Maria Atália e Sabina Tembe estreiam, às 18h30 desta quinta-feira, o monólogo Pois é, vizinha, na Fundação Fernando Couto (FFLC), Cidade de Maputo. As entradas são gratuitas, desde que os interessados passem às10h da FFLC para levantar os ingressos restritos a 40 lugares.
Uma peça que custou sangue, suor e lágrimas. Para actriz Sabina Tembe e para a encenadora Maria Atália, Pois é, vizinha, é produto de tudo isso: sangue, suor e lágrimas. Mas valeu apena, dizem as artistas, afinal conseguiram alcançar um nível de qualidade e profundidade de abordagem que as satisfaz. Por isso mesmo, o monólogo para maiores de 18 anos será estreado na Fundação Fernando Leite Couto.
Mas porquê a peça custou sangue, suor e lágrimas? Primeiro, explicou Maria Atália, porque nem tudo correu como foi planificado. Sabina Tembe é casada, é mãe e trabalha. Então, foi difícil conciliar os ensaios com as tantas responsabilidades da actriz. Segundo, a história retratada na peça mexeu e mexe muito com a actriz: “Foi um enorme desafio para mim, porque há muito tempo estava parada. Voltar ao palco com um monólogo e com uma personagem que nos desperta tantas coisas, foi árduo e bom, pois ela faz-me uma terapia em mim, como mulher e mãe”.
E o desafio não foi apenas para Sabina Tembe. Maria Atália partilhou, durante o ensaio geral, na véspera da estreia, que o monólogo e trabalho com a amiga de infância trouxe muitas mudanças positivas. Por exemplo? “Eu sempre trabalhei com pessoas mais novas, que, se faltassem a um ensaio ou que não honrassem as suas responsabilidades, podia substitui-las por outras. Agora foi diferente. Além do meu irmão [Dadivo José], a Sabina Tembe é única pessoa mais velha do que eu com quem trabalhei. Com ela descobri que tenho tolerância, porque não tolerava atrasos, ausências e coisas do género. Aqui passei a perceber mais do que exigir. Saí a ganhar e espero continuar a trabalhar assim”.
Quanto à história com 50 minutos de duração, ficou pronta em 20 dias. Os que esta quinta-feira forem à Fundação Fernando Leite Couto, em parte, irão ver um monólogo sobre a personagem Maria, confinada no seu lar, trancada pelo marido que não a deixa sair de casa. Ela sofre antes de encontrar o homem que a proporciona tudo. Ou quase… Depois, descobre que a felicidade se encontra em pequenas coisas. Tenta liberta-se e afinal há um rapaz em jogo. Ela quer ser feliz, mas ao mesmo tempo quer uma vida confortável proporcionada pelo marido. “Portanto, temos aqui uma história de amor, com algum toque entre o cómico e uma provável tragédia”, afirmou Sabina Tembe.
Ora, a personagem do monólogo sobrevive quando descobre uma vizinha com quem passa a desabafar. Nada furtuito. A ideia de Maria Atália foi explorar a necessidade que o ser humano tem de se relacionar. “Ao invés de se relacionar com os seus, a protagonista está confinada, como nós e o mundo inteiro”. Em parte, está aqui um exercício que pretende ser uma espécie de um alerta: “Ainda que tenhamos tecnologia, as conversas são necessárias e indispensáveis. Mais do que nunca, temos necessidade de ter alguém que nos ouve. Há aqui uma questão terapêutica”.
Pois é, vizinha é uma peça adaptada do texto original “Una donna sola”, de Dário Fo e France Rame. A música está na responsabilidade de Edmundo Matsiyelana, e monólogo interessou Sabina Tembe, sobretudo, por despertar nos seres humanos a liberdade. “Nós podemos ser o que somos, mas precisamos de ter liberdade, e não nos fecharmos num mundo quadrado”.