Há aproximadamente 14 anos, dois amigos de Samito e Haig V diziam-lhes que tinham de se conhecer, pois já em 2007 tinham muito em comum. Nessa altura, quer o artista moçambicano, quer o canadense, desenvolviam projectos que não se cruzavam. Em Novembro de 2017, com efeito, conhecem-se e trocam impressões. Nesse ano, depois de ouvirem as suas respectivas músicas, ficou claro que podiam produzir muito bom som juntos. A aproximação aconteceu num contexto em que Samito estava a iniciar um percurso diferente, a tomar uma pausa indefinida na música, afinal, nos dois anos precedentes, tinha estado em uma digressão promocional que o obrigou a estar em Maputo para descansar. No entanto, como estava combinado que iriam trabalhar juntos, antes de viajar para Moçambique Samito deixou com Haig V um disco-duro com três álbuns em preparação.
Quatro meses mais tarde, os dois artistas começam a afunilar ideias. A certa altura, iniciam o trabalho nas músicas. A cumplicidade precisou de dois anos para amadurecer e, chegados a Novembro de 2019, ambos passavam quatro dias por semana em estúdio, do meio-dia à meia-noite, portanto 12 horas de trabalho por dia. “O que nos uniu foi um desejo de fazer música sem limites, longe da toxicidade prevalecente na área do entretenimento. Eu tinha estado a reflectir profundamente sobre como criar um projecto que mesmo operando no espaço da música, pudesse morar à periferia. E nesse sentido, SPRLUA foi concebido, antes de mais nada, como um projecto social primeiramente lançado como música, mas que pode assumir inúmeras formas, incluindo vídeo, merch, eventos digitais, e mais”, esclarece Samito, realçando que foi assim que fizeram o álbum, cujo primeiro single, “Saraevo”, será lançado em vídeo-clip para o mundo inteiro esta sexta-feira, no YouTube.
O vídeo-clip “Saraevo” foi realizado por Christian Boakye-Agyeman, tendo sido filmado na cidade de Sutton, no leste de Québec, no Canadá. A cinematografia foi confiada a Whitney Norceide. Do mesmo modo, o vídeo-clip “Saraevo” é fruto de uma colaboração com a marca Odeyalo, conhecida por produzir vestuário de qualidade.
Ora, o projecto que une Samito e Haig V, em português, tem ó título de Super Lua de Sangue de Lobo (SPRLUA), um eclipse lunar raro que tem lugar em pleno inverno. O mesmo projecto, de acordo com os artistas, simboliza o encontro de dois produtores que vivem em Montréal, cuja colaboração nos últimos dois anos foi impulsionada por um desejo comum de explorar ideias criativas fora da dos quadros convencionais da indústria musical.
SPRLUA não é um projecto tradicional, é uma plataforma que oferece espaço para as pessoas utilizarem as suas competências e conectarem-se. O objectivo do grupo é utilizarem vários pontos de contacto, incluindo vídeo, moda, plataformas digitais, meios de comunicação social e eventos ao vivo para divulgar a sua mensagem e promover o seu trabalho.
Para Samito, a parceria com Haig V ajuda principalmente a ter um segundo cérebro para compor/escrever, gravar, arranjar, produzir e misturar a música. “Haig é muito bom com a sónica, é obcecado por todos os pequenos detalhes sónicos e, para além de ser um excelente produtor, é um excelente engenheiro de misturas. Eu sou obcecado por estruturas e pela produção do que criamos. Trabalho bastante com os arranjos e notas de forma a que façam sentido e transmitam adequadamente as nossas mensagens. Assim, alternamo-nos em estúdio até que as coisas estejam certas. Ele mistura e supervisiona a masterização. Onde as suas orelhas são insuficientes, as minhas estão lá para ajudar a captar coisas que precisam de ser mudadas ou melhoradas”
Além disso, a parceria com o canadense permitiu ao moçambicano encontrar o espaço de que precisava para lidar com o aspecto empresarial do projecto. Por exemplo, a contratação e execução de todas as necessidades, o que é algo que também gosta de fazer.
O álbum dos SPRLUA será lançado em Junho.
Excerto de “Saraevo”
Se a história antiga diz que foste à capital/ Maometana irreverente e bem cristã/ Bem ortodoxa milenária e full judaica/ Não ouças nada que este people diz agora/ Se a história diz também que foste a oprimida/ Hoje eu peço que não sejas opressiva/ Não insinues que eu sou menos cidadão/ Ser imigrante também é digno de respeito”.