A alta exposição de crianças à televisão pode ser uma distração para elas e um momento de alívio ou intervalo para pais e encarregados de educação cansado, ou atarefados. Mas também pode prejudicar o desenvolvimento da fala e da linguagem, de acordo com especialistas da área, do Hospital Central de Maputo.
“Quando a criança fica muito tempo atenta ao televisor acaba se desligando do resto do mundo ao seu redor. Consequentemente, ela acaba tendo dificuldades de desenvolver a fala ou se o fizer terá a tendência de imitar a linguagem da televisão”, explicou Allexis Trujillo, especialista em logofonetria.
A alta exposição ao televisor e a falta de estímulo são as razões do atraso na fala da menina de três anos e meio, cujos pais preferem preservar a sua identidade.
“Ela não fala como as outras crianças da sua idade. Ela só diz algumas palavras, mas devia estar a dizer palavras básicas, tais como, quero pão, quero doce e outras. E isso constituiu uma preocupação para nós. Por isso, procuramos por ajuda”, contou a mãe da menor, que também pediu anonimato.
Tratava-se da primeira consulta. Depois de recolher informações sobre como foi a gestação, o parto e os hábitos e costumes da menina, por exemplo, chupar o dedo, assim como examinar a sua língua, e chegar ao diagnóstico, vieram as recomendações do especialista.
“É muito importante que a menina não fique muito tempo sozinha a ver televisão. O recomendado são 15 minutos e depois fazer um intervalo. E isso deve ser sempre feito na companhia de alguém que possa explicar o que está a aparecer na tela. O hábito de chupar o dedo também é prejudicial, por isso vou referenciar-vos a odontologia. E é muito importante que a menina seja estimulada a falar. Com figuras, cores e conversas ainda que ela não perceba tudo que se está a falar. Só assim o cérebro vai desenvolver e ela vai conseguir falar”, recomendou Trujillo.
Mas o atraso na fala também pode ter causas mais graves. “Nas causas graves, temos a hipoacusia, o autismo, a paralisia cerebral e o atraso mental”, explicou Márcia Maita, terapeuta de fala.
E o atraso mental é a razão do atraso de fala de Keyla. Uma menina sorridente e com muita vontade de aprender. “Por causa do atraso mental, ela teve dificuldades para ficar de pé, sentar, andar e também não desenvolveu a fala”, explicou a mãe, Isabel Zandamela.
Passados quatro anos e meio, Keyla já faz coisas que antes constituíam uma dificuldade.
“Depois que começamos a fazer terapia, ela melhorou muito. Hoje ela já anda e fala”, disse, alegre, a mãe. E a menina de seis anos de idade já frequenta a escola. E a sua mãe garante que seu rendimento já se assemelha ao de outras crianças da sua idade.
“Ela sabe contar até 10 e também conhece o abecedário. Mas ainda tem algumas dificuldades para escrever. Ela está na primeira classe”, disse.
As sessões de terapia da fala e linguagem no HCM são quinzenais. Duram entre meia hora e 45 minutos. Numa sala cheia de brinquedos e figuras coloridas, as crianças são estimuladas a falar, a partir da categorização de animais, meios de transportes e cores.