O País – A verdade como notícia

Combate ao terrorismo: nova agenda nacional

Ninguém dúvida que o 11 de Setembro de 2011 mudou por completo a forma como o mundo lida com o terrorismo. A resposta imediata do ataque da Al Qaeda nos Estados Unidos da América foi o reforço dos serviços de inteligência americana e com base nisso foi possível perseguir células terroristas no mundo e os seus cérebros, o que culminou com o assassinato de Bin Laden.

Os ataques iniciados a 6 de Outubro corrente na vila da Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado não pode de jeito algum ser ignorado ou equiparado a um ataque isolado, sem nenhum significado subjacente. Muito pelo contrário, aquilo é um indicativo de que qualquer um de nós, em qualquer canto deste país pode acordar no manto de um ataque terrorista. Todos podemos ser vítimas e por isso o combate a esse fenómeno deve fazer parte da agenda nacional.

Aqui já não estamos perante um conflito militar entre o Governo e a Renamo, onde os alvos estão bem identificados. Lembremo-nos que naqueles ataques, os homens armados abriram fogo na Esquadra da Polícia, onde de forma indiscriminada espalharam terror com os violentos disparos de armas de fogo tipo AKM. Podiam estar cidadãos queixosos naquele instante e podiam ter morrido. Nas comunidades onde os mesmos se refugiaram depois dos ataques a polícia fez uma rusga e também disparou, recorrendo, até, à artilharia pesado, pelo que podiam ter morrido cidadãos inocentes.

Semana passada o Conselho de Ministros anunciou a aprovação da Lei que combate actos terroristas. Salvo o erro é a primeira na história do país. Já é um passo, mas falta o essencial: orçamento que fortifique os serviços de contra inteligência policial e das Forças de Defesa e Segurança. Podem questionar a prioridade da segurança num país que sofre de fome, de crise financeira aguda, etc. A resposta podemos encontra no vizinho Zimbabwè, por exemplo, onde mesmo com a crise sempre subiu o orçamento para a área da segurança do Estado.

Mas isso é futuro! Olhando para o passado e o presente ficou indignado: como se explica que grupos de jovens armados tenham se incubado durante três anos e os serviços secretos não conseguiram os desactivar? A Polícia, ali perto foi comunicada e não agiu para evitar o pior. Consequência, 17 pessoas morreram naquele ataque dos chamados homens do Al Shabaab. Alguém devia ser responsabilizado. O comandante distrital seria o primeiro a cair. Só como estamos num país…”queixa a andar”, como escrever Mia Couto.

Um bom médico não é avaliado pelo mínimo número de erros que comete, mas sim pelos erros que não comete. Então, um bom serviço secreto de segurança do Estado é aquele que é capaz de interceptar e desactivar planos de atentados. No nosso caso, a “secreta” chumbou.

Mas tenho também questões por fazer. Quem são aqueles homens armados? Quem os financia com armamento de guerra? Com que intenção? E porque é que escolheu Mocímboa da Praia? Justamente ali na vila onde fica o aeródromo bastante usado pelas companhias que estão envolvidas nos projectos de gás em Palma, também naquelas bandas? Que mensagem queriam passar ao atacar a Polícia?

Na entrevista publicada na edição de ontem deste, o filósofo Severino Ngoenha abordou a questão do ressurgimento dos grupos étnico-regionais e fez uma relação com a descoberta dos recursos minerais no Norte que podem polarizar ainda mais este mal social. Numa das passagens disse algo que achei muito interessante: “Suspeito (também) de que alguma comunidade internacional ou algumas empresas internacionais não estão completamente livres ou independentes deste fenómeno. Algumas pessoas têm interesse em que este fenómeno se alargue, isto é extremamente perigoso para um dos fundamentos da vida de Moçambique, que é a nossa Unidade Nacional”.

Concordo plenamente com esta visão do Professor Severino e acho que pors detrás dos homens armados que criaram terror em Mocíboa da Praia há interesses que devem ser investigados e desmascarados. Não nos esquecamos que a segurança dos mega-projectos de gás do Rovuma é um negócio bastante lucrativo. Armando Guebuza, enquanto chefe de Estado, fez um investimento na área militar, onde sabemos que parte da frota de barcos encomendados em nome da Ematum, afinal de contas outros era para o exército (fiscalização das águas territoriais moçambicanas). Infelizmente a forma como esse investimento foi feita fez com que fosse completamente combatido – as chamadas dívidas ocultas que nos levaram ao túnel da crise do qual nem temos perspectivas de sair. Verdade, porém, é que as empresas multinacionais do ramo de segurança privada não iam gostar de perder o negócio em Moçambique. Com efeito, os ataques na Mocímboa da praia não seriam uma forma de desacreditar a capacidade nacional de garantir segurança a esses projectos para legitimar a contratação de empresas internacionais por parte dessas companhias?

Ademais. Porque é que esses ataques não aconteceram na província de Gaza onde não há qualquer investimento de vulto?

O que quero dizer é que o “timing” em que os ataques acontecem (quando se caminha para o início da exploração do gás que nos coloca no espectro do mundo dos gigantes como a Rússia e Estados Unidos), o local e os alvos escolhidos não foi ao acaso e cabe aos Serviços de Informação e Segurança do Estado investigar profundamente e evitarem o desenvolvimento de movimentos terroristas como assistimo. 

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos