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Na puberdade do poema de Bwana Yesu

Tão, somente, estamos diante de um escritor/poeta que, pese embora, a sua juventude, demonstra, já, afã de, como um alpinista decidido das letras, alcançar os píncaros do monte literatura. Esta é a sua segunda fase de escalamento, cuja secção é: NA PUBERDADE DO POEMA que, sendo o título da obra, o poema que o inspira fecha o transe poético do autor, em vista outros e mais transes. Nesta escala, Bwana Yesu, vai ganhando, mais do que mera visibilidade de quem se expõe, vai ganhando admiração pelo reconhecimento, sem rodeios, de que, ainda está na fase púbere da sua poesia. Uma espécie de autoflagelação. Mas é exagerada modéstia, apresentar a sua poesia estacionada no, mesmo que passageiro estágio de puberdade. É debutante nesta arte, mas pela força que imprime ao seu trabalho, a ela inerente, desde a génese da sua frequência no parnaso, já lêramos, em 2015, REINVENTAR MOÇAMBIQUE, é alguém em quem se pode e deve-se esperar mais e mais ao mesmo tempo que se investe na lapidação efectiva deste poeta nascente.

Nesta obra depara-se-nos, na Parte I, uma lírica que vai, de emoção em emoção, expondo os seus mais íntimos sentimentos, sobretudo quando o pano de fundo é Maria que tanto pode ser sua mãe, sua amada ou outras mulheres, comungando a mesma graça, são, de forma tripartida, susceptíveis de serem alvos das setas do cupido que repousam na bolsa que ele traz a tiracolo junto ao seu arco. No poema «Vozes Histéricas», o sujeito poético expressa a desconstrução da fabulosa deificação do ser humano dizendo: “Emancipamos erectos/A loucura dos deuses que somos/Tu e eu/Quando nos punimos pecando” ou em «Inverno de Minha AlmaIII» quando, a sua ausência significa o sofrimento de Maria ou seja, a desfolhada outonal de espera de floração noutra estação: “Quando já é outono na tua tarde, Maria/A minha presença nega-se a aparecer/ e tu, amada, vais acumulando uns frios para sofrer”; ou, ainda, no poema «Conquistar-te» quando o sujeito poético se divide, pelas Marias que ama: “Assim,/Vou-me tornando poeta/para cobrar-te, Maria/Este beijo, abraço, carinho e amor”. Quando a Maria vive no corpo da sua mãe, por exemplo, no poema «Hino à minha Maria»: “Juro, Maria, minha mãe/Juro, minha mãe, minha amada/Que minhas mãos, que não te entendem,/Clamam por tocar-te, sublimando/Todas as horas que te fazes deusa do meu império/(…)/Maria, mãe amada/Que vives a mesma vida todo o dia/Vende-me tua velhice, tua pele caída/A preço de outras vidas do amor”.

A Parte I deste livro «Não Vou ao Poema sem ti», é uma multiplicidade de fórmulas que Bwana Yesu emprestou ao sujeito poético para expressar os contornos líricos da sua alma que se redobra numa dança imagética que pintalga o amor com as cores que lhe são intrínsecas, porventura, seriam as do arco-íris que transportam no seu perfil a afabilidade, o fim de todos os breus e anunciam o brilho do novo e brilhante dia, musicado por milhentas aves canoras do mundo!  

Na Parte II do livro (Sociamada), Bwana Yesu vai para além do amor platónico, aquele em que o cupido se esfalfa buscando guarida para os seus mais íntimos desejos de satisfação, para a sua Paixão ou, simplesmente, transcende esse sentimento para atingir o social que, pela sua natureza, não se nega a socializar o amor.

É impressionante a analogia que sugere o poema «A Cópula», em que o autor dá ao sujeito poético o ensejo de, ao fazer que o acto copulativo entre duas pessoas seja transladado da fricção corporal, para o acto da escrita, pois, há identidade dos momentos que depois produzem o clímax, o clímax como resultado da cópula entre dois amantes e o clímax como resultado da cópula da escrita.

Aos moçambicanos que sonham, no poema «Sociedade», diz que “A vida deve recomeçar” e depois questiona “E nós… Renascer?”, perante a visão geral dos “Dedos que se roçam vazios/Bocas famintas, sem beijos/A chuva que cai já não molha/O medo da morte foi-se/Já não escrevemos nem sonhamos/Os horizontes tristonhos desvanecem; ou em «Complexidade»: “Falta-nos luz/Vamos apalpando,/Apalpando… até tocarmos os objectos/Faltando verdade/Vamos mentindo/Mentindo… até perdermos os objectos”; ou em «Poema urbano», em que os “mendigos que fabricamos”, são painéis vivos, ambulantes que nos apresentam na sua exposição pública “Num beco da cidade”, poemas “Num rosto chorando,/Numa margem de nervos”, poema “Num estômago vazio/De dono a partir/Para um sonho em neblina”; ou “O poema, sim,/De versos desgraçados/Da vida moribunda que vive/Das horas tristes que merecemos”.

Sente-se, no vibrar da verve de Bwana Yesu, o canto lírico e subjectivo, intimista se se quiser, que envolve o quotidiano de um sentimento, mas, também, a extensão cósmica desse sentimento, abrangendo, dessa forma, tudo o que completa as vivências de uma sociedade imbuída de si mesma e de tudo o que constitui o seu meio existencial.

 

 

 

 

 

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