A expulsão do presidente Cyril Ramaphosa do comício alusivo ao Dia Internacional dos Trabalhadores é lamentável e inaceitável, mas mostra a frustração da massa laboral e deve servir de alerta ao ANC, considera a Confederação dos Sindicatos da África do Sul (COSATU).
Cyril Ramaphosa não foi permitido discursar no comício alusivo ao Dia dos Trabalhadores, no último domingo. Foi apupado pelos trabalhadores, descontentes com a alegada inércia das autoridades em atender às suas reivindicações.
Um grupo da massa laboral das minas de ouro de Sibanye Stillwater, em greve há meses, aproveitou a efeméride para exteriorizar o seu agastamento com a COSATU, o ANC e o governo sul-africano.
No local escolhido para o comício, os ânimos saíram do controlo, Ramaphosa tentou, por duas vezes, acalmar os trabalhadores grevistas, mas todo o seu esforço foi nulo e teve que, rapidamente, abandonar o evento sem discursar.
Na segunda-feira, a COSATU reagiu ao episódio dizendo que se tratou, sem dúvida, um incidente lamentável e inaceitável, e que deverá merecer atenção adequada na numa reunião a ter lugar no fim deste mês. E é preciso notar que parte do que aconteceu reflete a crescente frustração dos trabalhadores sul-africanos.
“Historicamente, o Dia do Trabalhador é um dia em que os trabalhadores reflectem sobre as suas lutas e fazem pressão por mudanças. Esta é uma mensagem que o ANC não pode alegar ter entendido mal e que não pode mais ser ignorada”, defende a COSATU.
Citando o revolucionário marxista e teórico político Leon Trotsky, a COSATU disse mais: “o partido que se apoia nos trabalhadores, mas serve a burguesia, no período de maior agudização da luta de classes, não pode deixar de sentir os cheiros exalados do túmulo à espera da greve. Os trabalhadores têm motivos para ficarem furiosos quando 2,2 milhões de pessoas perderam seus empregos nos últimos dois anos (…)”.
Para a confederação, um desemprego real de 46%, salários estagnados e cortes orçamentais esgotaram a paciência dos trabalhadores sul-africanos, daí que “esperamos que as rupturas (…) levem o ANC e o seu governo a agir. Isso ameaça a coerência e a legitimidade da aliança aos olhos da classe trabalhadora. Há uma necessidade urgente de abordar e reviver a confiança dos trabalhadores. Este governo precisa provar que possui a capacidade de cumprir os compromissos do Manifesto Eleitoral do ANC de 2019”.
RAMAPHOSA REAGE À SUA EXPULSÃO
O presidente sul-africano reagiu ao embaraço a que foi sujeito pelos trabalhadores. Cyril Ramaphosa afirma que as queixas da massa laboral devem ser ouvidas até porque demonstraram um nível mais amplo de descontentamento.
Através desta mensagem no seu boletim semanal, Cyril Ramaphosa, pronunciou-se, esta terça-feira, em relação ao facto de ter sido impedido de dirigir a cerimónia alusiva à celebração do Dia dos Trabalhadores.
Segundo o chefe do Estado sul-africano, os trabalhadores demonstraram um nível mais amplo de descontentamento, o que reflete, também, um enfraquecimento da confiança com o sindicato a que estão filiados, bem como com a liderança política e as instituições públicas.
Ao levantar a voz, os trabalhadores queriam ser ouvidos. Eles queriam que os seus líderes sindicais e governo apreciassem as suas preocupações e entendessem os desafios que enfrentam.
Como dirigentes políticos e sindicais, todos ouvimos os trabalhadores e compreendemos a sua frustração, mas, mais do que isso, deve-se tomar as medidas necessárias para melhorar as suas vidas e suas condições de trabalho, o que o governo não pode fazer sozinho.
De acordo com Ramaphosa, as queixas salariais dos trabalhadores, no domingo passado, merecem a atenção de todas as partes interessadas, empregadores e trabalhadores para que um acordo justo e sustentável seja alcançado. E governo, compromete-se a fazer a sua parte nesse sentido.
Aliás, naquele dia, os trabalhadores deixaram claro o que quase todos os sul-africanos sabem: a classe trabalhadora e os pobres na África do Sul estão a sofrer.
Eles deixaram claro que devemos fazer mais, e agir com maior urgência, para lidar com questões de desemprego, pobreza, privação e fome, assim como melhorar e consolidar os progressos significativos feitos atreves da provisão geral de serviços básicos e acesso à educação e saúde.