O conflito armado entre o exército e paramilitares no Sudão já está na sua segunda semana. Desde o último sábado, vários países, através de suas representações diplomáticas, estão a evacuar os seus cidadãos. Contudo, até ontem, o Governo moçambicano ainda não tinha data para o efeito. O Instituto Nacional para as Comunidades Moçambicanas no Exterior assegurou, no entanto, que não houve moçambicanos entre os mortos e feridos.
O Sudão vive desde o dia 15 deste mês um cenário de guerra. O exército e as forças paramilitares do Sudão defrontam-se militarmente, deixando mortes e cenário de destruição. Até ao fecho desta reportagem, dados da Organização Mundial da Saúde indicavam que havia mais de 400 mortes e 300 feridos.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, existem naquele país 23 moçambicanos, dos quais 22 são estudantes. Apesar de ninguém ter sido ferido ou morto, as condições em que se encontram não são das melhores e a incerteza criada pela situação deixa-os desesperados.
O “O País” teve acesso a um áudio gravado por um deles ao seu familiar. Apesar de garantir que estava bem, o estudante, chamado Assamo Francisco, dizia que alguns estudantes relatavam dificuldades no acesso a alimentos.
“Alunos estão a sofrer. Não têm comida, não estão a cozinhar como deve ser. Como presidente, visitei alguns deles. Contaram-me que os militares entraram numa residência e danificaram o quadro eléctrico, deixando-os sem energia e dependentes de um gerador, que não podem usar sempre, porque devem racionalizar o dinheiro para comprar o combustível”, afirmou.
Os confrontos tendem a agravar-se. Desde o último sábado, vários países estão a evacuar seus cidadãos.
Neste domingo, os Estados Unidos, a França, a Turquia, o Reino Unido, entre outros países, enceraram as suas embaixadas naquele país e retiraram todo o seu pessoal, tanto civil, quanto militar.
Toda a gente de malas prontas, menos os moçambicanos, que se sentiam abandonados pelo Governo. Moçambique não tem nenhuma representação diplomática no Sudão, o que deixou os estudantes, desesperados, tendo, sem sucesso, procurado ajuda de embaixadas de outros países.
“Falámos com o embaixador da Tanzânia para nos colocar no carro que transportava estudantes tanzanianos, mas ele disse que éramos muitos e que nos levaria se fôssemos pelo menos quatro ou cinco pessoas”, disse Assamo Francisco.
Em Maputo, o “O País” procurou o Instituto Nacional para as Comunidades Moçambicanas no Exterior (INACE), instituição tutelada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que garantiu não existirem feridos nacionais. O director da instituição, Armando Muiuane, explicou que a demora na evacuação se deve, entre outros factores, a problemas burocráticos.
“São estudantes que foram para o Sudão por conta própria ou financiados por entidades que não são por nós controladas. Não são estudantes bolseiros do Instituto de Bolsas de Moçambique. Infelizmente, passamos a saber quantos é que lá estavam e que cursos estavam a fazer com esta crise. Teria sido de bom agrado que os estudantes se tivessem inscrito, feito o registo consular numa das missões diplomatas próximas de Sudão, como Cairo ou Adis Abeba e ficaríamos a saber que eles existem e nossa acção teria sido muito mais rápida em termos de preocupação com aquilo que devíamos fazer”, avançou.
Sobre a falta de apoio, o director do INACE diz que o Governo está, desde a última sexta-feira, a prestar ajuda aos estudantes, que se encontram numa universidade que oferece segurança.
“Formámos um grupo, pelas redes sociais, para facilitar a comunicação. Acompanhamos de minuto a minuto toda a actividade desenvolvida e até agora não temos informação de nenhuma baixa de nenhum moçambicano”, esclareceu.
Mesmo sem datas e locais previstos, Armando Muiuane diz que o Governo está a tratar da evacuação dos nacionais.
“Nós já devíamos ter os moçambicanos fora daquele teatro de guerra. Há constrangimentos de vária ordem, ligados à circulação de pessoas e meios de transporte. É preciso garantir que há transporte, e os transportes são pagos. Claramente, a vida é mais valiosa. Está a ser equacionado garantir-se meios. Formámos um cordão diplomático com os países vizinhos do Sudão para ver o que estariam a fazer em termos de evacuação dos seus e também procurarmos evacuar os nossos. A ideia é serem evacuados a países onde possam estar salvos e de lá para Moçambique”, explicou.
Os confrontos no Sudão entraram, esta segunda-feira, na sua segunda semana, com previsões de analistas a apontarem que o seu fim está distante.