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Trump pode derrubar o império erguido pelo presidente da Huawei

O CEO da Huawei, Ren Zhengfei, considerado uma lenda no mundo dos negócios da China, foi soldado do Exército Popular de Libertação e ganhou milhares de milhões com tecnologia.

Na enorme sede da Huawei Technologies em Shenzhen, as paredes do refeitório são decoradas com frases do fundador e presidente executivo Ren Zhengfei. O laboratório de pesquisa lembra a Casa Branca, em Washington. No local, há um lago onde vivem três cisnes negros.

Ren foi soldado do Exército Popular de Libertação e ganhou milhares de milhões com tecnologia. Para Ren, as aves servem para lembrar que é preciso combater a complacência e preparar-se para crises inesperadas. E foi o que aconteceu na Huawei. A directora financeira, Meng Wanzhou, filha de Ren, está presa no Canadá e pode ser extraditada para os EUA, após acusações de conspirar para enganar bancos e violar sanções ao Irão.

A prisão de Meng colocou a Huawei no fogo cruzado da rivalidade tecnológica entre China e EUA. O governo americano vê a empresa chinesa — grande fornecedora global de equipamentos para redes de telefones móveis — como um potencial risco à segurança nacional. Na equipa do presidente Donald Trump, alguns estão especialmente empenhados em impedir que a Huawei forneça equipamentos para a migração das operadoras americanas de comunicações móveis para a tecnologia 5G, que promete acelerar a adopção de carros autónomos e dispositivos ligados à internet.

Ren é uma lenda no mundo dos negócios da China. Sobreviveu enquanto milhões morriam de fome em consequência de políticas económicas implementadas por Mao Tse Tung e conseguiu erguer uma companhia de tecnologia que factura 92 mil milhões de dólares. A Huawei é a maior fabricante de smartphones da China e segunda maior do mundo, ultrapassando a Apple, de acordo com a consultora IDC. Embora receba menos atenção do que as gigantes chinesas da internet, as receitas da Huawei no ano passado foram maiores do que a soma das receitas de Alibaba Group Holding, Tencent Holdings e Baidu. Metade das vendas são feitas no exterior, principalmente na Europa, Oriente Médio e África.

Há anos, autoridades em todo o mundo expressam preocupação com a expansão global da companhia. Em 2008, o Comité de Investimento Estrangeiro dos EUA impediu que concretizasse uma aquisição. Mais recentemente, Austrália, Nova Zelândia e EUA vetaram ou limitaram o uso de equipamentos da Huawei. Operadoras de telemóveis do Japão também planeiam banir alguns componentes fabricados pela companhia, de acordo com uma reportagem veiculada pela Kyodo News.

A detenção e o processo contra Meng nos EUA desenrolam-se no centro de uma disputa entre EUA e China pelo domínio tecnológico nas próximas décadas — com consequências potencialmente severas para a Huawei.

Ren recusou o pedido de entrevista da Bloomberg News.

"Isto dá a Trump um trunfo para negociar", disse o economista George Magnus, do Centro para a China da Universidade de Oxford, no Reino Unido. "Ela é a filha do presidente, Ren Zhengfei, um ex-oficial do Exército, e as supostas interacções entre a Huawei e o Irão são só a preocupação mais recente entre muitas."

Se a situação chegar a tal ponto, uma proibição à compra de tecnologias e componentes americanos seria um golpe duro para a Huawei. O governo Trump impôs essa penalidade à também chinesa ZTE, mas recuou.

Um veto comercial pleno nos EUA não se aplicaria somente a componentes, mas também a software e patentes de companhias americanas, alertaram os analistas Edison Lee e Timothy Chau, da Jefferies Securities. "Se a Huawei não puder licenciar o Android do Google ou as patentes da Qualcomm em tecnologia de acesso por rádio 4G e 5G, não poderá fabricar smartphones ou estações de base 4G/5G", escreveram num relatório.

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