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Um CAN, uma estátua e um cajado para Dominguez

13 anos depois, o livro de registos da história de Moçambique poderá ganhar mais um capítulo. Um capítulo que, escrito de forma desapaixonada, poderá contar cada pedaço da epopeica caminhada de um povo que, através dos Mambas, exterioriza o valor da sua inalienável moçambicanidade. 

Na verdade, tudo gravita, por esses dias, em torno da selecção nacional, cuja participação em fases finais do campeonato africano de futebol que, por sinal, até prova em contrário, é a maior montra do futebol do berço da humanidade, tem sido cíclica. E é justamente nesta selecção em que encontramos um dos maiores activos do futebol moçambicano: Dominguez!

Dominguez é daqueles filhos pródigos que qualquer pai, no mínimo lúcido, poderia orgulhar-se de tê-lo feito vir ao mundo. É, também, daqueles filhos que um país cujas obras superam e soterram os egos no esgoto da irrelevância, deveria curvar-se  perante à sua grandeza.

Dominguez é daqueles jogadores que, ainda que consciente do seu descomunal talento, nunca deixou que sua grandeza falasse mais alto que a sua nação. Dito doutra forma, Dominguez sempre respondeu positivamente ao chamamento da pátria.

Nunca, em nenhum momento, vendeu a sua alma ao preço da chuva àqueles que eventualmente não tenham a sensibilidade necessária para exaltar a pátria.

Sempre vestiu as cores nacionais e as representou com galhardia e com o orgulho dos símbolos que guiam e colocam Moçambique num lugar de destaque no concerto das nações. O seu patriotismo é inalienável, é incondicional e é, acima de tudo, algo genuino que circula no manto do seu corpo.

Sempre esteve disposto a suar a estopinhas por um bem maior,  sempre esteve presente nos bons e nos maus momentos da selecção e sempre esteve disposto a lutar por Moçambique, tal como Eduardo Mondlane o fez.

É, enfim, por causa da sua exemplar postura que ele, embora nenhum ser humano reúna consenso, é aclamado por muitos. Dominguez nunca passa despercebido, pelo menos para os que acompanham o seu percurso airoso na arte de jogar à bola.

O “puto maravilha” está ligado à selecção nacional desde o limiar da sua carreira. Durante esses longos anos, muitas gerações de jogadores, muitos deles ainda à procura de um lugar ao sol, foram por ele recebidos no privilegiado e restrito espaço da selecção.

Inspirou, inspira e continuará a inspirar jovens que sonham em um dia brilhar nos grandes palcos do futebol mundial. À porta da ternura dos 40 – completa no dia 13 de Novembro -, Dominguez está no fim da sua carreira.

Poderão, talvez, pensar que, pelo facto de ter conquistado tudo ao nível de clubes, já não mais precisa de experimentar outras glórias.

Por tudo o que fez durante a sua carreira, sobretudo pelo seu sentido de pertença da nação que o viu nascer e que tanto ajudou a cada galhardete em punho a hastear a bandeira de Moçambique, merece algo maior. 

A qualificação para o CAN seria o maior presente que todos os moçambicanos do bem poderiam oferecer-lhe. Não é o suficiente, pois as suas obras não têm preço.

Ora, é o mínimo que se pode fazer por ele. Encerrar a carreira com uma presença no CAN, que em caso – acredito – de qualificação seria o segundo da sua carreira, seria também para ele, creio, uma sensação de missão cumprida com êxito.

Deveríamos, como nação, após o apito final no sábado no jogo contra o Benim, já com um lugar confirmado na Costa do Marfim, gritar em uníssono o nome de Dominguez. Claro que não será o único obreiro dessa façanha, mas essa seria a mais sublime demonstração do amor que os moçambicanos deveriam ter por ele.

Merece amor porque é com e por amor que ele soube afagar milhões de corações a cada toque, a cada vitória e, sobretudo, aos milhões de vezes que deixou cair cada gota do seu suor em campo, com o único objectivo de dar alegria ao povo moçambicano.

Mais do que um CAN, Dominguez merece, sim, uma estátua no panteão do futebol moçambicano. Merece, ainda, um cajado para que dele possa apoiar os pés franzinos na longa caminhada que o espera no pós-futebol.

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