Lurdes Mutola foi a estrela mais cintilante que o país produziu, com vitórias que colocaram Moçambique a meio da tabela em Olimpíadas, algo de que poucos países se podem orgulhar. Mas o sucesso extraordinário da nossa Menina de Ouro ficou a dever-se à sua atitude fora das pistas: o rigor na preparação e manutenção do físico eram afinal apenas a parte mais visível do sucesso. O outro lado, não menos difícil, foi a forma como geriu e gere os milhões de dólares que arrecadou, mantendo a humildade que sempre a caracterizou.
Com residências na África do Sul e em Moçambique, sem dar nas vistas, tem apoiado o enquadramento de alguns talentos que despontam no atletismo. Ficou desencantada com a resistência que encontrou no projecto que seria patrocinado pela Nike, de fazer do Parque dos Continuadores um viveiro de futuras estrelas. Mesmo assim, vai investindo os seus rendimentos de forma controlada, muito longe do “show-off” que costuma ser característica das meninas recém-endinheiradas.
Mas para além de Mutola, temos outros atletas que embora com menos cifrões amealhados, protagoniza(ra)m carreiras de sucesso, sem que lhes subisse à cabeça o “néon” que os salários acima da média proporcionam.
A imagem – por vezes empolada – que a Comunicação Social, sobretudo da Europa, projecta dos craques africanos, em regra, aponta-os como esbanjadores, que ganham milhões para depois os perderem, tentados pela droga, álcool e vida fácil, terminando as suas vidas na penúria.
No caso de Moçambique, felizmente, não temos registos desse tipo. Bem pelo contrário. Após as suas carreiras, demonstrando amor à terra, os craques regressam para que a sua experiência seja útil à sociedade que os fez nascer.