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Amad Mogne ditou leis nas alturas

Era magrinho e gostava de jogar futebol na escola. Como todos os amigos do bairro. Veio o “mini-básquete” e a paixão começou a sofrer uma viragem. E a falta de altura? Diz-se que o basquetebol “estica”. Será? A verdade é que Amade Mogne, em pouco tempo começou a “ditar leis” do alto do seu metro e noventa – que na modalidade não é nada de especial – mas triunfou graças a muito talento e alguma “ratice”.

Quem se deliciou a vê-lo jogar, fazendo uma autêntica dupla maravilha com o seu irmão Naimo, que o diga! A sua geração foi de ouro, mas com um claro “deficit” de altura e peso.

O Desportivo tinha na sua equipa-base, João Paulo Vaz, Nuno Narcy, Naimo Mogne, Paris e… Amade!  Este era o “gigante” pela forma como resolvia as situações. Na selecção, o quadro pouco se alterava.

Qual era, para o Amade Mogne, o segredo para tão altos rendimentos, ao ponto de “colocarem em sentido” selecções de gabarito, como Angola e Senegal?

– Vivíamos a modalidade no sangue e no nervo. Era impressionante, as horas em que ensaiávamos jogadas “cá em baixo”, para podermos contrariar as vantagens dos gigantes que tínhamos de defrontar. Não nos sentíamos intimidados, pois usávamos as nossas armas. Muita sincronização e alguma ratice, que nos ensinavam os mais velhos, em especial o Vítor Morgado. A técnica individual e o trabalho do grupo eram muito fortes. Qualquer um atirava de qualquer ângulo.

Na Zona VI, Moçambique não tinha adversários. O basquetebol vivia noites inesquecíveis, inolvidáveis mesmo, em que as bichas para os grandes jogos, já com o pavilhão cheio, chegavam ao prédio 33 andares!

QUASE PROFISSIONAL DO BENFICA

Chegou a Portugal para abraçar o profissionalismo no Benfica, no último dia das inscrições. Os “encarnados”, que o haviam mandado avançar, já tinham os três lugares para estrangeiros preenchidos. Foi para o Barreirense “fazer tempo”, jogando até a situação ficar esclarecida. Fez vários e bons jogos, utilizando inscrições de recurso, à espera da Carta Internacional que nunca mais veio. Jogava com o passaporte. E como quem espera, desespera…

Tinha lugar no Benfica, Porto ou outro clube e contactos para jogar em Espanha. Mas queria tudo

legal. Houve propostas para mudar de nacionalidade, possibilidades de “casar” com uma daquelas

portuguesas alugadas, o que permitiria ser considerado português. Mas nunca aceitou a mudança de

nacionalidade. Se tivesse mudado, haveria de ser condenado pela política vigente.

Regressou, com alguma mágoa, pois ninguém lhe facilitou a vida. Pediram muito dinheiro pela

transferência…

Traçou então a meta para o abandono como atleta: um título nacional, para fechar com “chave de ouro”. E isso aconteceu em 1991, após os Jogos Africanos de Alexandria.

NO REINO DOS GIGANTES

O Maxaquene foi campeão de África, em 1982 e Amad Mogne escolhido para reforçar os “tricolores”. Uma experiência única, na carreira de um atleta ímpar, sob orientação do técnico norte-americano Chuck Skarshag.

Amade recorda que frente aos cubanos, a turma que mais se aproximava do nível da moçambicana, ao intervalo o Maxaquene perdia por 15 pontos. O técnico americano decidiu trocar os titulares pelos suplentes, incluindo o reforço “alvi-negro”. Começou então um verdadeiro “show” de basquetebol, que permitiu terminar esta etapa mantendo a mesma diferença do primeiro tempo.

 

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