Toda memória que guarda sobre crise humanitária foi me passada pela minha mãe, sendo a mais agoniante a da guerra dos dezasseis anos, mas hoje sinto ser pouca coisa, o que me contaram, se comparando com o que o mundo está hoje a enfrentar e o que Moçambique poderá não conseguir enfrentar nos próximos meses. A pandemia da Coronavírus pode vir a ser a pior de todas as crises que já passamos, cá em Moçambique.
Nas peripécias trágicas da minha mãe, sobre a guerra civil em Moçambique, há, em certos momentos, donativos, ajudas humanitárias, campos de refugiados, deserções e outras artimanhas que salvava as pessoas. Mesmos nos cenários sóbrios impostos por crises que eu passei, como ciclones e cheias do ano dois mil, que fustigaram o país, nem o idai e kenneth no ano passado, houve alguma alternativa de salvaguardar a vida humana, como subidas no tecto, nas árvores, onde chegou a nascer a Rosita, ajudas humanitárias, como resgates de helicópteros, entre outras formas de apaziguar o sofrimento do povo.
Contudo, nesta pandemia do COVID-19 pode não haver nenhuma dessas ajudas humanitárias e nem donativos, tudo porque os países que bem o fariam estão a passar pelo mesmo cenário. E sem qualquer ajuda à Moçambique todos nós vamos sucumbir, quando digo todos digo-o literalmente, desde os nyongos aos insurgentes em Cabo delgado, todos nós podemos perecer dentro dessa nossa incongruente ignorância. Por essa razão, mais do que nunca somos chamados à consciência.
Tenho acompanhado todas às notícias pelo mundo a fora, a impressão que fica em mim é que, até aqui, ninguém, mesmo os chineses que se dizem estar salvos, tem domínio dessa pandemia, estamos todos cegos a tatear o invisível, enquanto uns proíbem uso de máscaras aos não infectados os outros dizem que o vírus sobrevive no ar por duas horas, ou seja, pode alguém tossir num local e um outro vir a infectar-se por passar naquele local duas horas depois, ou mesmo, o vírus pode voar ir à procura de vítimas.
Meus patrícios, perante tudo que se fala e o que se está a passar nos países como Itália, Espanha, França, agora EUA, a única alternativa que nos resta é transformar as nossas casas em campos de refugio, isso mesmo, vamo-nos refugiar em nossas casas. E por incrível que parece, vejo uma certa relutância de certos moçambicanos, estou ciente que não será fácil manter todo mundo em casa, visto que alguns simplesmente não têm casas por onde estar, ou mesmo tendo-as, sobrevivem das ruas, é aqui onde aqueles senhores que sonegam os nossos impostos são chamados a agir, a agir rápido e de forma inteligente.
Sei dos problemas que nos afectam, desde as guerras mal resolvidas com a oposição e mais essa dos insurgentes que já começa a ter rostos, é preciso encarar o cenário com mais seriedade, nada de omissões de verdades que bem podiam consciencializar e colocar um pouco de lucidez nestes moçambicanos desavisados que fazem piadas com o futuro sombrio que nos espera.
Vamos mandar os trabalhadores, dos públicos aos privados, para casa; vamos parar de encher os “tepeémis” e Chapas como se nada estivesse a acontecer, vamos paralisar os voos, dos internacionais aos domésticos, e mais o governo deve trazer medidas concretas que beneficiem o povo, como por exemplo suspender o pagamento de água e energias neste período de quarentena nacional, alguns dirão que não tenho noção do impacto económico disso, a resposta é simples: o que vale ter economia quando não há pessoas para dirigi-las, a vida humana neste momento é o que mais importa, vamos ser sérios, meus senhores.
E nada de apontar dedos a certas pessoas, fulano ou sicrano é que trouxe o vírus à Moçambique, era inevitável que o coronavírus não entrasse à Moçambique, nós somos um país dependente e estamos num contexto de globalização, o facto é que o Covid-19 já cá está mesmo sem convite, vamos pensar no que fazer antes que seja tarde.
Vamos ser proactivos. Não esperemos pelo pior, o país que temos, o nosso não-sistema de saúde não nos permite traçar planos além dos preventivos, só a prevenção nos pode salvar dessa hecatombe que está a caminho. Declarem guerra, ao COVID-19 e aos sem-convite em Cabo Delgado. Por mim já estaríamos em Estado de emergência. Já agora, mais do que lavar as mãos, lavem a mente, haja consciência disso. Tenho dito!