos moçambicanos para o seu comércio externo, com maior incidência na importação de combustível e futuramente do gás natural.
Putin elogia Nyusi
A cimeira Rússia-África teve o seu ponto mais alto com a realização da sessão plenária co-dirigida pelo anfitrião Vladimir Putin e pelo Presidente em Exercício da União Africana, no caso o do Egipto Abdel Fatah Al-Sisi. Nessa sessão todos os Chefes de Estado e de Governo presentes em ordem alfabética e durante três minutos tiveram a oportunidade de falar sobre como deve ser feita a cooperação com a Rússia nas áreas de defesa e segurança e na economia.
Quando chegou a vez de Filipe Nyusi, que foi o penúltimo, Vladimir Putin quebrou o protocolo e na hora de convidar o Chefe de Estado moçambicano a falar. Fez uma breve introdução para elogiar o seu homólogo que em Agosto passado convidou-o para Kremlin e foi nestes termos: “queremos felicitá-lo pela vitória nas eleições e também ele mostrou como é que se pode lutar contra bandidos no seu país” disse Vladimir Putin, certamente a se referir aos insurgentes que têm protagonizado ataques na província de Cabo Delgado. Salientar que depois da visita de Estado de Filipe Nyusi a Rússia em Agosto passado, a Rússia enviou peritos e equipamento militar que tem estado a apoiar as Forças de Defesa e Segurança no ataque aos insurgentes e tal já permitiu o retorno de algumas comunidades que antes haviam se deslocado para outras regiões nos distritos de Macomia e Mocímboa da Praia.
Depois de tomar a palavra Filipe Nyusi deixou ficar a sua opinião sobre o tema em debate. “Senhor Presidente Putin, a pujança económica e empresarial e acumulada experiência técnico-científica da Rússia constituem uma base sólida para a promoção de parcerias mutuamente vantajosas em diferentes campos. Com as empresas russas apoiadas pelo seu Governo podemos explorar a elevada demanda de serviços para dinamizar a diversificação das nossas economias e o processo de transferência de tecnologias. Queremos que os nossos recursos sirvam efectivamente as nossas populações e não façamos parte de um modelo económico deliberadamente constituído para perpetuar a transferência de matérias primas e capitais” disse Nyusi.
Após terminar o seu discurso Putin voltou a comentar “tem razão porque as relações económicas entre Moçambique e a Rússia tem raízes muito profundas e desejamos êxito ainda melhor” terminou o Presidente russo.