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De Sporting para Maxaquene passando por Leões e Asas

Xi-Ca Cau

Memórias ricas, que o tempo não pode apagar: os novos nomes em clubes nacionais. Já lá vão quatro décadas!

Foi num comício muito concorrido, que o Presidente Samora Machel orientou, de forma enérgica, que não fazia mais sentido os clubes moçambicanos continuarem a ostentar designações dos colonizadores, ou de cariz tribal e religioso. Aplausos. Restava cumprir a ordem.

Nós, os jornalistas, de regresso às redacções, que passo daríamos a seguir? Se já não havia Sporting, nem Benfica, nem Mahafil ou Atlético Maometano; se ao Gazense, Inhambanense e outros, lhes haviam sido amputados os nomes, mas as competições prosseguiam, como é que nós, na Comunicação Social, poderíamos noticiar os próximos eventos?

A longa reunião na Secção Desportiva do Notícias resultou num contacto com o então Director Nacional, João Carlos da Conceição, que por sua vez fez consultas à Ministra da Educação, Graça Machel. Debalde. A resposta foi: contornem vocês o problema, mas esses nomes não podem ser usados.
O que fazer? Foi então que o Albuquerque Feire, um velho jornalista desportivo já falecido, trouxe a “gazua” que resolveu o problema. A introdução do “ex”. Moral da história: até à criação dos novos nomes, os clubes abrangidos seriam tratados da seguinte forma: ex-Sporting, contra ex-Benfica, no campo do ex-Mahafil. Imagine-se a tabela classificativa, cheia de ex…

Só à terceira AG nasceram os Maxacas

No meio deste delicado momento da mudança de nomes, é engraçado recordar o percurso do Sporting de Lourenço Marques, até chegar à designação Maxaquene. Na primeira AG nesse sentido, decidiu-se pela mudança para… Leões da Gorongosa. Dessa forma, manter-se-ia o símbolo e a génese leonina. Palmas e aplausos se sucederam.

Mas o Presidente Samora Machel queria mudanças efectivas e não cosméticas. Num comício dias depois, declarava: “mudaram de Sporting para leões, para nos enganarem. É como mudar a água de uma garrafa verde para um vasilhame branco e dizer que já não é água. Mudem de facto, queremos designações bem nacionais”.

Nova AG, nova tentativa, novo fiasco. Pela ligação às Linhas Aéreas, o novo nome proposto foi o de… Asas de Moçambique. A aprovação não agradou a todos. E mesmo antes da publicação no BR, a Direcção foi obrigada a convocar uma nova sessão magna.

A quem coube então a proposta, que acabou ficando, de se adoptar o nome do bairro em que o clube estava inserido? Ao saudoso Domingos Moura, um adepto de quatro costados, que apesar de leão, entendia a justeza da mudança.

E assim nasceu o Maxaquene, com novas cores, colectividade que com este nome já obteve inúmeros troféus, sobretudo em basquetebol, onde conquistou, em masculinos e femininos, títulos africanos.

Beira: Palmeiras, sim… mas com o leão!

Parece uma anedota, mas não é. A obrigatoriedade da mudança de nomes era para todo o território nacional. E nada obrigava as províncias a copiarem-se os nomes dos clubes da capital, até porque alguns optaram pelos dos seus bairros, designações apenas existentes em Maputo.

Vai daí, o Sporting da Beira, cujo presidente era um magnata chamado Abdul Azize, após muito resistir à mudança, concordou com o nome Palmeiras da Beira. Mas era preciso mudar o emblema, tirar de lá o leão. O mais lógico e acertado, era o símbolo passar a ser uma bonita palmeira.

Que fazer? – pensou o Azize. E acabou aceitando, mas… mandando desenhar na base da palmeira, a espreitar, um leãozinho do seu Sporting.

Foi, na realidade, mais uma batalha que se teve de travar, para remover o último símbolo do sportinguismo da colectividade beirense!.

 

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