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Wan Pone: foi há 15 anos a maior tragédia do desporto nacional

Botas de futebol espalhadas, vários CD's de música moderna, estatuetas macuas, bilhetes das LAM,s no meio de sacos de batatas e cebolas, roupas diversas, misturados com carne e miolos humanos, tudo por baixo de uma amálgama de ferros retorcidos, foi o cenário vivido, no dia 4 de Abril de 2003.

Passam agora 15 anos em que aconteceu a maior tragédia do Moçambola e do desporto nacional. Um cenário verdadeiramente dantesco, reportado a “quente”, na altura, numa deslocação feita à localidade de Cumbana, a poucos quilómetros da Maxixe.

Como tudo aconteceu

O Wan Pone, equipa estreante no Moçambola 2003, regressava de Nampula, após ter perdido por 2-0 diante da ECMEP. Numa curva, uma viatura que vinha em sentido contrário ao do autocarro em que a equipa viajava, terá encandeado o motorista, que realizou um desvio inadvertido, indo embater nas traseiras de um camião que transportava material para o empreendimento de gás de Temane. O autocarro, fretado pela Liga de Clubes, transportava um total de 26 pessoas.

Cinco jogadores, dois técnicos e outros tantos dirigentes faleceram no local. 12 Atletas ficaram feridos, alguns dos quais acabaram perecendo.

Os longos tubos do camião tinham entrado com violência pela cabina do autocarro. Alguns dos ocupantes encontravam-se a dormitar pois já era noite alta, tendo perecido praticamente sem se terem podido mover. Outros morreram nos dias subsequentes nos hospitais e muitos contraíram graves ferimentos.

Foi de imediato afastada a hipótese de alcoolismo por parte do motorista, um abstémio muçulmano com largos anos ao volante.

Oportunidade para “renascer"

Estava-se no primeiro terço do Moçambola. O que fazer a seguir?

Chorou-se os mortos, mas os vivos decidiram buscar da tragédia novas forças para honrar o sangue derramado. Após as semanas de luto, com reforços, o Wan Pone regressou à competição máxima, jogando com brio e honra para dignificar a província de Inhambane e a competição.

Realce-se que Aires Ali, então governador provincial, motivando a Sasol, esteve próximo do clube, tudo fazendo para minimizar a dor dos envolvidos, indo buscar à tragédia motivos para ganhar novas forças, de forma a não virar as costas aos desafios.

Na altura, a Liga de Clubes reuniu-se de emergência para analisar a continuidade, ou não, da equipa do Wane Pone no Moçambola, tendo sido decidido dar um prazo razoável, por forma a que o clube tivesse oportunidade de se reorganizar, dada a vontade de prosseguir na prova. Os jogos envolvendo a formação foram adiados.

Mário Coluna, então dirigente máximo da FMF, reagiu com comoção: "Recebi a notícia com muita tristeza. Custa a crer que uma equipa tenha desaparecido".

Por seu turno, Faizal Sidat, vice-presidente da FMF, referiu: "Apesar de as inscrições de jogadores terem terminado, será aberta uma excepção, para que o Wane Pone integre novos jogadores, substituindo os falecidos.

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Wan Pone: um homem que fez história

Proprietário de salinas e outros empreendimentos, criou uma equipa de futebol com o seu nome e em poucos anos, fez sucesso nos distritos de Govuro e Inhassoro. Conquistou o provincial e “maltratou” equipas tidas como favoritas no “Moçambola”. Veio o acidente de viação que ceifou a vida de uma dezena de atletas e a partir de então nunca mais foi o mesmo. Nunca mais se consolou. Passou a viver recatado e com a memória mergulhada nas amargas lembranças.

 

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