Por: José Paulo Pinto Lobo
(dedicado à Fernanda co-protagonista desta história, pelo seu amor às crianças e à Educação)
No tempo e nas margens do colonial Chiveve, numa escola com nome de metropolitano governador, um aluno vacila no exame oral do 2º ano liceal.
Na resposta correcta a uma pergunta final jogava-se o futuro de Cadeado na tentativa de obter a tão desejada graduação.
– Professora, um gajo pode pegar céu?
Cadeado tenta, angustiadamente, identificar gramaticalmente o termo, apelando à sua professora nesse dia no papel de examinadora, no idioma importado e complexo do qual ainda não tomou posse plena.
Membros do júri, qual donos e patrões da língua, soltam gargalhadas trocistas.
Os ignaros escarnecedores nas suas mesquinhas mentes não atentaram na grandeza e profundidade da questão, iludidos pelo nome do examinando.
Um gajo pode pegar céu?
Não é a pergunta fundamental que se coloca à Humanidade?
Comum, própria, simples, composta, concreta, abstracta, primitiva, derivada e colectiva?
Desde que a Lucy, ainda sem diamantes, perscrutou o céu.
Depois o Homem foi à Lua, a Marte e ambiciona as estrelas.
Enquanto milhões vivem o inferno e o desespero das guerras, da fome e da doença.
Pergunta ingénua mas prenhe de futuros.
– Pensa comigo – diz carinhosamente a professora. Onde está o céu?
– Ah! Substantivo abstracto.
Um gajo pode pegar céu?
Pode? Substantivamente?
Terá Cadeado conseguido agarrar o seu?
Cascais, 1 de Junho 2021