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“Se o colonialismo não conseguiu calar-nos, não são nossos camaradas que vão conseguir fazê-lo”, disse Guebuza

O antigo Presidente da República, Armando Guebuza, diz que a justiça ainda não explicou por que o seu filho Ndambi está detido. Guebuza afirma que a sua família passou por várias turbulências propositadas. O antigo estadista vai mais longe ao dizer que se o colonialismo português não conseguiu vencer as nossas convicções, não serão os camaradas que vão fazê-lo.

Foi durante a sua intervenção no simpósio organizado esta sexta-feira, por ocasião do seu 80º aniversário, que o antigo estadista Armando Guebuza disse que a sua família está a ser alvo de perseguição e justificou o seu posicionamento com a prisão do seu filho Ndambi Guebuza, no âmbito do seu envolvimento nas “Dívidas Ocultas”, e o assassinato da sua filha Valentina Guebuza, que também assume ser parte do plano de perseguição.

Guebuza afirma que a justiça não consegue explicar as razões de ter o seu filho preso, mas propositadamente o mantém, como forma de atingir a sua família. Durante anos, ele e sua esposa foram postos à prova por diversas situações.

“Mas levantamos. Nós aguentamos. Somos fortes. Se o colonialismo Português não conseguiu calar-nos, vencer as nossas convicções, não são os nossos camaradas que vão conseguir fazê-lo”, disse Guebuza quando justificava a ausência de dois membros da sua família.

O antigo Presidente da República diz que, apesar do que chamou de “turbulências”, se considera um homem de sorte, na medida em que os seus pais, como muitos, não conseguiram viver por tantas décadas.

Durante as décadas de vida, escreveu o seu nome nos anais da história de Moçambique desde a sua participação em movimentos cívicos, na luta clandestina e no que chamou de “acção directa” – a luta armada de libertação.

“Pudemos, neste percurso, testemunhar a concretização de sonhos de muitas gerações anteriores de moçambicanos de verem o seu solo pátrio livre da dominação colonial, de construir com liberdade a nação ousada dos seus sonhos, de que são donos únicos e legítimos, sem receio de cometer seus próprios erros, mas também com a ousadia e coragem de corrigi-los, porque cometer erros sem os corrigir não faz sentido”, disse Guebuza, assumindo que o ser humano é susceptível a cometer erros, mas deve ter a capacidade de corrigi-los.

No pódio, diante de amigos, familiares e camaradas, Guebuza olhou para os caminhos trilhados, para a conquista da liberdade, e destacou dois principais eventos: a constituição da Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo, em 1962, e o desencadeamento da insurreição armada contra o colonialismo português, em 1964.

“Definimos a nossa luta como um processo revolucionário, prolongado e permanente, que começava por libertar a terra e os homens. Esta foi e continua a ser a missão mais exaltante que a nação delegou à minha geração. Aprendemos que a esperança e o bem-estar de Moçambique e dos moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, devem ser a causa e a razão principal do nosso combate”, disse.

Segundo o aniversariante, a história deve ser usada para corrigir e evitar alguns males no presente e no futuro. As pessoas tidas como “daquele tempo” não são ultrapassadas, pois passam os tempos, mas “um povo não morre, está sempre vivo. Passam as pessoas, mas o povo está sempre lá”, e, acima de tudo, a auto-estima e a unidade nacional devem ser o farol da “nossa” acção política.

Falando de história, destacou-se ainda a necessidade de engrandecer os feitos de quem deu o sangue para a libertação da pátria, mas através de acções.

“É terrível lembrar dos camaradas que partiram. Samora Machel já não está connosco. Alguns aqui não o conheceram. [Importa] lembrar de Eduardo Mondlane, Paulo Kankhomba, Josina Machel, todos partiram. Depois vem algum jovem, enérgico jornalista, e pergunta: é este o sonho de Samora? Mondlane?

Partiram, mas eles têm continuadores, por isso a Luta Armada de Libertação Nacional foi uma necessidade, caso contrário não estaríamos independentes, não desta forma. O que temos agora é o melhor que podemos ter. Não estou a dizer que está tudo bem. O certo é que eles partiram e nós ficamos”.

Disse mais: “Por favor, honremos a sua memória, pelo menos isso. Não brinquemos com a história deles. Pelo menos, honremos a sua história”.

GUEBUZA DIZ QUE O SEU GOVERNO RESGATOU A AUTO-ESTIMA DO PAÍS

Sobre os feitos de sua governação, Guebuza diz que, apesar dos desafios enfrentados durante os dois mandatos de governação (2005–2009; 2010–2015), o seu Governo construiu escolas, pontes, hospitais, postos de abastecimento de água e levou a energia eléctrica aonde ela nunca havia chegado.

“Através da política dos sete milhões, fomentamos a participação de todos, a partir do distrito, na economia e no sistema financeiro, porém o edifício maior de todos nós foi o resgate da nossa auto-estima. Regozijamo-nos quando ouvimos o nosso povo recusar um patrão. Não queremos mais donos. Nós somos os donos de nós mesmos”.

80 ANOS DE GUEBUZA

Mas porque o dia era de celebração, Armando Emílio Guebuza, celebra a sua vida espelhando-se nas realizações do seu Governo e nas conquistas do país, alicerçadas num povo que considera “forte e destemido”.

“Na vida, não só somamos anos, somamos experiências que nos fortalecem. O carinho do nosso povo, dos meus amigos e camaradas, da minha família e, sobretudo, o da minha companheira (49 anos de casado que juntos passamos por tudo e saímos mais fortes) são, em todo este processo, um tónico renovador”.

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