António Bauase, um dos co-réus do caso de conspiração contra a segurança do Estado em julgamento no Dondo, confirmou que recrutou jovens para a empresa de segurança de Sandura Ambrósio e negou que fossem para a Junta Militar da Renamo.
Ele afirmou tal facto durante o processo de produção de provas, durante o segundo dia de julgamento, que decorre no tribunal Judicial de Dondo, em Sofala, onde estão a ser julgados seis indivíduos, membros da Renamo, acusados de apoiar financeiramente a auto-proclamada Junta Militar da Renamo e de ter recrutando jovens para engrossar as fileiras da Junta.
Depois dos primeiros dois co-réus, nomeadamente Aniva Joaquim e Gabriel Domingos, negaram perante o juiz na passada sexta-feira, que tivessem conhecimento de recrutamento para junta militar, nesta quarta-feira, outros dois co-réus, nomeadamente Eugénio Domingos e António Bauase, também negaram que sejam colaboradores de Nhongo e explicaram que o recrutamento tinha em vista a preencher vagas num empresa de segurança privada denominada Mambas, que pertence ao empresário e antigo deputado da Renamo, Sandura Ambrósio, um dos co-réus.
António Bauase, tido como recrutador dos outros co-réus, disse ao tribunal que tudo começou em Setembro do ano passado, quando Sandura Ambrósio falou-lhe da necessidade de contactar pessoas de confiança para trabalharem na sua empresa de segurança, que possuíssem a 7ª ou 10ª classes, Bilhete de Identidade e Nuit. Bauase envolveu-se na campanha eleitoral em Setembro do ano passado e afirmou que ficou sem tempo para atender ao pedido de Sandura.
Em Novembro, continuou Bauase, o assunto foi reatado, através de uma nova ligação efectuada de Sandura para ele e na altura este último forneceu-lhe um número, que chegou a gravar, no seu telefone, com o nome de líder testemunha de jeová, para na eventualidade de não conseguir falar com o empresário, poder ligar para o referido número como alternativa para tratar do caso de emprego, já que muitas vezes, quando Bauase ligava para Sandura, nem sempre este atendia prontamente o telefone.
Sandura havia prometido arranjar dinheiro para passagem para as pessoas que recrutasse, mas passado algum tempo, já em Dezembro, Sandura já apresentava dificuldades na disponibilidade financeira e orientou Bauase a pedir emprestado, confirmou a explicação deste último.
Bauase iniciou os contactos e no dia três de Janeiro deste ano, já tinham mobilizado três pessoas, nomeadamente os co-réus, Aniva Joaquim, Gabriel Domingos e Eugénio Domingos. Estes dois últimos são parantes.
No dia 4 de Janeiro partiram os quatro de comboio de Marromeu para Dondo. Antes disso Bauase disse que no dia anterior, na presença dos “recrutados”, contactou Sandura Ambrósio, dando indicações que partiriam no dia seguinte e na altura o empresário teria lhe fornecido um outro número, que não se recorda, que deveria ser contactado assim que chegassem no Dondo
Bauase confirmou que chegado na estação de Dondo, recebera instruções a partir do contacto com o primeiro número fornecido por Sandura Ambrósio, que deveria seguir, com os outros três co-réus, para o distrito de Nhamatanda, de transportes semi-colectivo de passageiros e dai para a região de Macorococho, onde deveriam se encontrar com o suposto proprietário da empresa onde deveriam trabalhar.
A informação, de acordo com Bauase, criou surpresa, desconforto e resistência no meio do grupo e levantou um debate. Os co-réus decidiram adiar a viagem para o dia seguinte. Instantes depois e quando estavam a dispersar, foram todos detidos por agentes da polícia.
António Bauase confirmou que fora contactado directamente por Sandura Ambrósio e três outros reclusos, em nome do empresário, na Cadeia Central da Beira, para supostamente, em sede do Tribunal, inocentar Sandura Ambrósio, com promessa de mais tarde ser restituído a liberdade, mas não nas datas(13 e 14 de Janeiro) conforme consta da pronúncia deste caso, mas em dias posterior. Sandura teria igualmente pedido a Bauase para afirmar no tribunal que não conhecia os outros co-réus neste processo, pedido este que foi recusado, facto que levou Sandura Ambrósio, de acordo com Bauase, a ameaçá-lo. Bauase explicou ainda 6 que Sandura disse-lhe que fizera tais pedidos sob orientações dos seus advogados.
Bauase desmitiu as acusações segundo as quais conhece Mariano Nhongo e que as pessoas que recrutou em Marromeu deveriam seguir para a Junta Militar da Renamo. Ele explicou ao Tribunal que fez tais afirmações anteriormente porque no comando da Polícia em Dondo, foi levado para a traseira do edifico, onde foi torturado por agentes da PRM e recebeu ameaças de morte se não assumisse que eram colaboradores de Mariano Nhongo. Bauase acrescentou que na sequência das agressões, acabou dizendo que ia para Macorococho, para se juntarem a Mariano Nhongo.
A audição de António Bauase será retomada na próxima sexta-feira. No mesmo dia deverão ser ouvidos mais dois co-réus, nomeadamente Rosário Luís Tomo e Sandura Ambrósio.