O País – A verdade como notícia

Suspensa fábrica chinesa de reciclagem de plástico por poluição ambiental na Matola

Está suspensa a fábrica chinesa de reciclagem de plástico na cidade da Matola, província de Maputo. A poluição ambiental provocada pelas operações da empresa denunciada pelo “O País” é que ditou a suspensão. E mais: a empresa foi multada a pagar 132 mil meticais. 

Há duas semanas, a nossa equipa de reportagem denunciou poluição ambiental no bairro de Infulene, município da Matola, província de Maputo, provocada por uma empresa chinesa de reciclagem de plástico chamada Shenxian Plastic Recycling Limitada.

Defronte à empresa, havia muito lixo plástico, águas contaminadas e, do ar, o chaminé espalhava fumo tóxico. A fábrica chinesa de reciclagem de plástico na cidade da Matola, poluía o ar, o solo, a água e afectava a produção agrícola… 

Esta terça-feira, a fotografia do mesmo espaço era diferente. O lixo está a ser removido e a água contaminada retida numa espécie de tanque construído pela empresa. 

Por outro lado, as máquinas das empresas já não se ouvem. Não há mais movimento de carros e trabalhadores. Havia um silêncio fúnebre. Está suspensa, ou pelo menos devia, a fábrica chinesa de reciclagem de plástico na cidade da Matola, província de Maputo.  

Depois da reportagem de “O País”, uma equipa conjunta composta pela Agência para o Controlo da Qualidade Ambiental, Procuradoria da República, Inspecção Nacional das Actividades Económicas e o Município de Maputo foram à fábrica para fiscalizar. 

Mesmo estando legal, a equipa concluiu que a fábrica viola as normas ambientais. “Constatámos várias irregularidades, a partir do saneamento do meio, casas de banho em péssimas condições, a matéria recolhida está em frente da fábrica, os trabalhadores sem o equipamento adequado, há um pequeno sistema de tratamento de água que nem chega a ser ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais). Foi devido a estes aspectos que suspendemos a actividade”, revelou Zulfa Xavier, coordenadora de Fiscalização Ambiental na Agência para o Controlo da Qualidade Ambiental, AQUA. 

E neste período de suspensão, a fábrica deve melhorar o escoamento das águas contaminadas para que não cheguem aos campos agrícolas e aumentar o comprimento do chaminé para no mínimo cinco metros. 

Às recomendações, junta-se a multa de 132 mil meticais, que deve ser paga num período de 20 dias após a suspensão. 

A fábrica deu as caras e assumiu que não cumpria com o plano de gestão ambiental, mas diz que está a fazer diferente.  

“O trabalho que está a decorrer tem a ver com a limpeza do nosso espaço , estamos a vedar um espaço que é para tudo que tem a ver com o nosso trabalho, sobretudo a nossa matéria-prima esteja num sítio fechado e não ficar na estrada. Também, acrescentamos o chaminé, segundo a recomendação que tivemos. Estamos a fazer de tudo para não mandarmos as águas para o rio. Temos um ETAR, que está a ser construída para purificar a água”, detalhou Pérsia Mavue, representante da empresa de reciclagem de plástico.  

Neste momento, a fábrica já corre contra o tempo para corrigir os problemas detectados com vista a sua reabertura. Mas há, aqui, um facto curioso. Não foi afixado nenhum anúncio que dê conta da suspensão das actividades desta empresa. A AQUA tem uma explicação. 

“Geralmente, nós colocamos no portão. Só que na sexta-feira, o portão da empresa chinesa estava a ser reparada, mas pedimos que, depois, colocassem no portão, mas, geralmente, quando se encerra, afixa-se o auto do encerramento para que qualquer um que passe por ali, perceba que o empreendimento está encerrado ou suspenso”, justificou Zulfa Xavier. 

Entretanto, os que trazem a matéria-prima para a fábrica de reciclagem não sabem porque o anúncio não existe. São apenas informados pelos colaboradores que a fábrica está suspensa, pelo menos, oficialmente. 

Só que a suspensão da empresa é suspeita. Ainda no terreno, a nossa equipa de reportagem viu um camião que tinha sido mandado voltar porque a fábrica está suspensa, a fazer um compasso de espera numa rua arredores da empresa até à retirada dos jornalistas. 

Depois de concluir que tínhamos ido embora, a viatura arrancou em direcção à fábrica para descarregar a matéria-prima. Um dos homens que estavam no camião que continha a matéria-prima, corre, desesperadamente, para informar que a operação estava a ser vista pela imprensa,  mas em vão porque vimos tudo. 

A viatura entrou na fábrica para fazer o descarregamento. Segundo informações em nossa posse, a empresa continua a reciclar o plástico no período nocturno, mesmo depois da suspensão. 

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos