Quando uma criança ou jovem começa a demonstrar que no futuro terá um bom peso, mas sobretudo altura acima do normal, de imediato vem a interrogação: jogas basquete? E nem a introdução dos lançamentos triplos vieram “amenizar” as desvantagens para os baixos e menos pesados em singrar. Pois Aurélia Manave, pequena no tamanho mas grande na sua classe, ao longo de um carreira de duas décadas, conseguiu glórias e títulos, no reino dos gigantes.
Esguia como uma enguia, rapidez q. b., entrega total ao jogo, destemida e sem complexos, Aurélia Manave é(ra) um caso de estudo. Ao longo de uma carreira recheada de sucessos, soube tirar partido – e de que maneira – de atributos que para suplantavam as habituais mais valias na bola-ao-cesto. Velocidade e “raça” eram as suas armas principais. Com elas, “contagiava” toda a equipa, sendo também por isso titular indiscutível no Maxaquene e na Selecção Nacional. Mesmo sem actuar a base – lugar geralmente ocupado pelos “txotes” – realizou penetrações espantosas, ganhou ressaltos nas alturas e proporcionou jogadas empolgantes, com simulações e dribles que ainda devem permanecer na retina de muitos que tiveram o privilégio de presenciar.
A carreira de Aurélia Manave começa como a de outras crianças, mas num lugar e numa terra sem tradições no basquetebol: Lichinga. Aliás, é graças ao interesse de um núcleo a que ela e o seu irmão Aníbal, pertenceram, que na capital do Niassa se registou, nos primeiros anos pós-Independência uma apetência desusada em redor da modalidade.
Anos volvidos, já em Maputo e integrada no Maxaquene, foi chegar, impor-se e vencer. Com trabalhou, muito trabalho, até para contrabalançar a desvantagem da falta de peso e altura, tão propalados no basquetebol.
TAMANHO NÃO É QUALIDADE
Titular no Maxaquene e “cliente assídua” da Selecção, fez parte da geração de ouro da bola-ao-cesto nacional. Um grupo de atletas de elite que, mais do que espalhar o perfume do bom basquetebol pelo Continente, também obteve títulos e glórias, unindo o útil ao agradável: jogar bem e ganhar.
Os triunfos no feminino com que o basquetebol nacional sempre se impôs e se impõe no continente, mais a desmistificação de alguns tabus relativos à prática do desporto pelas mulheres, deve muito à imagem de marca deixada por Aurélia, Esperança, Joaquina Balói, Ana Paula e outras. Foram elas que, em 1991 obtiveram no Cairo, a única medalha de ouro para o país em modalidade colectiva nos Jogos Africanos.