Está instalado o braço de ferro entre os sócios e a direcção do Desportivo Maputo, liderada por Paulo Ratilal. Manifestantes exigiram, ontem, que a actual direcção do clube se demita por não resolver os problemas que afligem a colectividade. Em reacção, a direcção diz que só aceita sair mediante a convocação de uma assembleia-geral extraordinária.
Vive-se um ambiente azedo no seio da família “alvi-negra”. Descontentes com a actual situação do clube, um grupo de sócios e simpatizantes tomou de assalto as instalações do clube centenário e expulsou o secretário-geral, Camilo da Silva.
De acordo com os manifestantes, a actual direcção do clube, que tomou posse em Março deste ano, deve pôr o seu lugar à disposição, para permitir que sejam realizadas novas eleições, o mais breve, para a escolha de novos órgãos sociais.
Em causa, está o não pagamento de salários, desde Abril deste ano, aos jogadores e trabalhadores do clube. Os manifestantes reclamam ainda, o alegado abandono a que a equipa e o clube estão submetidos pelo colectivo da actual direcção.
Para os associados, ao invés de inverter o cenário de crise financeira no clube, a nova direcção só veio agudizar a situação. Falam mesmo de haver desprezo aos jogadores e colaboradores.
“O Desportivo Maputo só piorou este ano. Os atletas estão com cerca de dez meses de salários em atraso. Os colaboradores e treinadores também. Não pagam, e este clube tem direcção. Se é para não fazerem nada, melhor saírem”, argumentaram.
Os manifestantes reclamaram, também, o facto de, desde a tomada de posse, a direcção nunca ter aceitado reunir com os sócios para debater a saúde do clube e encontrar soluções aos problemas que o clube centenário vive. Mesmo com o envio de várias cartas à direcção.
“Todos sabemos que há problemas. Eles quando entraram sabiam da situação do clube e prometeram soluções. Mas nunca aceitaram reunir. Enviamos seis cartas a pedir encontros com a direcção para discutir a saúde do clube, mas a nenhuma responderam”.
Para os manifestantes, o que fez transbordar o copo, foi a não participação do Desportivo de Maputo na liguilha de permanência no Moçambola. Acusam a direcção de ter tomado uma decisão importante, de forma unilateral, sem terem ouvido a opinião dos sócios.
Durante o motim se verificou, os sócios e simpatizantes invadiram os escritórios do Grupo Desportivo Maputo, nos quais encontraram alguns membros da direcção e colaboardores, aos quais foram expulsos.
Já no interior das instalações, os manifestantes decidiram pela indicação de uma Comissão de Gestão que deverá dirigir o clube nos próximos tempos, até à marcação de uma Assembleia-Geral, para a eleição de novos órgãos sociais.
DIRECÇÃO DO DESPORTIVO MAPUTO DIZ QUE NÃO SE VAI DEMITIR
Em reacção à manifestação, Danilo Liasse, vice-presidente do clube “alvi-negro” disse, em entrevista ao “O País” que a direcção já sabia que os sócios e simpatizantes do clube tinham uma manifestação agendada, o que segundo Liasse é legítimo, mas garantiu que o clube não vai tolerar desmandos.
“Quando eles chegaram estava lá o secretário-geral do clube. Ele comunicou-nos sobre a situação. O grupo ameaçou-lhe e ele teve de sair do clube. Ainda mais, disseram que iam fechar as portas do clube. Sobre isso, temos a dizer não iremos impedir que as pessoas façam manifestações, é legítimo que se manifestem, até porque estamos num Estado de Direito. Agora, quando as pessoas agem à margem da Lei, fechando os portões do clube, nós como direcção, não vamos tolerar. Vamos agir em conformidade com a Lei, solicitando os órgãos competentes para repor a ordem”, rematou Danilo Liasse.
Nisto tudo, a direcção do clube, reconhece haver incumprimentos em relação aos salários.
“Receberam, pela última vez, há mais ou menos três, quatro, cinco meses”, vagueou para depois continuar avançando que “na verdade, não é que a gente não pague os salários, mas à medida que pagamos, as dívidas vão avolumando porque não estamos a conseguir saldar as dívidas na totalidade. Mas isso não é algo estranho, não é algo que os próprios trabalhadores não saibam”, disse Danilo Liasse.
Apesar da situação, a direcção recusa demitir-se. “Esta direcção do Desportivo, que está a dirigir os destinos do clube, vai deixar claro aqui que não vai abandonar o posto por meio de manifestações, não vai. Isto está claro. Esta direcção foi eleita numa assembleia-geral, está registado em acta. Esta direcção só deixa de dirigir os destinos do Desportivo quando os sócios, em assembleia-geral, assim o decidirem”, concluiu.
Sobre a impugnação da liguilha de permanência no Moçambola, pelo Desportivo de Maputo, o vice-presidente do clube disse que a direcção não está arrependida da decisão que tomou, e esclareceu que a decisão tomada pela direcção era administrativa e que não havia necessidade de se ouvir os sócios.