O antigo Presidente da República e Chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana, Filipe Nyusi, falou à STV sobre a situação política na Guiné-Bissau e reitera que as eleições decorreram de forma ordeira e pacífica. Filipe Nyusi diz também não saber o que terá motivado o golpe de Estado e que o ambiente neste momento é de relativa calma.
O chefe da missão de observação eleitoral da União Africana descreveu um cenário de “elevada maturidade cívica” durante o dia da votação, sublinhando que os guineenses demonstraram vontade clara de participar num processo eleitoral pacífico, apesar do golpe de Estado que interrompeu a divulgação dos resultados.
Filipe Nyusi destacou que a missão acompanhou o processo em “todo o território, incluindo Bissau”, e constatou mesas de voto a funcionarem “com ordem, abertura pontual e contagem pública”. Segundo afirmou: “Vimos claramente que as eleições foram livres. Havia segurança discreta, não se violentou nenhum votante.”
No entanto, Filipe Nyusi relatou que o ambiente se alterou após o encerramento da votação, quando começaram a surgir informações de tiroteios próximos da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e de edifícios do Governo. A missão tentou deslocar-se ao local, mas não foi autorizada pela polícia.
“Perguntámos quem estava a disparar, contra quem e por quê. Não houve resposta. Apenas nos disseram para aguardar comunicação oficial. Pouco depois, as Forças Armadas anunciaram a suspensão do processo eleitoral”.
Face à crise, a UA, a CEDEAO e o Fórum dos Anciãos emitiram uma declaração conjunta apelando ao prosseguimento normal do processo eleitoral e ao respeito pela vontade expressa nas urnas.
Nyusi enfatizou que os observadores não interferem, apenas registam o que veem: “Não somos árbitros do jogo. Somos apenas comissários sentados na bancada. A proclamação dos resultados cabe exclusivamente à CNE”, repisou.
Apesar da tensão, a União Africana afirma acreditar que existe “espaço para o diálogo” e destacou o forte sentido de pertença nacional observado entre os cidadãos durante o processo e a solução definitiva terá de partir do povo guineense. “A solução vai depender dos guineenses. A nossa recomendação é clara: o processo deve ser concluído”.
Enquanto aguardam orientações finais, Filipe Nyusi e parte da missão permanecem em Bissau. “Estamos aqui e estamos bem. Quando algo estiver mal, comunicaremos”, afirmou.
A Guiné-Bissau continua em expectativa, enquanto a comunidade internacional segue de perto os desdobramentos do golpe e a possibilidade de retomar o processo eleitoral interrompido.

