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“Vou a reforma, mas continuo a servir a Deus”

Foto: O País

Dom Carlos Matsinhe passou hoje a reforma do cargo de bispo da Diocese dos Libombos, numa cerimónia que juntou fieis, crentes, membros da igreja de África, América e Europa, bem como do Governo. Dom Matsinhe diz que deixa o cargo e não o sacerdócio.

O Presidente da República, membros do Governo e de órgãos de Soberania e várias personalidades estiveram presentes na cerimónia, que marca o fim da missão de um homem que dedicou 45 anos da sua vida ao propósito de Deus.

Milhares de crentes e líderes da Igreja Anglicana de África, América e Europa quase lotaram, neste domingo (14), o pavilhão do Maxaquene, na Cidade de Maputo, para agradecer ao criador pela vida e obras do bispo da diocese dos libombos, Dom Carlos Matsinhe, no culto de acção de graças.

Foi pelas mãos de Dom Carlos Matsinhe, presidente da cerimónia, que foi instituído Tomás Zandamela ao cargo de Vigário-geral, a quem caberá a gestão ou administração da Diocese dos Libombos até à indicação do novo bispo, num prazo de cinco a seis meses, conforme mandam as normas.

Na ocasião, o Vigário recebeu o que chamou de benção e fez seus votos diante dos fieis.

Os louvores eram de tão profunda pronúncia que envolviam a todos os presentes, acompanhados de pedidos de perdão, prostrados diante do altar.

Mas foi no momento da Homilia, dirigida pelo Secretário-geral da comunhão Anglicana, que foram destacados os feitos de Dom Carlos Matsinhe para a igreja.

“Pelo que sei, nos cinco anos em que trabalhei com ele, vejo-o como um líder humilde, paciente e que conduziu bem esta Igreja. Obrigado, Arcebispo, por tudo o que tem feito pela Igreja de Deus nesta província e nesta comunhão. Deus tem usado o Arcebispo Carlos na pregação da palavra de Deus. E à medida que ele vive, que se reforma, vimos que esta província cresceu para 12 Dioceses. Agradecemos a Deus por isso. Mas ainda há muito a ser feito”.

O culto foi, igualmente, marcado pela celebração da Eucaristia, da partilha do pão e sangue de Jesus Cristo, na sagrada comunhão, mas também de mensagens de fiéis, crentes e organizadores.

A diocese dos Libombos diz se sentir grata e emocionada por tê-lo tido como “administrador” por isso a sua mensagem é de gratidão e admiração.

“Sua passagem à reforma apenas é tão só o encarar de uma nova forma de continuar a ajudar da forma empenhada e desinteressada, como sempre o fez, ao povo e ao nosso país e de continuar a exercer o seu sacerdócio de maneira diferente, contaremos sempre com seu inestimável apoio para a glória de Deus”.

Já o Conselho Cristão decidiu não deixá-lo ir.

“Vai à reforma, mas lembramos que no cristianismo as lideranças nunca descansam, mas sim mudam de função. E neste momento, lhe nomeamos como conselheiro e formador das lideranças religiosas. Através da sua vasta experiência e abençoado no ministério, à frente da Igreja da Religião de Moçambique, oramos que Deus lhe abençoe e que possa servir na nova função, por mais 45 anos, ensinando-nos a sermos humildes, obedientes a Deus, a termos amor e perdoar, e vivermos em paz com as nossas diferenças, e que as nossas diferenças sejam uma benção.

Por seu turno, a Igreja Anglicana, Moçambique e Angola, IAMA, na qual quando Dom Carlos Matsinhe assumiu a direcção, possuía apenas quatro dioceses, sendo três em Moçambique e uma em Angola, fala de uma figura cujo legado é inquestionável.

“É um atleta cristão e deixa um legado que será de maior utilidade para a nossa diocese nos próximos tempos. Por tudo acima aludido e nesta hora em que entra para a reforma, como igreja, não seremos capazes de lhe dizer senão o que de melhor temos.

Primeiro, a nossa expressão de gratidão a Deus por nos terem prestado um ministro dedicado. Segundo, a vós pessoalmente, Dom Carlos Matsinhe, a nossa estima e gratidão pelo vosso fervor no serviço desta igreja ao longo dos 45 anos e por fim a vossa família por tê-la perdido, muitas vezes em favor da igreja”.

Da família, a mensagem não podia ser diferente e foi da filha que veio.

“Ao nosso pai, avô, irmão, padrinho, amigo de todas as horas, de forma fervorosa, dizemos obrigada por ser o nosso líder na fé, o nosso professor, o nosso exemplo de dedicação, disciplina, perseverança. Nós temos muito orgulho”.

Visivelmente emocionado, Dom Carlos Matsinhe diz que deixa o cargo ciente de obras concluídas e outras por fazer, mas de cabeça erguida.

“Alegro-me bastante pelo facto de ter contribuído, de alguma forma para o bem desta igreja, apesar de estarmos cientes de que não conseguimos fazer tudo que deveríamos ou desejamos fazer, ou coisas que por limitações humanas não podemos fazer. Saúdo e agradeço aos meus colegas e líderes religiosos”.

O Homenageado disse ainda que a sua missão na terra ainda não terminou, que está só terminará com o “último suspiro”.

“Apesar de estarmos a passar a reforma, a nossa família renova o compromisso de continuar a servir a Deus, nos caminhos que ele mesmo indicar, pois reformo da lidera e serviço activo, mas não me reformo do sacerdócio, pois esta é uma vocação de uma vida inteira”.

Ao mais alto nível, o Estado foi representado por Filipe Nyusi, cuja sua Governação coincide com o ordenamento de Matsinhe como Bispo da diocese dos libombos.

“Dom Carlos Matsinhe não é apenas um líder espiritual. Dom Carlos Matsinhe é também um irmão que sempre caminhou com os seus irmãos de fé, nas alegrias e nos desafios da vida. A sua presença constante e a sua disposição para servir a Igreja e a sociedade moçambicana refletem o seu profundo compromisso de cuidar do rebanho com amor. Com sensivelmente 45 anos de vida consagrada, podemos afirmar, sem margem de dúvida, que sua graça, Dom Carlos Matsinhe, doou a sua vida ao serviço da Igreja e de Moçambique”, disse Filipe Nyusi, destacando o papel da igreja na consagração do bem estar, da paz social, do respeito mútuo, bem como no papel de Dom Matsinhe na assinatura de acordos de Lusaka e, mais recentemente, nos de Maputo e DDR.

Não mais. O momento mais alto do evento foi quando Dom Carlos Matsinhe, diante de todos, prostrou-se e depositou no altar o Báculo e a Cruz Primacial, como sinal de entrega na reforma, depois de 45 anos de serviço à Igreja.

Dom Matsinhe foi ordenado ao sacerdócio aos 25 anos, em 1980 e desde 2014 que ocupava o cargo de Bispo da Diocese dos Libombos, em substituição do Arcebispo Dom Dinis Sengulane.

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