Há três dias que centenas de casas estão inundadas, na Cidade de Maputo, devido à chuva que cai desde o último sábado. Os moradores estão agastados com a situação e pedem a intervenção das autoridades para minimizar o sofrimento.
Que as casas de alguns bairros da capital do país ficam inundadas quando chove nem é novidade. Desta vez não foi diferente! Já lá se vão três dias que a palavra que mais se ouve na Cidade de Maputo é “casas alagadas” que ganhou o significado de dias difíceis para quem tem a cidade das acácias como sua residência.
Caetano Sitoe sabe de que estamos a falar. Passa dias sem dormir na sequência da chuva que cai desde sexta-feira. “Choveu naquela noite e o quintal ficou alagado sem ter como sair. Tive que tomar banho fora do quintal, vestir na estrada porque a situação está assim e não temos como”, contou Caetano Sitoe, residente no bairro Maxaquene “C”, na Cidade de Maputo.
Caetano Sitoe vive no bairro Maxaquene “C”, na Cidade de Maputo. Abriu as portas da sua casa para descrever o dia-a-dia passado no meio da água da chuva. “Não quero viver como peixe, tenho que ficar, para comer também tem que ser lá fora. O que a minha esposa quer cozinhar, eu vou comprar porque ela não tem como sair. A sorte é que onde ela cozinha, a água entra mas desaparece muito cedo, então consegue cozinhar ali e, se não tivéssemos aquilo, teríamos de cozinhar por cima das mesas”, narrou Caetano Sitoe.
Na luta de salvar o que puder que Caetano Sitoe teve que improvisar algumas estratégias para evitar que os seus móveis molhassem. “Tirei os meus bens, deixei-os um pouco em cima e até não posso voltar a colocar no chão, porque não temos como. É a situação da nossa vida”, disse o morador de Maxaquene “C”.
Uma vida que ninguém gostaria de ter. Pode não ser esta a forma de viver, mas os moradores de Maxaquene “C” não têm muitas opções quando a mãe natureza decide fazer das suas.
“Estamos mergulhados nas águas. Tomamos as crianças e colocamo-las sobre as mesas. Ficamos dentro da água até amanhecer. E mais, as casas e os muros já estão a degradar-se e inseguras. Um dia, tudo vai desabar por conta das águas. No dia que ouvirem que em Maxaquene morreu o povo é quando irão resolver o problema”, alertou Filomena Guidione, moradora do bairro Maxaquene “C”, capital do país.
Estão cansados de um problema que está a perigar a sua saúde e a revolta é inevitável. “A sujidade das casas de banho vem às nossas casas. Veja qual o nível das águas dentro das residências. Não seria melhor tirarem-nos daqui para um lugar qualquer, ainda que seja mato para sairmos dessa imundície?”, apelou Filomena Gudione.
Enquanto não saem da zona inundada, os moradores vão improvisando locais para preparar as refeições e cozinham onde ninguém pode imaginar: no tecto. “Para subirmos até lá, usamos o muro e, chegados àquele sítio, colocamos o fogão para podermos cozinhar”, revelou Ércia Manhique, também residente do bairro Maxaquene “C”.
E os residentes de Maxaquene “C” sabem qual é a origem das inundações. A bacia de retenção de água construída no ano passado pela edilidade é apontada como a causa das inundações. O objectivo era que retivesse a água.
A bacia, até reteve a água, mas não o suficiente para que a mesma não invadisse as residências à sua volta. “Aquilo que chamam bacia é uma tigela. A água que vem de Coop, Frangão, Maxaquene “C” vem para aqui (referindo-se à bacia), então não suporta quase nada. É uma brincadeira o que fizeram”, criticou Caetano Sitoe, secundada por Ércia Manhique, que afirma que “por conta da bacia, a água da chuva pode chegar a ficar duas semanas ou mais”.
Nas margens da Estrada Circular de Maputo, há casas inundadas. Na zona do Chiango, vivem os reassentados da explosão do paiol de Malhazine e, agora, a preocupação não são mais os engenhos explosivos, mas as inundações. “É o que vocês vêem. Dentro de casa também está cheio de água. Os quartos não escaparam e as crianças não têm onde se sentar”, narrou Angelina Jaime, residente de Chiango e afectada por inundações.
Com o interior da casa e o quintal tomados pelas águas da chuva, é quase impossível viver por estes dias. “Não temos vida. Não temos o que fazer. Não há onde fazer lume e muito menos cozinhar. Dormimos em cima da mesa, isso para quem tiver ou na cama, mas para tal tem de elevá-la um pouco, colocando blocos por baixo”, desabafou a moradora da zona do Chiango.
A cama pode até estar mais para cima, mas a água, esta, continua dentro das casas e coloca em perigo a vida dos mais novos. “A minha filha, naquelas brincadeiras, de repente caiu e afundou na água. Graças a Deus, consegui tirá-lo e fiz com que cuspisse a água que tinha bebido e ficou bem”, descreveu o drama vivido Lézia Sebastião.
A solução para frequentes problemas de inundações naquela zona passa por indicar um outro local para reassentar as famílias. “Queríamos que fossem eles (da Reencontro) para falarem com o Governo para que nos arranjem um sítio. Não estamos a dizer que nós é que vamos procurar. Que vejam um sítio para colocarem todos nós que estamos a viver nesta zona”, propôs Marta Nuvunga, residente de Chiango e um dos afectados pelas inundações urbanas.
O secretário do bairro esteve no local para avaliar os impactos e à nossa reportagem disse que nem sempre a zona teve inundações e sabe de onde o problema surge. “Quando surgiu a Circular, criou uma espécie de bloqueio em algumas zonas, porque as águas tinham tendência de descer até à zona baixa, mas, agora, a estrada está numa elevação, as águas já não atravessam para o outro lado e não há valas”, indicou Arnaldo Hell, secretário do bairro Albazine, na Cidade de Maputo.
Enquanto isso, o secretário do bairro disse que já reportou o problema à edilidade e aguarda pela resposta.