Sem caso confirmados, sem prevenção, sem autoridade para impôr ordem e população sem medo, é assim como anda a vida na “capital do norte”, em pleno estado de emergência nacional decretado pelo Presidente da República através de decreto.
A vida corre normalmente na cidade de Nampula, como se a tempestade imposta pelo coronavírus tivesse passado. Em vários pontos da cidade, o distanciamento social parece não ser uma ordem de cumprimento obrigatório, e a avenida Eduardo Mondlane é disso um exemplo, onde o comércio informal flui na maior naturalidade, na margem oposta do local onde situa-se o edifício do Conselho Municipal.
Existe no local uma loja de uma das telefonias móveis que todos os dias regista aglomeração de pessoas, algumas que vão ao atendimento, e outras que são uma mistura de clientes e vendedores ambulantes de telefones celulares e seus assessórios.
Amisse Carlos Aly é um dos ambulantes. Encontrámo-lo sem máscara, a escassos centímetros de umas quatro pessoas, onde uma delas era um cliente que estava a ser convencido a comprar um telefone. Por estas alturas, pelo menos numa grande cidade como Nampula a maioria sabe que existe um vírus maligno que está a propagar-se pelo mundo e pelo país, mas quando o assunto é prevenção, a ignorância manifesta-se da forma mais cruel.
“Tenho máscara no plástico”, retorquiu o jovem vendedor ambulante ao lhe questionarmos sobre o porquê do não uso da máscara protectora.
“O vírus não anda, quem o transporta somos nós”, tem dito a directora nacional de Saúde, e apesar de estar próximo de Cabo Delgado onde os casos de coronovírus dispara, Nampula parece andar a leste, sem autoridade do Estado e muito menos do Município para pôr ordem.
Defronte do Hospital Central de Nampula também continua a verificar-se aglomerados de pessoas, à semelhança do que reportamos na semana finda. O Presidente apelou às Forças de Defesa e Segurança para não usarem força excessiva na sua actuação nesta fase, mas ao mesmo tempo pediu, na sua última comunicação à Nação, a colaboração dos cidadãos no cumprimento do distanciamento social, e até aconselhou à população para que saísse de caso em casos de extrema necessidade.
O porta-voz da PRM em Nampula, Zacarias Nacute, disse esta segunda-feira que “o não cumprimento ainda é uma situação que tira sono aos nossos membros da Polícia que têm feito a fiscalização, mas o nosso trabalho irá continuar até que todos os cidadãos na nossa província tenham consciência da necessidade de evitem aglomerados para evitar a contaminação da COVID-19”.
Entretanto, do discurso à prática a uma distancia é abismal. A representação do Estado na província também anda resignada, provavelmente por se tratar de uma área municipal, onde o presidente da autarquia tem poderes executivos que lhe são conferidos por lei e como se sabe, a cidade de Nampula é governada pela Renamo e ao que tudo indica não há coesão entre quem representa o Estado central e quem dirige a autarquia local.